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Crise não morde mercado de alimento premium

Aldo Bergamasco Especial para  Opiniãopública

Elevação de taxa de juros, estagnação da economia, volatilidade do dólar. Nada disso é suficiente para desaquecer o mercado de alimentos e bebidas do tipo premium. Cervejas gourmet, vinhos finos, sucos funcionais, chocolates de origem nobre, massas produzidas com grãos importados, cafés especiais, entre muitos outros, já fazem parte da mesa dos brasileiros das classes A e B e continuarão a fazer.
Cada vez mais, as empresas oferecerão produtos e serviços premium como substitutos para compras comuns. São produtos melhores, mais caros e com grande variedade de nicho de mercado. É o que pontua o estudo da consultoria Bain & Company, que indica quais são as oito tendências que adicionarão, até 2020, US$ 27 trilhões de dólares ao PIB mundial. E esta é uma tendência em alta também no Brasil apesar de todos os reveses econômicos.
Um bom exemplo é o mercado de cervejas. As cervejas especiais vêm crescendo acima da categoria como um todo. Segundo dados da consultoria britânica Mintel, o volume de vendas dessas bebidas cresceu 36% entre 2010 e 2013, passando de 280 milhões de litros para 380 milhões. O dado inclui as cervejas artesanais e premium nacionais e internacionais. De vários tipos, saborizadas, embaladas em garrafas e latas luxuosas, vieram para ficar.
E não é difícil entender o motivo. A onda gourmet ainda não tem penetração suficiente para ter saturado as classes A e B, seu público-alvo. No Brasil, o poder de compra das duas juntas é igual ao da classe C inteira. Qualquer um da classe A e B pode comprar um sorvete de R$ 8, mas muitos ainda não experimentaram, especialmente fora das principais capitais. Se para compensar o aumento de energia um sorvete passar de R$ 8 para R$ 9, não haverá alteração na demanda. Se custar R$ 10, então, melhor ainda, pois o consumidor não precisa esperar o troco.
E o que faz esse consumidor classe A/B continuar louco por novidades e produtos sofisticados, mesmos em momentos de nervosismo? A vontade de experimentar, de ser diferente, de mostrar que é viajado, que entende de vinho e de cerveja, que é cosmopolita. Se o dólar subir e ele viajar menos, vai ter mais dinheiro para fazer jantares sofisticados em casa, usando a varanda gourmet. Some-se a isso o fato de os produtos normais estarem muito caros. Então fica mais fácil partir para a gourmetização.
Por outro lado, as empresas continuam e continuarão investindo em pesquisa e desenvolvimento de premiuns por um motivo inabalável: esses produtos têm margens de lucro mais altas. Não são commodities que competem com preço. São iguarias que chamam a atenção nas gôndolas por outros motivos, como sabor diferenciado e original, embalagem sofisticada e, é claro, a entrega de glamour que oferecem ao consumidor.
Um excelente termômetro do quanto este mercado continua aquecido é o número de posições de executivos que têm sido demandadas, especialmente para profissionais especializados em desenvolvimento de negócios, tributos, logística e, é claro, marketing. Muitas empresas estão criando agora, em pena crise, seu departamento de produtos diferenciados.
Mas os profissionais que se especializaram em mercados commodities, a crise também pode ser oportunidade. Vender o comum será mais difícil e as empresas buscarão aqueles que sabem fazer isso como ninguém. Dentro de casa, os profissionais de supply chain, controladoria, processos internos e operações vão ter que sambar este ano para compensar todos os problemas pelos quais o país passa e passará. Vão ter que ser mais flexíveis para buscar alternativas. Para eles, os desafios são os mesmos dos executivos especializados em luxo. Sem o mesmo charme, é claro.

(Aldo Bergamasco, vice-presidente da Fesa, consultoria de busca e seleção de altos executivos)

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