O “Xerife” do Sul
Diário da Manhã
Publicado em 8 de dezembro de 2015 às 23:57 | Atualizado há 9 anosFormado nas categorias de base do Pelotas, cidade do interior do Rio Grande do Sul, o zagueiro Gustavo Bastos sempre se caracterizou por ser um jogador de raça, liderança e de vibração dentro de campo, sendo um líder também fora de campo.
Com passagens por diversas equipes do interior paulista, Gustavo chegou ao Vila no início de 2015, para ser o “xerife” da zaga colorada no projeto de reconstrução da equipe, na busca pelos acessos ao Goianão 2016 e também ao Brasileirão Série B, de onde o Vila havia saído em 2014.
E o zagueiro não decepcionou os colorados. Mostrando toda a característica, a garra e o empenho que lhe sempre foram característicos durante sua carreira, Gustavo conquistou a torcida colorada com poucos gols, mas decisivos, conquistou os corações vilanovenses, fazendo parte da melhor defesa do Campeonato Brasileiro da Série C ao lado de Édson, Vitor Pio e Vinicius Simon.
Apesar disso, Bastos não permanece no Vila Nova para a temporada 2016.
Nesta segunda entrevista do especial “Das cinzas à glória”, Gustavo fala sobre seu ano no Vila Nova e, dentre outros assuntos, sobre qual dos seus gols teve mais importância em 2015.
Entrevista – Gustavo bastos
DM: Por estar a um bom tempo parado, você sentiu alguma desconfiança da torcida na sua chegada?
GUSTAVO: Não, em nenhum momento, porque conheço meu trabalho e meu potencial e toda trajetória que eu fiz no futebol foi muito limpa e verdadeira. Estou vindo desde 2008, trabalhando em São Paulo e com 32 anos não sou um mero desconhecido no futebol brasileiro. Vim procurar meu espaço. A desconfiança que teve no início do ano não foi só em cima da minha pessoa, foi em cima do grupo inteiro porque falaram que nós não tínhamos um time para jogar a Divisão de Acesso e nós ganhamos. Isso mostrou um trabalho, um planejamento desde o dia 5 de janeiro. Então o trabalho foi bom, fico muito feliz, é muito gratificante por todo ano que tivemos aqui no Vila Nova, todo o trabalho com dois acessos e dois títulos. Me sinto feliz também pelo acolhimento do torcedor, por eles acreditarem no meu trabalho e eu acredito que eu correspondi a altura do que eles queriam.
DM: Você chegou no início do ano com o Neylor (zagueiro que foi dispensado ainda na divisão de acesso) para ser o “Xerifão” da zaga. Você se considera um zagueiro “Xerife”?
GUSTAVO: Eu, por todos os lugares em que eu passei, todo mundo sempre me respeitou, então ganhei esse rótulo, como também ganhei outros pelo meu trabalho e pela minha dedicação pelo clube. Então quando eu cheguei aqui no Vila Nova, com todo o projeto que tinha de ano, eu entrei de cabeça e sempre mostrei para as pessoas que durante o trabalho que eu fiz, que teriam de respeitar a instituição que trabalho. Sempre trabalho com seriedade, com vontade, pensando no torcedor e no clube, porque nós temos que trabalhar deste jeito. Jogadores vêm, jogadores passam e o clube vai ficar e o torcedor vai ficar, e aquela paixão tudo isso sempre existe. Então nós temos que ter muito respeito pelo torcedor, pelo clube que nos está dando a oportunidade de trabalhar e de estarmos empregados. Então eu tive essa disputa com o Neylor, com o Julio César, o próprio Vitor e muitos jogadores. Quando fez o primeiro contato, o Hugo (Jorge Bravo, diretor de futebol) queria um jogador experiente, um cara para não apenas ajudar, para jogar e ser uma peça de uma espinha dorsal do Vila Nova. Então ele contou muito comigo com isso e eu agradeço bastante por esse trabalho, correspondi a altura no gramado, encaixando uma boa sequência durante todo o ano no Vila Nova.
DM: A Divisão de Acesso do Campeonato Goiano 2015 foi uma das competições mais difíceis que você enfrentou na sua carreira?
GUSTAVO: Tem outras divisões mais difíceis. Joguei Série A, Série B de Brasileirão, Paulistão, que são níveis bem acima de uma divisão de acesso. Tivemos um marco muito grande nessa competição, que foi um clássico contra o Anápolis. Era jogo qualquer, onde se tornou um clássico e daqui pra frente se tornará um clássico sempre que o Vila jogar contra o Anápolis. Tivemos a dificuldade de um campeonato normal, embora nós tivemos um resultado negativo, o resto foram vitórias e empates, mostrou a força do Vila Nova, a força do nosso elenco, principalmente devido ao regulamento, mostrou a força da nossa base, que deu conta do recado.
DM: Houve algum momento de instabilidade que possa ter desmotivado a equipe na caminhada da Divisão de Acesso?
GUSTAVO: Não, tivemos uma Divisão de Acesso muito limpa, muito transparente, não só na Divisão de Acesso, mas no ano inteiro, tivemos uma direção muito transparente com nós jogadores. Não senti nenhum tipo de problema, não tivemos nenhum tipo de discussão ou briga dentro do vestiário, algum racha no elenco como as pessoas gostam de falar.
DM: Você se considera um jogador que motiva bastante os companheiros?
GUSTAVO: Um goleiro, um zagueiro veem o jogo de frente e isso torna mais fácil orientar o companheiro, de conversar com os atletas, porque você está vendo o campo inteiro e tendo uma leitura melhor do jogo. Sempre fui assim, aprendi muito vendo o meu pai jogar, porque mesmo jogando até de meio-campo, sempre foi um líder, capitão onde passou, e isso é uma coisa de berço. Joguei meu salão durante um bom tempo, aprimorando essa liderança e quando eu fui para o campo eu via jogadores mais experientes e as pessoas me mostrando atalhos. Todos eles me fizeram aprender mais, aprimorando essa liderança, trabalhando com um grupo, como você faz um grupo trabalhar para um clube, se engajando no perfil de todos, que é difícil, já que cada um tem um perfil diferente, cada um pensa de um jeito, são muitas cabeças para estar pensando e você consegue fazer todas pensar em um só tom, é daí que vem a liderança.
DM: O que foi falado entre vocês jogadores para driblar a desconfiança no início da Série C?
GUSTAVO: Nós sempre acreditamos no nosso trabalho. Infelizmente, 2015 foi um ano de desconfianças. O nosso primeiro jogo foi contra o Cuiabá e a desconfiança era de que a gente ia perder por 3 ou 4 a 0 para eles, pois eles tinham empatado na época com o Vasco na Copa do Brasil, ganhou uma Copa Verde e então todo mundo olhava para o nosso elenco e dizia que a gente ia perder. Nós vencemos o Cuiabá por 1 a 0 em um jogo difícil, fomos até uma final de Brasileiro e conquistamos o título, valorizando o trabalho dos atletas que aqui estavam. Então a desconfiança entre o elenco nunca houve, a única coisa é que chegaram contratações, reforços, alguns companheiros foram embora, o que é normal no futebol, mas o respeito entre os jogadores foi mantido até o final do campeonato. Isso tornou um Vila Nova vencedor, acostumado a vencer jogos tanto dentro quanto fora de casa e isso mostrou bastante o potencial de cada atleta que aqui está. Foram jo-gadores campeões, vencedores e querendo mais ainda.
DM: Você formou a melhor defesa ao lado do Simon, do Édson e do Vitor. Qual a principal virtude desta melhor defesa?
GUSTAVO: Me sinto feliz, muito lisonjeado de ter participado disso. Uma Série C difícil como foi, com equipes de alto nível, ser a melhor defesa de 20 clubes é muito gratificante, mostra o trabalho que nós fizemos. Nós sempre tivemos um trabalho de respeito. Um zagueiro ajudando o outro, o reserva ajudando o titular, o titular auxiliando o reserva para trabalhar melhor para conquistar uma titularidade. Sei que fiz um trabalho muito bom, desempenhei com muito respeito aos meus colegas, comissão técnica e direção e principalmente o torcedor, e isso dentro de campo refletiu nessa defesa menos vazada. Quem ganhou com isso foi o Vila Nova.
DM: Qual o momento mais glorioso e positivo nessa Série C?
GUSTAVO: São momentos distintos. No jogo contra a Portuguesa, a chegada ao Serra Dourada antes da partida foi uma coisa que me marcou bastante, essa paixão do torcedor, e também nossa vitória lá em São Paulo foi uma coisa que marcou bastante, pois nós tivemos um início arrasador que desmontou a equipe deles. Os pênaltis contra o Brasil também foram marcantes. Então dá para se dizer que teve muitos momentos marcantes. Posso falar que, de hoje em diante, o Vila Nova ganhou mais um torcedor, vou torcer por esse clube, estando ou não estando aqui, quando estiver de férias ou em outro clube, estarei torcendo pelo bem do Vila Nova, muito pelo seu torcedor, por tudo que ele demonstrou, seja em posto de gasolina, shopping, mercado. Eu tenho a humildade de respeitar o lado emocional do torcedor. Não quero ser conhecido como jogador e sim como uma pessoa que representa meu time. Torcedores me agradeceram pelo meu jeito de trabalhar e isso me deixa muito feliz. Agradeço muito esse torcedor, por ter me acolhido e me abraçado nesse Vila Nova, virei mais um torcedor do Tigrão e espero que esse clube um dia chegue à Série A do Brasileiro.
Gustavo Bastos na Série C
- Gustavo Nascimento Bastos (32 anos)
- Na Série C
- 19 jogos (18 como titular)
- 5 cartões amarelos
- 1 gol marcado