Victor Hugo Lopes, Especial para Diário da Manhã
– Passei um aperto danado esses dias.
– Não soube.
– Nem deveria. Lembra da festa na chácara do Luciano?
– Mais ou menos. Estava muito bêbado naquele dia.
– Todo mundo bebeu demais naquele dia.
– Verdade. Parece que o mundo ia acabar em cerveja.
– Lembra da Juliana?
– Filha do Luciano? Claro. Gatinha demais. Do tipo que mamãe queria para nora. Mas é nova demais para mim. Ela deve ter uns 19 anos, certo?
– Um pouco mais, 20 anos, acho.
– Baita mulherão.
– Eu sei. Ela estava meio soltinha para o meu lado naquele dia.
– Nem percebi.
– Ela sentou ao meu lado. Botou a mão na minha perna.
– Talvez estivesse com o braço cansado.
– Não. Ela até fez uns carinhos.
– Qual o problema?
– O pai e a mãe dela estavam de olho. Você sabe. A mãe dela é uma onça.
– Ela pegou você no pulo?
– Eu fui velhaco. Ia toda hora buscar cerveja com ela.
– Na geladeira do barracão?
– Isso. Lá, eu dava uns beijinhos nela. Trem bom absurdo. Mas coisa rápida. Estava com medo do flagrante.
– Qual foi, então, o problema?
– A Lorena, irmã da Juliana.
– Também muito ajeitada.
– Verdade. Um amigo meu estava beirando demais a moça.
– Vocês estavam mancomunados?
– Não. Coincidência apenas.
– A Juliana no seu vácuo?
– Isso. Eu queria ela e ela me queria.
– E ficaram só querendo?
– Nada. Não perdoei. Fui para o ataque. Mas com medo. A mãe dela é braba demais.
– Braba quanto?
– Do tipo que amola faca quando a filha leva namorado novo para casa.
– Dona Geralda tem mesmo fama de valente.
– Acho que ela não faz o buço para poder torcer o bigode.
– Deixe de ser mau. Continue a história.
– Mais tarde, eu fui com a Juliana para a piscina. O povo já havia raleado. Estava no esquema de ficar encostando debaixo da água.
– É bom mesmo.
– O problema é que aquele amigo meu facilitou demais.
– Como assim?
– A dona Geralda o pegou apertando a Lorena. Deu uns berros feios lá da casa.
– E você?
– Eu já estava meio bêbado, sabe? Achei que fosse comigo.
– O que fez?
– Mergulhei na piscina.
– Esse drama todo por isso?
– Tente você ficar duas horas igual tracajá no Araguaia, bêbado, puxando o fôlego para ficar submerso como se fosse submarino. Quero ver se você dá conta.
– Enfrentasse logo a fera. Já tinha cutucado a onça mesmo.
– Melhor não facilitar. Em rio que tem piranha, macaco bebe água de canudo.
(Victor Hugo Lopes é jornalista)