Pré-candidato da Colômbia morre 2 meses após atentado; pressão sobre Petro cresce a menos de um ano de eleições
DM Redação
Publicado em 11 de agosto de 2025 às 08:43 | Atualizado há 3 horas
Manoella Smith – Folha Press
O senador da Colômbia Miguel Uribe Turbay, 39, morreu após ter sido vítima de um atentado em um comício em Bogotá no dia 7 de junho. A morte foi confirmada nesta segunda-feira, 11, por sua mulher em publicação nas redes sociais.
Pré-candidato à Presidência no pleito do próximo ano, o político de direita foi baleado e estava internado em estado grave em um hospital após passar por cirurgias na cabeça e na perna. Desde então, seu estado de saúde oscilou, embora detalhes do prognóstico estivessem reservados a pedido da família.
No dia 11, os médicos chegaram a detectar sinais de melhora, mas, dias depois, o político teve de ser submetido a um procedimento de emergência devido a uma “hemorragia intracerebral aguda”. Neste sábado (9), ele havia voltado ao estado grave devido a uma nova hemorragia no sistema nervoso central, segundo a Fundação Santa Fé de Bogotá, onde estava internado.
A morte de Uribe trouxe à tona um fantasma antigo da Colômbia: os violentos assassinatos de políticos e presidenciáveis que levaram pânico à população do país nas décadas de 1980 e 1990.
O senador era, inclusive, filho da jornalista Diana Turbay, que foi mantida refém por um grupo ligado ao cartel de Medellín e morta na tentativa de resgate, em 1991 a história é relatada no livro “Notícia de um Sequestro”, de Gabriel García Márquez. Uribe era neto do ex-presidente Julio César Turbay Ayala, que governou a Colômbia de 1978 a 1982, e fazia parte do Centro Democrático, sigla liderada pelo influente ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010) apesar do mesmo sobrenome, eles não eram parentes.
O atentado também carrega um peso político e simbólico que coloca sob pressão o atual presidente, Gustavo Petro, o primeiro político de esquerda a governar os colombianos. Uribe era membro do Centro Democrático, o principal partido de direita do país, e crítico ferrenho de Petro. Opositores acusam o líder esquerdista de radicalizar o país.
Uribe entrou para a política em 2012, ao ser eleito vereador com o apoio de líderes liberais. Sua passagem pela Câmara coincidiu com o mandato de Petro à frente de Bogotá, e ele se posicionou como um dos principais críticos do então prefeito, questionando a implementação de um programa de coleta de lixo e a política social do município.
Dois dias antes do ataque, os dois bateram boca pelas redes sociais, com o presidente questionando suas críticas. “O neto de um ex-presidente que ordenou a tortura de 10 mil colombianos falando de ruptura institucional?”, escreveu o chefe do Executivo. O senador rebateu que Petro “empunhou armas e participou de um grupo criminoso”, ao se referir à guerrilha M19.
Uribe não aparecia, até o momento, como um dos favoritos na corrida presidencial. Era visto, no entanto, como uma oposição ascendente. A um ano do pleito, a Colômbia vive uma crescente polarização. O governo de Petro passou por sucessivas crises e perdas políticas, fazendo com que ele adotasse um tom mais agressivo contra seus adversários.
A derrota mais recente foi o veto do Senado a uma consulta popular para a realização de uma reforma trabalhista, uma de suas principais bandeiras de campanha. O presidente reagiu falando em fraude e convocando protestos pelo país.
O primeiro pronunciamento de Petro após o atentado gerou controvérsia e foi criticado pela oposição na noite do próprio sábado, ele fez uma postagem em que nem mencionava o nome de Uribe, referindo-se a ele como “o filho de uma mulher árabe”, em alusão à sua mãe.
“Ah, a Colômbia e sua eterna violência. Eles querem matar o filho de uma mulher árabe em Bogotá, que já havia sido assassinada, e não se deve matar no coração do mundo. Eles matam o filho e a mãe”, escreveu o presidente. O ex-presidente Andrés Pastrana (1998 a 2002) acusou Petro de “semear o ódio” e “incitar a violência” contra a oposição.
O discurso foi reproduzido pelo secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, que condenou “nos termos mais veementes” o ataque e o atribuiu à “retórica violenta da esquerda”.
Até mesmo a atual chanceler Laura Sarabia, que já foi chefe de gabinete de Petro e considerada uma espécie de braço direito dele, abordou a relação entre a retórica e a violência.
“Esse atentado é um chamado às nossas responsabilidades, nos compromete a trabalhar incansavelmente para corrigir nossos erros, para desescalar o discurso que incita o ódio e e ira, em público e em privado”, disse a ministra em um vídeo compartilhado no domingo.
Petro depois condenou o ataque de forma mais objetiva e prometeu “caçar os responsáveis”. Ele também apoiou os atos pelo fim da violência que se espalharam pelo país. Mas não deixou de rechaçar o que classificou de “tentativas de uso político” do episódio. “Os padrões do crime repetem os padrões da morte da maioria dos líderes políticos da Colômbia”, declarou.
Desde então, autoridades colombianas prenderam seis suspeitos de terem participado da tentativa de assassinato, incluindo o próprio atirador, um adolescente de 14 anos, e Elder José Arteaga Hernández, conhecido como El Costeño e suspeito de planejar o atentado.
O mais recente detido, no dia 18 de julho, foi Cristian Camilo González Ardila, acusado de tentativa de homicídio qualificado e fabricação, tráfico, porte ou posse de armas de fogo. De acordo com a imprensa local, ele supostamente seria o responsável por matar o atirador que disparou contra Uribe, mas fugiu de moto antes de abrir fogo devido à comoção no local. O autor intelectual do crime ainda não foi identificado.
O ministro da Defesa, Pedro Sánchez disse que há várias hipóteses: uma delas é que se tratava de uma mensagem contra o partido Centro Democrático. Outra versão é que se trataria de uma tentativa de desestabilizar o governo de Petro. O ministro também pediu que o episódio não seja usado para fins políticos.
Dias após o atentado contra Uribe, a violência escalou ainda mais no país com uma série de ataques com fuzis e explosivos, incluindo carros, motos e ônibus-bomba, que mataram sete pessoas na cidade de Cali e em municípios vizinhos.
O Estado-Maior Central (EMC) principal dissidência das extintas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e liderada por Iván Mordisco, o criminoso mais procurado do país atua na região e mantém uma guerra contra Petro.
Sem assumir a responsabilidade pelos ataques, os guerrilheiros do EMC emitiram um comunicado orientando civis a não se aproximarem de bases militares e policiais.
Os ataques ocorreram no mês do aniversário da morte de um dos principais líderes dos dissidentes, Leider Johany Noscué, conhecido como Mayimbú. Ele foi baleado em um confronto com a polícia em 2022.