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Associação de mulheres prepara livro com histórias de bordadeiras

Ascoralinas oferece qualificação profissional a mulheres em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Entidade anuncia publicação com histórias de bordadeiras

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A Associação Mulheres Coralinas (Ascoralinas), da Cidade de Goiás, está envolvida em um processo que envolve criatividade e ternura: a gestação do terceiro livro da entidade. “Neste momento, estão sendo recolhidas, de forma afetiva, as narrativas das bordadeiras, num exercício de paciência para que nenhum fio fique solto e uma bonita trama nos dê conta da beleza desse ofício feito de delicadezas”, explica a organizadora da trilogia, a professora Ebe Siqueira, que também exerce a função de secretária-executiva de Ascoralinas.


		Associação de mulheres prepara livro com histórias de bordadeiras
(Foto: Divulgação)

De acordo com Ebe, a ideia de escrever e publicar a trilogia “Saberes das mãos, Narrativas do afeto” surgiu em 2019, quando foi aprovado o primeiro projeto das Mulheres Coralinas, que foi custeado pelo Ministério Público do Trabalho em Goiás (MPT-GO) e pelo Tribunal Regional do Trabalho da 18ª Região (TRT 18) e apoiado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).


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(Foto: Divulgação)

“Naquele momento, foi levantado um conjunto de receitas consideradas tradicionais da Cidade de Goiás, presentes há pelo menos três gerações na mesa dos cidadãos vilaboenses. As mestras escolhidas partilharam as receitas com a consciência de quem bem sabe que o conhecimento que não circula corre o risco de desaparecer. E as receitas nunca vêm sozinhas: em geral, surgem encaixadas em narrativas que estão para além dos ingredientes e modos de fazer”, pontua.

O primeiro livro da coleção reuniu 22 das mestras, as de ontem e as de agora, mulheres que são poemas encarnados, paisagens anônimas incrustadas no coração do Brasil.

“Agora minha história está guardada para outras pessoas saberem como eu criei meus filhos fazendo bolo de arroz e empadas, e isso me dá muito orgulho”, relata dona Juraci, uma das mestras cuja receita está no livro.

Dona Adelaide, doceira cuja receita abre o livro, chorou quando ouviu alguém ler para ela sua história, registrada em letra de forma, num livro de capa vermelha.

Dona Maria Sebastiana, também partícipe do livro, fez questão de encaminhar a publicação para os parentes que moram em outros estados – o que revela o poder simbólico que guardam os livros, como nos lembra Pierre Bourdieu.

No meio do caminho, uma pandemia

No segundo livro da trilogia foram reunidas histórias de 17 ceramistas que, juntas, encarnam a história dessa arte centenária da Cidade de Goiás. Prejudicado pelo período da pandemia de covid-19, o segundo volume pôde ser publicado somente em dezembro de 2022.

Uma espécie de árvore genealógica foi desenhada, comprovando ser do povo negro a maior influência no que ainda hoje se produz nos quintais das chamadas paneleiras de Vila Boa. O mapa afetivo construído, ouvindo as 17 entrevistadas, revela ser a cerâmica um ofício gregário, com forte viés feminino”, esclarece Ebe.


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(Foto: Divulgação)

A ceramista Luiza Pessoa, quando perguntada sobre o livro do qual faz parte, respondeu enfática: “Essa foi a coisa mais importante que já aconteceu na minha vida. Eu levei o livro para minha cama para ficar do meu lado e eu poder tocá-lo e ler muitas vezes”.

O livro das ceramistas foi dedicado à dona Conceição, associada de Ascoralinas que partiu muito cedo. Em seu nome, todos os organizadores reverenciam as mulheres pretas que modelam a história de Vila Boa desde os seus primórdios.

Santo de casa faz milagre

Os dois primeiros volumes foram publicados pela Livraria e Editora Leodegária, sediada na Cidade de Goiás, voltada à divulgação de poesia e livros de arte. O terceiro volume será impresso pela mesma editora.

A encadernação é feita no ateliê da própria Ascoralinas e todas as etapas para que as narrativas alcancem o público são feitas pelas mãos das associadas.

“A vida de todas essas mulheres importa, os seus saberes importam, e é por isso que essa trilogia faz sentido e é tão importante para a OIT, para o MPT, pois ela ajuda a redimensionar o mundo do trabalho sob a ótica feminina da economia solidária, do desenvolvimento sustentável e da justiça social”, enfatiza o procurador do Trabalho Tiago Ranieri, do MPT-GO.

“Com o apoio do MPT, da OIT e TRT 18, até a primavera de 2024 terão sido lançados três volumes, todos feitos de forma artesanal, com memórias de mulheres e de toda uma coletividade”, diz Ebe.


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(Foto: Divulgação)

Missão das Mulheres Coralinas

A Associação Mulheres Coralinas oferece qualificação profissional a mulheres em situação de vulnerabilidade socioeconômica, de modo a potencializar as condições de trabalho coletivo, possibilitando ações de capacitação, de resgate de saberes tradicionais e de convivência cultural e criativa. A entidade iniciou suas atividades em 2013 e formalizou-se como associação em 2016.

O apoio do MPT-GO e do TRT 18 à entidade, que vem principalmente na forma de custeio de cursos de capacitação/profissionalização, tem a finalidade de profissionalizar a habilidade artística de cada uma (culinária, bordado e cerâmica), de forma a agregar valor comercial aos produtos criados pelas coralinas, o que impacta na geração e/ou ampliação da renda das associadas. A OIT também é parceira dos projetos de Ascoralinas.


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(Foto: Divulgação)

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