Internacional

Grupo nos EUA cria comunidade só para brancos e gera debate sobre discriminação

Léo Carvalho

Publicado em 24 de agosto de 2025 às 15:22 | Atualizado há 2 horas

Entrada de um terreno nos arredores de Ravenden, Arkansas (EUA), pertencente ao grupo ‘Return to the Land | Foto: Gazette/Colin Murphey
Entrada de um terreno nos arredores de Ravenden, Arkansas (EUA), pertencente ao grupo ‘Return to the Land | Foto: Gazette/Colin Murphey

Uma iniciativa nos Estados Unidos tem chamado atenção por estabelecer uma comunidade rural destinada exclusivamente a pessoas brancas, com critérios de adesão baseados em ancestralidade europeia. Chamado ‘Return to the Land’ (ou Retorno à Terra, em português), o projeto já conta com cerca de 40 moradores e promete expandir-se para outras regiões, incluindo o estado do Missouri.

Fundada em 2023 por Eric Orwoll e Peter Csere, a comunidade está localizada no norte do Arkansas e se apresenta como uma associação privada de membros. Segundo os idealizadores, os residentes devem compartilhar valores culturais europeus, além de passar por entrevistas e verificações de ancestralidade. “Nosso objetivo é criar um espaço para pessoas que compartilham raízes e tradições culturais semelhantes”, afirmaram os fundadores em comunicado público.

Repercussão

A iniciativa, no entanto, provocou forte reação de organizações de direitos civis. A Liga Antidifamação (ADL) classificou o projeto como discriminatório e alertou para os riscos de normalização de ideologias supremacistas. Especialistas em direitos civis ressaltam que, embora o grupo se defina como associação privada, práticas que restringem a participação por raça podem ser contestadas legalmente.

Autoridades do Arkansas, até o momento, não registraram infrações legais. Segundo o procurador-geral do estado, o grupo opera sob as leis que permitem associações privadas, desde que não haja violação explícita dos direitos civis. Ainda assim, a iniciativa levanta questões sobre os limites da liberdade de associação em um país historicamente marcado por lutas contra a segregação racial e a supremacia branca.

Análise de exclusão

Analistas políticos e sociólogos alertam que comunidades desse tipo tendem a intensificar a polarização racial e podem se tornar foco de isolamento ideológico. “Mesmo que legalmente seja uma associação privada, a segregação racial, intencional ou não, contribui para reforçar divisões sociais profundas e aumenta o risco de intolerância”, explica a professora de Sociologia da Universidade de Arkansas, Melissa Carter.

Historicamente, os Estados Unidos já enfrentaram movimentos semelhantes, especialmente durante períodos de forte mobilização de grupos supremacistas brancos. No entanto, iniciativas que buscam criar sociedades exclusivas baseadas em raça sempre encontraram resistência jurídica e social, sendo amplamente condenadas por organizações de direitos humanos.

O Return to the Land representa, segundo especialistas, um teste contemporâneo para a legislação sobre liberdade de associação e os limites da discriminação racial em um país que oficialmente se declara igualitário. Enquanto o debate sobre legalidade e moralidade continua, o projeto gera alerta sobre os riscos de normalização de comunidades segregadas em pleno século XXI.


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