Uma oficina para a poesia
Diário da Manhã
Publicado em 25 de novembro de 2017 às 23:44 | Atualizado há 4 meses
U m poema, por mais estático que parece no papel, tem um poder de circulação inimaginável. Não pode ser encerrado apenas em livro, ele é mais. Quando uma poesia se aproxima da gente e toca em algum sentimento nosso algo muda, como uma roda que volta a funcionar. Poesia é movimento. Consegue circular de boca em boca, num livro emprestado pelo o amigo ou um versinho escrito no canto de um muro. A poesia tem que estar em movimento, em constante movimento a fim de que ela possa encantar mais e mais pessoas. Elizabeth Caldeira Brito é uma amante da poesia e também uma peça importante que mantém a poesia em Goiás em movimento. É formada e pós-graduada em Educação Física e Psicologia e mestranda em Letras pela PUC-Goiás. Publica, semanalmente, no jornal Diário da Manhã a página Oficina Poética, onde reúne poesia e artes plásticas.
O página Oficina Poética no jornal Diário da Manhã é desenvolvida por Elizabeth há três anos. Até agora são 300 edições do projeto que conta com artistas de várias partes do mundo. A maioria dos convidados são artistas residentes ou nascidos em Goiás, mas Elizabeth acredita que através da força da poesia ela pode conseguir atravessar cada vez mais barreiras. Durante esses três anos de Oficina Poética, Elizabeth publicou escritores e artistas visuais de diversos países, como de Moçambique, Peru e outras nações. O Oficina Poética pode ser visto como um grande sarau nas páginas do Diário da Manhã, reunindo poesia e artes visuais de um jeito complementar, sem que uma expressão artística invada a outra.
A persistência da Elizabeth Caldeira Brito soma-se ao talento da antologista e à visão de conjunto do que se produz em poesia e artes plásticas. Com essa soma, sua personalidade cativante põe tudo num cadinho que chega às 300 edições de sua imperdível oficina – a Oficina Poética. O ser que se dedica à poesia em Goiás só pode expressar enorme gratidão à Beth. Evoé, Elizabeth, e avante com sua missão.
( Adalberto de Queiroz, poeta)
Na “Oficina Poética” a escritora Elizabeth Caldeira Brito consegue mostrar a unidade entre a poesia e as artes Plásticas, sem que necessariamente a poesia seja a legenda da pintura, nem essa uma ilustração do poema.
Amaury Menezes, artista plástico
PERFIL
Elizabeth Abreu Caldeira Brito é natural de Goiânia – GO. Brasil. Formada e pós-graduada em Ed. Física e Psicologia é Mestranda em Letras na PUC-GO. Recebeu o Diploma de Destaque Cultural do Ano – 2009, pelo Governo do Estado de Goiás; Medalha Regina Lacerda, pela UBE-GO, categoria Folclore–2009. Deu nome à categoria Literatura do Projeto “Prêmio Sesi Arte e Criatividade”, em 2013.
No ano seguinte recebeu da República del Perú e da Universidad Peruana de Ciências e Informática del Perú, o título “Doctor Honoris Causa”. Em 2016 recebeu o Diploma de Honra ao Mérito da Câmara Municipal de Goiânia e da Associação Goiana de Artes Visuais – AGAV, por suas atividades em prol da cultura do Estado de Goiás. Recebeu o Troféu Buriti – 2017 da Secretaria de Cultura de Goiânia.
É autora de 16 livros, (sendo 6 orgs). Seus poemas foram traduzidos para os idiomas: espanhol, francês e italiano. Representa o Brasil em Encontros Culturais no Chile, Peru, Argentina, Equador e Itália.
Entrevista com Elizabeth Abreu Caldeira Brito, responsável pela página Oficina Poética:
DMRevista – Como começou seu interesse pela poesia?
Elizabeth Caldeira Brito–Eu sempre fui encantada pela poesia. Desde a adolescência eu gostava de ler, especialmente poesia. Lia tudo. Ouvia rádio, naquele tempo a gente tinha muitos poemas no rádio, então uma pessoa que marcou muito a minha vida foi o Álvaro Catelan. Ele tinha um programa onde ele mesclava a poesia e a melodia, eu ouvia e ia anotando os poemas. Eu produzia desde adolescência e guardava meus poemas.
DMRevista– Você já tem algum livro publicado?
Elizabeth Caldeira Brito–Eu tenho 16 livros publicados, alguns são organizações de poesia, antologias e etc. Inclusive, esse trabalho da Oficina Poética em três anos me propiciou fazer um catálogo. Cerca de 220 artista, entre artistas plástico e poetas. A maioria dos artistas que participam da Oficina Poética são goianos. Já publicamos poemas de europeus, escritores de Portugal, da África.
DMRevista– Onde você encontra os artistas que participam da Oficina Poética?
Elizabeth Caldeira Brito–O Facebook é um grande divulgador da arte, na verdade um grande divulgador de tudo (do que é bom e do que é ruim). Então, eu vejo muito nessas redes sociais obras que me encantam. Aí eu entro em contato, perguntando se a pessoa tem interesse de participar da Oficina Poética. O Diário da Manhã já foi tema de um programa em Moçambique. Publicamos em uma edição um poeta moçambicano e ficaram encantados. A partir daí começaram a conhecer Goiânia–nem sabiam da existência do Estado de Goiás até então. Quando ultrapassamos essas barreiras que percebemos que o trabalho tem funcionado.
DMRevista – Você acredita que existem muitas pessoas que se interessam por poesia em Goiás?
Elizabeth Caldeira Brito–Acredito que muitas pessoas leem poesia atualmente, mas poucos compreendem. A página no jornal publicada semanalmente traz cada vez mais interessados. Outra coisa importante é o acesso às escolas. Eu encontro algumas professoras que esperam o jornal de domingo para levar na segunda ao colégio, para trabalhar com seus alunos. Por exemplo, o Professor José Fernandes, doutor em literatura, ele me fala que muitas vezes eu descubro pessoas que todo mundo deveria conhecer.
DMRevista – Como você se sente realizando o Oficina Poética?
Elizabeth Caldeira Brito–É muito bom, me sinto muito bem fazendo isso. Eu escrevia pro Diário da Manhã apenas artigos–inclusive tenho dois livros publicados com esses textos. Desde 2008 eu colabora com o jornal com esses artigos. O “Permanências” foi o primeiro que publiquei. Pensei na efemeridade de um jornal, então coloquei esse título para que essas matérias permaneçam um pouco mais na memória afetiva e histórica de quem lê. E o outro eu coloquei o nome no livro de “Reverência” que era uma forma de saudar as instituições e escritores, que sempre falo nos meus textos.
DMRevista–Como você percebe o circuito literário em Goiás?
Elizabeth Caldeira Brito–Goiás é precursor em saraus. Sabemos pelos livros de histórias que homens e mulheres da classe alta se reuniram para promover esses eventos em tempos antigos. Músicas, poemas e etc. Isso ficou, por muitos anos, em estado de dormência em Goiás. Agora percebemos que algumas iniciativas particulares têm dado oportunidade para acontecer esses encontros que mesclam música, poesia e artes visuais.
DMRevista–Fale um pouco sobre o Oficina Poética, o que você tira de mais importante neste trabalho?
Elizabeth Caldeira Brito–São três anos de Oficina Poética, totalizando 300 edições até agora. Penso cada vez mais em quebrar fronteiras. Estamos fazendo agora uma parceria com escritores e artistas do Peru. Fizemos agora uma videoconferência com representantes da arte e da poesia da Universidade de Ica, no Peru. Já fizemos um convite para que eles participem da Oficina Poética. Então, a Oficina Poética vai divulgar alguns desses poetas. Também planejamos ir até a universidade em maio de 2018. Com essa oficina eu pretendo ir cada vez mais longe e também levar a poesia dos autores goianos para esses locais. No Oficina Poética, temos dois tipos de páginas para cada edição. Eu costumo chamar de “Páginas Temáticas” e “Páginas Autorais”. A temática é aquele em que elejo um tema e vou buscar poemas nessa área. Por exemplo, tenho uma das páginas que publiquei que se chama “A Arte de Viver em Prosa”, com autores escrevendo prosas sobre a vida.