Vinhos libaneses em evidência
Diário da Manhã
Publicado em 30 de novembro de 2017 às 00:22 | Atualizado há 4 mesesQuando resolvi escrever sobre os vinhos libaneses mergulhei nos livros e notícias sobre o País. Viajei em sonho. Com certeza deve ser um país incrível para se conhecer. O Líbano retornou a ser o polo de atração turística do Oriente Médio. Indico, sem restrições, este destino para a próxima viagem.
Ok, mas se o Líbano é assim tão especial, por que é tão pouco conhecido e divulgado? Acontece que o país sofreu com os anos, principalmente com as violentas guerras civis e as tensões políticas e religiosas que vemos até hoje.
Os conflitos deixaram suas marcas ao longo dos anos. A situação ficou pior ainda quando a região foi dominada pelos muçulmanos – primeiro foram os árabes, mais tarde, os turcos (Império Otomano).
Durante mais ou menos mil anos, a qualidade despencou até tirar o país da memória daqueles que bebem vinho. Os vinhos, que antes chamavam a atenção de qualquer um, foram por água abaixo. A produção se resumiu basicamente a plantações de monges e religiosos, que utilizavam o vinho em missas, e aos pequenos cultivos de Arak, um destilado de uvas muito apreciado por lá.
Até a década de 90, vinho libanês e Château Musar eram sinônimos. Com o desenvolvimento do setor vinícola, houve uma expansão das quatro produtoras existentes até 1991 para, aproximadamente, 33 vinícolas em operação atualmente, todas produzindo vinhos de alta qualidade.
A Union Vinicole du Liban (ULV) foi criada em 1997, um ano após o Líbano ter se associado ao Office International de la Vigne et du Vin (OIV). O objetivo da UVL é consolidar e construir a imagem do Líbano como país vinícola e aos produtores em conjunto manter e defender seus objetivos.
Os vinhos libaneses, por princípio, são vencedores de grandes obstáculos. Apesar das condições geográficas e climáticas perfeitas, o país está em uma das áreas mais problemáticas do mundo, com conflitos constantes, internos e externos.
Mesmo assim, de acordo com alguns amigos libaneses, os enólogos do Líbano trabalham com determinação e otimismo, sentimentos típicos do povo libanês, em geral que faz, de cada refeição, um banquete e um motivo de comemoração, regado a vinho ou arak, um destilado aromatizado com anis, produzido a partir de uvas nativas chamadas Merweh e Obaideh.
A partir da década de 1990, a indústria libanesa de produção de vinho viu um enorme crescimento, com o número de produtores crescendo de 4 para 40! Vale ressaltar que cerca de 60% da população é muçulmana, com restrição ao consumo de álcool por motivos religiosos.
Às margens do Mar Mediterrâneo oriental, o Líbano é um país de pelo menos 4 milhões de habitantes (não há censo oficial desde 1932). Mas é, também, um país marcado pelos movimentos migratórios. Somente no Brasil estima-se que os descendentes de libaneses somem mais de 7 milhões de pessoas.
A maioria dos vinhedos do Líbano está localizada no fértil Vale do Bekaa. Região de verões quentes com noites sempre frias proporcionam alta amplitude térmica e invernos rigorosos. Apesar do excesso de neve, as temperaturas não atingem números prejudiciais às videiras, apesar de serem suficientemente baixas para proporcionar as condições necessárias à produção de Icewine.
Zahle, uma cidade de 150.000 habitantes, é a capital do Bekaa, e é conhecida como a Cidade do Vinho e da Poesia.
As cepas tintas mais comuns nos vinhos do Líbano são as internacionais Cinsault, Grenache, Carignan, Mourvèdre, Syrah, Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc e Petit Verdot. Entre as brancas destacam-se Chardonnay, Muscat, Sauvignon Blanc, Sémillon e Viognier, além das nativas Merweh e Obaideh.
Produz, aproximadamente, sete milhões de garrafas de vinho por ano. Com um plantio de dois mil hectares, seus vinhedos estão localizados, na sua maioria, no Vale do Bekaa, e uma parcela menor localizada em Jazzine, mais para o vale ao sul e próxima à cidade de Sidon. Sua moderna vitivinicultura faz com que o Reino Unido, a França e os Estados Unidos sejam os maiores importadores.
É uma pena que as importadoras estejam com seus portfólios de vinhos libaneses sem renovação. Tenho um Chateau Musar 2004, você um Comte de M. Quero degustá-lo harmonizando com um pernil de cordeiro assado à moda libanesa.
Mais do que exótico, o vinho libanês costuma ser um produto de qualidade superior, que vale a pena ser experimentado e degustado! Cerca de 50% de sua produção segue para mercados de exportação, sendo os principais consumidores os ingleses, franceses e americanos. Quanto se produz? Menos de 10 milhões de garrafas, por ano.
A aproximação com a lendária “nação dos vinhos” trouxe ao Líbano variedades que se adaptaram muito bem e geram os melhores vinhos do país, como a Cabernet Sauvignon e a Merlot, ambas de Bordeaux, e a Cinsault, Syrah, Grenache e Mouvèdre, da parte Sul da França.
O resultado, em geral, são vinhos muito aromáticos (herança da Cinsault), densos e muitas vezes complexos. Cheios de especiarias (às vezes picantes), impressionam também pelas cores fortes, um vermelho quase fogo – isso acontece principalmente por causa das uvas Syrah e Grenache.
Me apaixonei no meu imaginário sobre o Líbano. Me lembrei de um namorado libanês que tive há muitos anos, que veio para o Brasil fugindo da guerra. Ele às vezes se emocionava contando histórias sobre o país. Me dizia na época, com seu sotaque carregado, que não sabíamos o que era um bom vinho, pois só tomávamos vinho alemão liebfraumilch. Que é um horror! Ele estava certo! Hoje me permiti entrar neste país sem pedir licença. Agora entendo por que o jornalista Guga Chacra fala do Líbano no jornal da Globo News sempre com emoção. Com certeza, deve ser “tudo” visitar este país.
A seguir algumas vinícolas que separei para você:
CHÂTEAU MUSAR
Em 1930, Gaston Hochar fundou o Château Musar como hobby. Hoje, dois milhões de garrafas estão em estoque, aguardando lançamento. Seu filho Serge juntou-se ao negócio em 1959, após estudar enologia em Bordeaux.
Com uma produção anual de 700 mil garrafas, seus vinhedos obtiveram a certificação de orgânicos em 2006. Suas uvas são colhidas manualmente e o mosto fermentado por leveduras indígenas. Seus vinhos necessitam de longa maturação para mostrar seu caráter único. Os tintos são exóticos, especiados, complexos nos aromas de frutas vermelhas, anis, café, chocolate, cogumelos. Os brancos apresentam aromas de abricots, figos, ervas, açúcar mascavo, óleo de laranja, com acidez e mineralidade marcantes, de extrema elegância.
CHÂTEAU KSARA
É a mais antiga vinícola libanesa, fundada há 155 anos por jesuítas franceses. Zafer Chaoui é seu presidente desde 1991. Sua produção anual é da ordem de dois milhões de garrafas, provenientes da vinificação de 348 hectares de vinhas plantadas sem o uso de herbicidas químicos. Com maciça distribuição local e internacional, detém 37% do mercado vinícola. Seus 2 km de caves subterrâneas são históricos e remontam ao tempo do Império Romano, o que a torna objeto de visitação obrigatória.
CHÂTEAU KEFRAYA
É a segunda vinícola libanesa e produz um milhão e oitocentas mil garrafas por ano. Seus sócios proprietários são o proeminente político Farid Jumblat, a família Al Sayah, e o fundador e seu presidente Michel Boustros. Seus vinhos competem com os do Château Musar em termos de qualidade. Com 121 hectares de vinhas em plantação propria, ao sul da cidade de Chtaura, complementa a sua produção comprando de viticultores contratados, e sob sua supervisão, uvas plantadas em outros 437 hectares da região e sem a utilização de herbicidas químicos.
MASSAYA
É uma vinícola boutique e foi fundada por Ramzi e Sami Ghosn, em meados da década de 1990. Tem como sócios Carlos Ghosn, presidente do grupo Renault, a família francesa Brunier e Dominic Hebrard. Seus vinhos ostentam uma imagem de serem modernos, “sexies” e excitantes. São exportados principalmente para o Reino Unido e França. Em Paris são encontrados nos hotéis Ritz, Crillon e Georges V.
Receita da Semana
Fatti de Cordeiro
A carne de cordeiro é bastante tradicional e está presente em diversas receitas das culinárias árabe e libanesa. Quem aprecia essa carne levemente macia e pouco gordurosa deve experimentar o Fatti de Cordeiro.
O preparo deste prato começa com o pernil de cordeiro mergulhado na marinada. A carne passa algumas horas mergulhada nos temperos para enriquecê-la com os sabores.
O prato é montado com arroz marroquino, pão sírio torrado, grão de bico, cordeiro cozido, coalhada fresca, alho frito na manteiga e amêndoas laminadas torradas. O prato é leve e muito saboroso.
INGREDIENTES
- 1 kg de carne de carneiro
- 500 gramas de coalhada fresca
- 4 dentes de alho amassados com 1 colher (sopa) de sal
- 2 colheres (sopa) de hortelã seca
- 500 gramas de grão-de-bico
- 2 litros de água
- 1 xícara de coalhada fresca temperada com sal e pimenta-síria
- 150 gramas de pignoli (ou pinoli) (snubar)
- 1/2 xícara de manteiga
- 4 pães pita (árabe ou sírio) torrados em pedaços
- 1/4 xícara de hortelã fresca picada
- bahar (ou pimenta síria) a gosto
- sal a gosto
MODO DE PREPARO
No dia anterior, tempere o carneiro com a coalhada fresca, o alho amassado com o sal, a hortelã seca e pimenta síria.
Cubra e reserve na geladeira.
Deixe o grão-de-bico de molho na água por 2 horas.
Cozinhe na mesma água por 20 minutos na panela de pressão ou até ficar macio.
Escorra e reserve a água.
Coloque o carneiro com o tempero numa panela e junte a água reservada. Cozinhe até amaciar.
Doure o pinhole com 1/2 colher (sopa) de manteiga e reserve.
Arrume em uma travessa o carneiro cortado em cubos.
Cubra com o grão-de-bico.
Adicione a coalhada fresca temperada.
Adicione o pão sírio torrado e o pinhole.
Numa frigideira, derreta o restante da manteiga até dourar e espalhe por cima de tudo.
Polvilhe por cima a hortelã fresca e sirva.
Caçarolas e Vinhos
CHÂTEAU MUSAR ROUGE 2004
Castas: Cabernet, Carignan, Cinsault
Álcool: 14%
Preço: R$ 196,81
CHÂTEAU MUSAR CUVÉE ROSÉ 2004
Castas: ND
Álcool: ND
Preço: R$ 79,40
MUSAR JEUNE 2008
Castas: 60% Cinsault, 20% Syrah, 20% Cabernet
Álcool: 13,5%
Preço: R$ 95,32
MUSAR JEUNE ROSÉ 2008
Castas: 100% Cinsault
Álcool: 12,5%
Preço: R$ 92,53
CHÂTEAU KSARA 2004
Castas: 60% Cabernet, 30% Merlot, 10% Petit Verdot
Álcool: 13,5%
Preço: R$ 154,90
COMTE DE M CHÂTEAU KEFRAYA 2007
Castas: Cabernet, Syrah, Mourvèdre
Álcool: 14%
Preço: R$ 278,00
Goiás já conta com um novo vinho fino produzido em terras goianas. O verão quente, seco e com noites frias, semelhante às áreas mediterrâneas, faz com que as condições climáticas do Estado de Goiás sejam propícias à produção de uvas e, consequentemente, de vinhos no Estado. Ontem, 29 de novembro, o Vinho Fino Tinto Seco Muralha, produzido pela Vinícola Serra das Galés – localizada em Paraúna (GO) – foi lançado no Salão Dona Gercina Borges, no Palácio das Esmeraldas.