Israel coloca ativista brasileiro na solitária, diz família
Redação Online
Publicado em 11 de junho de 2025 às 13:41 | Atualizado há 1 dia
DANIELA ARCANJO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ativista Thiago Ávila, preso em Israel desde domingo (8) por participar de uma missão que tentou furar o bloqueio de Tel Aviv à Faixa de Gaza, foi colocado em uma solitária, afirmaram seus familiares nesta quarta-feira (11), com base em informações da advogada que acompanha o grupo.
Ele também teria sofrido ameaças de permanecer no local por até sete dias, segundo sua esposa, Lara Souza, que acompanha o caso do Brasil. “A advogada disse que isso é ilegal e ele deve sempre poder encontrar com ela”, disse Lara, de acordo com o assessor do grupo.
A medida teria ocorrido horas após a família receber a notícia de que Israel teria aceitado deportar sob novos termos os ativistas que ainda estão presos no país. A expulsão ocorreria entre a noite desta quarta e a manhã de quinta (12). Tel Aviv não confirma essa suposta mudança.
O caso se arrasta desde a noite de domingo, quando o Madleen, barco que tentava chega a Gaza com uma quantidade simbólica de ajuda humanitária, foi interceptado pela Marinha israelense a cerca de 185 km do território palestino. A missão, coordenada pela coalizão internacional Freedom Flotilla, levava 12 pessoas, incluindo Greta Thunberg.
Todas foram detidas, e quatro, incluindo a ativista sueca, foram liberadas após assinar um termo de deportação que os outros oito passageiros se recusaram a aceitar entre eles Ávila, que entrou em greve de fome nesta terça para protestar contra a prisão. Segundo o pai, o documento que eles aceitaram assinar agora é diferente.
“Eles vão assinar o termo de deportação, mas não da forma que queriam, se declarando culpados de invadir o espaço marítimo”, afirmou Ivo.
Por enquanto, os ativistas estão na prisão de Givon, na cidade de Ramla, a pouco mais de 20 quilômetros de Tel Aviv, de acordo com as últimas notícias dadas à família, que não fala com Ávila desde domingo.
O advogado que cuida do caso é do Adalah, um grupo jurídico de direitos humanos coordenado por palestinos em Israel. Segundo a organização, Tel Aviv afirmava no primeiro documento que todos os ativistas entraram ilegalmente no país, embora o barco tenha sido detido em águas internacionais e seus passageiros, levados para Israel contra a sua vontade.
Além disso, todos foram proibidos de entrar em Israel pelos próximos 100 anos, segundo a organização. “Aqueles a bordo do Madleen atuaram dentro de seus direitos legítimos ao tentar quebrar o bloqueio e entregar ajuda humanitária a civis famintos de Gaza”, argumentou a defesa.
O bloqueio israelense que o território palestino enfrenta há anos foi intensificado desde o início da guerra, em outubro de 2023. Entre março e maio deste ano, Gaza chegou a ficar 11 semanas sem receber nenhuma ajuda humanitária.
Israel justifica o cerco afirmando que o Hamas, que controla o território, estaria roubando e estocando alimentos para vender a preços elevados. Autoridades da ONU, no entanto, argumentam que não há evidências de que a ajuda internacional tenha sido desviada pela facção terrorista nos últimos meses.
As restrições deixaram Gaza em uma situação alarmante, segundo organizações humanitárias. Uma projeção da Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar (IPC), por exemplo, iniciativa apoiada pela ONU, afirma que 100% da população no território está em risco de crise alimentar e mais de um quinto da população de 2,1 milhões de habitantes está em níveis catastróficos de fome.
Com mais de 800 mil seguidores nas redes sociais, Ávila mobiliza apoio a causas ligadas à Palestina, a justiça social e ao enfrentamento das mudanças climáticas.
Ele já organizou missões para Cuba e para o Líbano, onde compareceu ao funeral do antigo líder do Hezbollah morto por Israel, Hassan Nasrallah. Ele também foi ao Irã, principal inimigo de Tel Aviv, em junho de 2024, quando participou da Cúpula Internacional sobre Gaza daquele ano, batizada de “Os Oprimidos, mas Resilientes”, a convite da embaixada iraniana no Brasil.