O Profeta do Óbvio
Redação DM
Publicado em 31 de outubro de 2022 às 14:31 | Atualizado há 3 anos
Não
gosto desta história de: “eu te falei. Te avisei…” mas é patente a situação
em que nos metemos. Eu já brincava sobre a profecia do óbvio. “Descemos
a tal um ponto que a reafirmação do óbvio é o primeiro dever dos homens inteligentes.”
(George Orwell). Mas se os anos foram me envelhecendo e me tirando a pujança da
juventude, pelo menos me deram sabedoria para avaliar os fatos. “Não é
preciso ter olhos abertos para ver o sol, nem é preciso ter ouvidos afiados
para ouvir o trovão. Para ser vitorioso você precisa ver o que não está visível”
(Sun Tzu). Mas é fácil profetizar o óbvio.
Parabenizo
os bolsonaristas ou lulistas pelo resultado das eleições, que se diga, foram
limpas e transparentes (apesar dos comentários pueris e verdadeiramente desnecessários.
Ninguém prova o contrário). Lamento ver meu país dividido pelo populismo
retrógado e destrutivo. É grotesco comprovar que a briga se trava por objetivos
pessoais e não em busca de melhorar o país como um todo. Há muito venho falando
que ambos os grupos faziam campanha para o mesmo candidato, o Lula (agora
presidente eleito). Creio que foi mais pelo medo, do que por reconhecer um
projeto de governo, que nunca existiu. Também não sei mensurar o quanto de má
fé estava envolvida. Como diz um grande amigo e advogado: “quando ganho uma
causa, tem que se agradecer o advogado contrário. Que foi incompetente e não
venceu”. Apoiar um candidato claramente incapaz (inapto e inepto) e com alto
índice de rejeição, inviabiliza qualquer candidatura. Foi um erro crasso, erro
capital. Era claro que a Esquerda iria deixar o Bolsonaro “sangrar”, se
desgastando a cada manifestação verbal (como fez várias vezes nestes 3 últimos
anos. Um boquirroto), até o final do governo e derrotá-lo de forma triunfante e
vexatória (elegeram de forma bizarra, um “descondenado”!!! Como pode um presidente
em exercício ser derrotado nas urnas por alguém tão nefasto???!!! Investiu-se
bilhões de reais do dinheiro público numa campanha histérica, desesperada e sem
sucesso). Era o sonho de consumo do PT e da Esquerda. Como dizia Napoleão
Bonaparte, “não interrompa seu adversário, enquanto ele estiver errando”. Mas a
Direita, que ainda é incipiente no mundo e praticamente acéfala no Brasil,
optou por insistir no erro. Caímos na armadilha mais evidente das eleições… “Estupidez é saber a verdade, ver
a verdade, mas ainda acreditar na mentira. ” (Richard Feynman). E a Direita acreditou. Se iludiu. Como se não
tivesse tido o exemplo disto em outros países. Em outras eras. “Aqueles que não conhecem a história estão fadados a repeti-la”
(Edmund Burke, grande pilar da Direita).*
Demos um passo
importante em 2018, quebrando a hegemonia da Esquerda. Mas com qual objetivo? Não
soubemos aproveitar a oportunidade para desenvolver uma ideia de prosperidade,
baseada numa sociedade unida e em busca de uma nação independente. Agora
entregamos, “de bandeja” e de forma infantil, o governo para a mesma Esquerda,
antes execrada e expurgada do comando do país. Esquerda que atualmente está
mais escolada e experiente, e creio, saberá conduzir melhor, o famigerado projeto
de Poder iniciado no começo dos anos 1970 (talvez antes. Mas de forma
consistente no Brasil, desde esta época), e estruturada para se perpetuar no
governo. Era claro que tínhamos que ter evoluído. Com um candidato mais
preparado, mais empático e com baixa rejeição. Ter dado crédito aos planos dos
opositores e nos precavido. “Não há inimigo insignificante” como
propagava Benjamin Franklin. Mas ficamos isolados no pedestal da arrogância
misturado com ignorância e caímos no ostracismo dos derrotados.
A memória do povo é
curta, o que fez com que a população esquecesse as mazelas da corrupção dos governos
do PT e se lembrassem somente do recente desgoverno e amadorismo do governo Bolsonaro.
O que me faz citar mais uma vez o que acho ter sido a lógica do povo: “Os homens mudam de senhor com prazer, pois acreditam que melhorarão;
tal crença os farão tomar as armas contra o antigo, cometendo um erro, pois
veem, depois, com a experiência, que pioraram. ” (Niccolò Machiavelli). O
presidente, com suas “bolsandices”
histriônicas e esdrúxulas, além do desapego à liturgia do cargo que
ocupava, criou uma grande antipatia e sacramentou a polarização. Abraham
Lincoln falava isto com clareza, parafraseando o provérbio bíblico 17:28: “Melhor
permanecer calado e que suspeitem de tua insensatez, do que falar e eliminar
toda a dúvida disso”. Por que não abraçou o povo em sua totalidade?
O presidente preferiu o embate à negociação. Dividir a unir. Criou muros ao
invés de pontes. Esperou “pintar um clima”??? Acreditou ser mito… que
cretinice (no sentido literal da palavra). Não fosse a vaidade inflada (e a
vaidade, se não te prejudica, pelo menos te apequena), Bolsonaro poderia ter
abdicado da reeleição (numa atitude realmente patriótica e ideológica),
deixando um candidato com baixo índice de rejeição e com capacidade administrativa,
o fardo de enfrentar uma Esquerda articulada e apoiada em um personagem
caricato, Lula (que também tem alta rejeição e cleptocrata declarado). Teríamos
nós, a Direita séria e progressista, uma chance maior e verdadeira de vitória.
Mas como diria Nelson Rodrigues: “o ser humano é cego para os próprios defeitos. Jamais
um vilão do cinema mudo proclamou-se vilão. Nem o idiota se diz idiota. Os
defeitos existem dentro de nós, ativos e militantes, mas inconfessos. Nunca vi
um sujeito vir à boca de cena e anunciar, de testa erguida: – Senhoras e
senhores, eu sou um canalha”. Depois de negligência (cloroquinas,
vacinas), completa falta de empatia (não sou coveiro?!?!?!? E daí?!?!?!?), corrupção
(MEC, vacinas, “rachadinhas”, família envolvida em denúncias), condutas milicianas
(imóveis inexplicáveis e conluios), combater os governadores e se render ao
Centrão, ocultação de informações públicas com decretação de sigilo secular, indicações
pífias para o STF, falta de planejamento econômico, o destino seria o mesmo do
governo do PT em 2018 e daqueles que descumprem todas as promessas, a derrota
amarga. O povo preferiu o absurdo do Lula ao absurdo do Bolsonaro. “Por
amor ao passado o Brasil perdeu o presente, e comprometeu o futuro” (Roberto
Campos).
A Direita de forma incerta e amadora, investiu erroneamente no
divisionismo, nas notícias falaciosas, as famigeradas fakenews, na propagação da violência e tentativa de quebrar as
instituições. Investiu no erro, foi obtusa. “Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo,
não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece, mas não
conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você
não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas” (Sun Tzu). Hoje nos resta a torcida para que Lula não tenha
condições físicas de governar e que Alckmin assuma os destinos da nação, com
uma agenda mais ao Centro. Caso contrário perderemos mais 4 anos, quiçá muito mais…
Sabe do que lembro e como me sinto, quando vejo a trajetória dos ingênuos
“bolsominions” (esta parcela da sociedade, que emergiu, acreditando serem paladinos
da justiça, mas com visão distorcida do que é patriotismo e regras. Além de uma
notória limitação sociocultural binária. Queriam subverter a lógica de que a
lei é para todos e não só para os outros, demonstrando uma séria dissociação
com a realidade) envoltos em uma bolha de desinformação (que fique a lição: quem menos
entende da água é o peixe.)? Lembro do Taylor (Charlton Heston), em O
Planeta dos Macacos, na cena final. Ele, se ajoelha e brada: “eles
conseguiram, os idiotas destruíram tudo”, batendo com o punho cerrado na
areia. Então, olha para cima, contemplando um objeto e só então, um plano geral
da cena, com ele à beira mar, diante da Estátua da Liberdade enterrada na
areia. Constatando o fim da esperança de voltar à civilização humana (que havia
se autodestruído). Para nós foi a desconstrução da Direita, com um governo incapaz
e em busca de manter os 20-30% de eleitores fieis. Muitos deles extremistas fanatizados.
Depois de tantas atitudes erráticas, violência, “motociatas” (isto não é
atitude simpática aos mais carentes, que não sabem se terão condição de comer e
subsistir. É um “tapa na cara” destas pessoas. Falta de respeito, de compaixão
e de comprometimento com o maior grupo da população, a base da pirâmide social).
“O olhar, o gesto podem fazer muita coisa: mas só a alma pode
comover.” (Machado de Assis). Me recordo dos ensinamentos políticos que
tive na minha infância e juventude no interior de Minas Gerais (escola
inigualável de vida e de política), quando o político usava propositalmente, um
sapato com a sola furada. Fazia questão de sempre sentar-se diante de seus
eleitores e cruzar as pernas, expondo o desgaste do solado. Com isto deixava
claro que andava muito pela cidade (insinuando trabalho árduo), que não era
apegado às coisas materiais e que estava em condições similares ao do povo (que
muitas vezes nem tinha calçado). A cambaleante Direita nacional mostrou que não
entende de política e nem de povo. Às vezes até os ignora. Baseou-se no caos,
na violência, na barbárie ao invés da harmonia, na antipatia ao invés do acolhimento.
É hora de mudar. De ver o Brasil como ele verdadeiramente é.
Como faz
falta um Roberto Campos, um Pedro II, um R. Reagan, um W. Churchill, uma
Thatcher… um estadista de verdade. Com ideais republicanas e imbuídos de
construir uma nação melhor. Com inteligência e altruísmo. Evitando os mesmos e
repetidos erros. Perdendo repetidamente, oportunidades… “Existem três
tipos de povos (nações): as de seres superiores, que aprendem com o erro das
outras; as de indivíduos medíocres, que aprendem com os próprios erros; e as
compostas por idiotas, que não aprendem nunca!” (adaptado de Platão, por Bismark).
Mas temos que falar de ideias.
“Pessoas elevadas falam de ideias; pessoas medianas falam de fatos; pessoas
vulgares falam de pessoas. ” (Leandro Karnal). A origem da divisão entre
Direita e Esquerda advém da Revolução Francesa. Os Girondinos – representantes da alta burguesia,
defendem posições moderadas, ocupavam o lado direito da Assembleia Nacional
Constituinte. Já os Jacobinos –
pequena e média burguesia e proletariado urbano, que assumem posições mais
radicais em benefício das classes oprimidas, sentavam-se à esquerda da mesma
Assembleia. Mas o pensamento mais à Direita foi
construído, ao longo do tempo, centrado na figura do indivíduo e de suas
liberdades. Ele prega que a sociedade será tanto melhor se as pessoas tiverem
ampla liberdade e tomarem suas decisões individualmente. Pessoas desse campo
político “tendem a acreditar que cabe ao indivíduo solucionar os próprios
problemas com interferência inexistente ou mínima do Estado”. Já o pensamento à
Esquerda moldou-se sob a ideia de coletividade e de intervenção do Estado,
especialmente de forma a minimizar as diferenças socioeconômicas. Por isso,
hoje, enquanto à Esquerda vemos pessoas engajando-se em prol de minorias
sociais, por exemplo, a Direita aposta mais em questões de mérito e luta
individual. Eu tenho o pensamento de Direita inserido no meu DNA, penso
como R. Reagan: “Os comunistas são as pessoas que leram Marx e
Engels, os anticomunistas são aqueles que entenderam”. Mas estes esquerdistas
estão organizados e capitalizados, além de perceberem os anseios da maioria
população. Mais uma vez Maquiavel nos ensina com 5 séculos de antecedência: “Porque a todos é concedido ver, mas a poucos é dado
perceber…”
Bem…, sou como Nietzsche “o que não provoca
minha morte faz com que eu fique mais forte.”. Sou brasileiro e verdadeiramente
patriota. Radicalmente de Direita, mas nunca da Direita radical. Não desisto
nunca. Vou recomeçar do zero, e penso que todos que comungam comigo deste
ideal, a fazerem o mesmo. “Se não nós, quem? Se não agora, quando? ” (Ronald Reagan. Citação baseada em um trecho de Hilel, o Ancião.) Elucidar nossas ideias e seguir exemplo de persistência como
Dalai Lama, que
afirmava que “devemos gerar coragem igual ao tamanho das dificuldades que enfrentamos”.
Temos que explicar que tivemos um governo anarquista e que um governo
de Direita é diferente do que foi proposto e realizado. Não é convencimento,
pois “aprendi a não tentar convencer
ninguém. O trabalho de convencer é uma falta de respeito, é uma tentativa de colonização
do outro”, como diria José Saramago. Mas temos que informar, de forma
verdadeira e correta.
A Direita é civilizada, ordeira e
respeitadora dos costumes e das instituições. Temos um marco civilizatório a
instituir e que seja em paz e com argumentação forte, séria e coerente. A
violência é a arma dos ignorantes e tenho que concordar com Einstein, quando diz: “A violência fascina os seres moralmente mais
fracos. Um tirano vence por seu gênio, mas seu sucessor será sempre um rematado
canalha”. Não
podemos cair no erro da teocracia, da desinformação, do confronto, do populismo
e o pior, do projeto pessoal de poder. A proposta de uma nação independente e autossuficiente,
transcende as escolhas e simpatias individuais. O objetivo pela coletividade
deve imperar. Pelo progresso e bem-estar social, baseado na meritocracia, elevando
os padrões de qualidade de vida e aumentando as oportunidades ao povo em geral.
Estimular a cultura e a justiça real para todos, promovendo a evolução da
espécie. Da humanidade como um todo. Temos que governar com a maioria, mas
acolher as minorias, os mais fracos, os que foram discriminados, os esquecidos,
todos que precisam de amparo. Caso contrário nunca seremos verdadeiramente uma
Nação.
Eu estou certo que bem vencerá. Esta
boa luta logrará êxito e em breve.
João J.
Nassaralla Jr.
Médico
Oftalmologista. Doutor em
Oftalmologia pela UFMG. Doutor em
Ciências da Saúde pela UnB
*quem me pergunta por que faço tantas citações, esta é a resposta. O
passado nos orienta para o futuro. “A
história é absolutamente fundamental para um povo. Quem não sabe de onde vem,
não sabe para onde vai.” (Dom Bertrand de Orleans e Bragança)