Governo de Israel aprova ocupação da Cidade de Gaza
DM Redação
Publicado em 8 de agosto de 2025 às 09:14 | Atualizado há 3 horas
Folha Press
O gabinete de segurança de Israel aprovou um plano para que as Forças Armadas do país assumam o controle da Cidade de Gaza, poucas horas depois de o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu reafirmar a intenção de expandir a presença militar para todo o território palestino. A decisão ocorre apesar do aumento das críticas internas e internacionais à guerra, que se aproxima de dois anos de duração.
Segundo comunicado divulgado pelo gabinete nesta quinta-feira, 7, a operação faz parte da “proposta para derrotar o Hamas” e será acompanhada do fornecimento de ajuda humanitária à população que estiver fora das zonas de combate. De acordo com o jornal The Times of Israel, também deve exigir a retirada dos civis da Cidade de Gaza, onde atualmente estão cerca de 800 mil pessoas.
A ação, portanto, deverá diminuir ainda mais a área territorial em que a população de Gaza, de aproximadamente 2 milhões de pessoas, tem permissão para ficar. Além da ofensiva, a maioria dos integrantes do gabinete apoiou uma lista com cinco exigências que Israel pretende impor em troca do fim da guerra com o Hamas: o desarmamento da facção terrorista; o retorno de todos os 50 reféns ainda em cativeiro (dos quais se acredita que 20 estejam vivos); a desmilitarização de Gaza; que Tel Aviv mantenha o controle da segurança sobre o território; e a criação de um governo civil alternativo sem a participação do Hamas nem da Autoridade Palestina, que governa parte da Cisjordânia.
Horas antes de se reunir com seu gabinete nesta quinta, Netanyahu disse que pretende assumir o controle militar de toda a Faixa de Gaza e, posteriormente, entregá-la a um órgão que fará a administração civil. A declaração foi dada à emissora americana Fox News, quando o premiê foi questionado se pretende tomar controle de todo o território palestino.
“Pretendemos, para garantir a nossa segurança e retirar o Hamas de lá”, afirmou, antes de dizer que não tem intenção de governar Gaza. “Queremos entregá-la a forças árabes que a governarão adequadamente sem nos ameaçar e oferecendo aos habitantes de Gaza uma boa vida. Isso não é possível com o Hamas.”
O comunicado divulgado mais tarde pelo gabinete afirma também que um plano alternativo foi rejeitado. A proposta, segundo o texto, não garantiria a derrota do Hamas nem a devolução dos reféns. De acordo com o jornal The Times of Israel, embora o texto não dê detalhes, a proposta descartada parece ter sido apresentada pelo chefe do Exército, Eyal Zamir, que se opõe à ocupação de Gaza por temer um desastre humanitário e riscos à vida dos israelenses sequestrados, ainda mantidos no território.
Não está claro por que a declaração menciona apenas a tomada da Cidade de Gaza, não a ocupação de todo o território, como Netanyahu havia indicado ser seu objetivo. Ainda de acordo com o The Times of Israel, a ênfase na cidade localizada ao norte do território sugere que a operação será gradual, com início naquela região.
Ao reagir às falas de Netanyahu, o Hamas afirmou que os planos representam um golpe durante as negociações por um cessar-fogo e revelam a disposição do político para sacrificar os reféns em nome de seus interesses pessoais. Mais tarde, representantes da facção disseram à emissora Al Jazeera que tratariam qualquer governo civil instalado por Israel como “parte das forças de ocupação”, sugerindo que não abriria mão da guerra de guerrilha.
A entrevista de Netanyahu ocorreu após dias de tensão entre o governo e a cúpula militar, que divergem dos planos de ocupar totalmente o território. As diferenças ficaram claras em uma reunião na última terça (5) entre o premiê, seu gabinete de segurança e Zamir, o chefe do Exército.
De acordo com a imprensa israelense, Netanyahu defendeu durante o encontro que Tel Aviv tomasse completamente o território palestino, mesmo que isso colocasse em perigo os reféns sob o poder do Hamas. Zamir, por sua vez, teria afirmado que a ocupação total de Gaza era uma armadilha que poderia resultar na morte dos sequestrados.
Os relatos fizeram a extrema direita israelense criticar diretamente o militar. No mesmo dia, o filho mais velho de Netanyahu, Yair, insinuou nas redes sociais que haveria uma suposta tentativa de rebelião e golpe contra seu pai. Já Itamar Ben Gvir, ministro da Segurança Nacional e um dos mais extremistas membros do governo, afirmou que o chefe militar deveria deixar claro que cumpriria as instruções da cúpula política, “mesmo que seja tomada a decisão de ocupar e derrotar”.
Na quarta (6), foi a vez de o ministro da Defesa, Israel Katz, afirmar que os militares iriam executar as ordens do gabinete. “Depois que as decisões forem tomadas na esfera política, o Exército as executará com determinação e profissionalismo como tem sido feito até agora em todas as frentes.”
No mesmo dia, o ministro das Finanças, o extremista Bezalel Smotrich, disse a jornalistas que esperava uma decisão pelo controle militar de Gaza. Horas antes da reunião desta quinta, Zamir fez suas primeiras declarações públicas sobre as próximas etapas da guerra desde que foi nomeado por Netanyahu, em março. “Continuaremos expressando nossa posição sem medo, de forma pragmática, independente e profissional”, disse.
“Não estamos lidando com teoria estamos tratando questões de vida ou morte e a defesa do Estado, e fazemos isso olhando diretamente nos olhos de nossos soldados e cidadãos do país”, afirmou. “A cultura da controvérsia é inseparável da história do povo de Israel. Continuaremos atuando de maneira responsável, com integridade e determinação, com o único objetivo do bem do Estado e sua segurança.”
Para a ONU, uma possível expansão das operações militares de Israel em Gaza são “profundamente alarmantes”. O Ocha, o escritório de ajuda humanitária das Nações Unidas, estima que 87,8% de Gaza esteja sob ordens de deslocamento ou dentro de zonas militarizadas, o que significa que 2,1 milhões de civis estão se espremendo em pouco mais de 12% de território, que já era um dos mais densos do mundo mesmo antes do conflito.
A maior parte dos moradores foi deslocada várias vezes nos últimos 22 meses, e, na semana passada, o IPC (Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar), iniciativa apoiada pela ONU, afirmou que Gaza sofre “o pior cenário possível” de fome, com uma em cada três pessoas passando vários dias sem comer nada.
Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, quase 200 palestinos morreram de fome em Gaza desde o início da guerra, quase metade deles crianças.