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OPINIÃO

A primeira miss Goiás e a revolução de 1909[1]

Pedro Nolasco de Araujo ,Especial para Opinião Pública

Tudo ligado à beleza, graça e elegância das mulheres parece estar mais relacionado com a paz do que com a discórdia. Há até aquela visão destorcida e injusta de Agamêmnon, general dos exércitos gregos em Tróia, segunda a qual "a paz é para as mulheres e os fracos". Em Goiás, durante a República Velha, sucedeu algo totalmente diverso. Foi assim: cidade de Goiás, 21 de março de 1909. Nesta data, a cidade de Goiás acha-se abafada por um clima febril, ensejado não só pelo calor escaldante, mas muito mais pelos boatos de um possível confronto sangrento que se anuncia para breve entre as duas facções políticas dominantes. De um lado, a facção do ex-presidente estadual, José Xavier de Almeida; e, do outro, a liderada pelo financista José Leopoldo de Bulhões Jardim. Confronto que acabará por resultar na chamada Revolução de Maio. Mais vulgarmente alcunhada de Revolução da Quinta. De resto, correm boatos de aquisição de armas e arregimentação de homens dispostos a lutar.

Não resta dúvida de que a eleição presidencial goiana de 2 de março foi o estopim da crise. A gota d'água. A última esperança da grei Bulhões. Esperança de alcançar a vitória, que alijaria o adversário, Xavier de Almeida, para sempre da liderança goiana. A grei oligárquica falhara contudo inteiramente neste prognóstico, pois era bem sólida a situação eleitoral do grupo Xavier de Almeida. Como era previsível, o candidato da situação, Hermenegildo Lopes de Moraes, acabou homologado.

Com efeito, aí está a gota d'água. Como reação, Leopoldo de Bulhões, do Rio de Janeiro, acusou o governo de fraude eleitoral; ameaçando-o inclusive de intervenção federal ou revolução armada.

No rol dos que insistem em continuar destemidamente na cidade, há o jurista e historiador Sebastião Fleury Curado. Dirá Sebastião, na página 111 das suas futuras Memórias Históricas:

Quem viveu na velha capital de Goiás os dias de abril e maio de 1909, jamais poderá esquecer o ambiente febril da velha Vila Boa"[3]

Enquanto que Maria Augusta Sant'anna Moraes na sua História de Uma Oligarquia: Os Bulhões registra que...

Não se conversava senão sobre boatos que incendiavam a cidade, compra de armas e reuniões suspeitas aqui e ali. E, para aumentar o mal estar o coronel Rocha Lima passou inopinadamente o governo ao vice, coronel Bertholdo de Souza.

Isto, a renúncia de Rocha Lima, em favor de Bertholdo de Souza, se deu, conforme a obra Presidentes e Governadores de Goiás (1980) de Joaquim Carvalho Ferreira, a 11 de março de 1909. Leia:

A revolução, como sempre acontece, constittuiu verdadeira surpresa para todos, mas poderia ter sido facilmente debelada de vez que houve momento em que o número dos revoltosos não chegava a uma dezena.

Mas, coração boníssimo, exemplar pai de família e um dos mais dignos goianos de sua geração, o cel. Rocha Lima, entendeu que nada poderia justificar o derramamento de sangue de seus patrícios, razão porque a 11 de março de 1909 fazia ele entrega do poder a Francisco Bertholdo e este ao segundo vice presidente, cel. José da Silva Batista, um dos chefes revolucionários e conceituados políticos de Anápolis, pondo fim à "Revolução de 1909".

Sendo que uma dessas reuniões suspeitas, a que alude acima a historiadora Maria Augusta, aconteceu na chácara Baumann, cujo proprietário era o jurista goiano Sebastião Fleury Curado. Cumpre revelar que, mais que a eleição de 2 de março, estes males todos tinham raízes mais profundas. Raízes que deverão ser expostas adiante.

Tão profundas tais raízes que a oposição bulhonista até articula a renúncia do presidente Francisco Bertholdo, a exemplo do que sucedera a Rocha Lima. O jornal situacionista A Imprensa e o seu opositor, Goyaz (fundado pelo poeta romântico Antônio Félix de Bulhões), trocam farpas e acusações. Não bastasse isso, famílias alarmadas, diante dos mencionados boatos de um provável derramamento de sangue, correm para as chácaras e fazendas. Os que permanecem na cidade assistem apreensivos ao desenrolar dos acontecimentos.

Precisamente nesse ambiente efervescente, bélico, um grupo de rapazes, destemidos, quem sabe para escapar da atmosfera asfixiante, intoxicante, carregada de calor e apreensão, a beliscar os nervos da gente, encontra tempo para coisas mais amenas, indiferentes àqueles boatos de compra de armas e reuniões suspeitas. Tal grupo bate à porta de um velho sobrado da Rua Moretti Foggia, igualmente conhecida por rua Direita. Alí mora o Dr. Benjamin da Luz Vieira.

Enquanto o grupo bate à porta daquele sobrado, este texto há de abrir uma pausa com o fim manifesto de restituir o leitor aos antecedentes ou raízes políticas que prepararam o ambiente febril de 21 de março de 1909. Para começar, note Brás Cubas, o defunto autor das célebres Memórias Póstumas, que qualifica a história de loureira. Quer dizer, nos seus ardis e perfídia, a história guarda astúcias de mulher provocante. Senão note o mestre e o aprendiz. Há o mestre, José Leopoldo, de Bulhões, líder político de indiscutível valor e chefe de um poderoso clã. Que ficará absoluto no poder regional até 1901.

E há o aprendiz, José Xavier de Almeida, jovem inteligente, idealista e culto. Carrega porém, de envolta com a sua vasta concha de virtudes, um pecado perfeitamente compreensível: acalenta ambições políticas. Pecadilho perfeitamente natural. Quem afinal já não massageou o próprio ego, uma vez sequer na vida?

Dois "Josés" portanto. Mestre e aprendiz moldados à imagem e semelhança mútua. No começo, mestre e aprendiz nutrem afeição recíproca. De tal sorte que, de uma feita, teria o ex-presidente do Estado, Urbano de Gouveia, declarado:

" Xavier vota mais estima a Bulhões que aos próprios membros de sua família."

Equivocava-se Urbano. Pois Xavier votava mais estima a si mesmo. Alguns parentes de Bulhões, enciumados, vêem com reservas aquela aproximação recíproca e buscam advertir o chefe. Acusam Xavier de Almeida de dissimulação. No que tinham um fundo de razão.

Afirmavam, ainda, que, para maior segurança na execução do seu plano, dissimulou, mostrando-se, de início, desinteressado na obtenção de posições políticas, deixando-se conduzir, com docilidade, pelo chefe do clã. Tornou-se merecedor de sua confiança, admirado pelas qualidades intelectuais, morais e pela dedicação desinteressada. Procurou identificar-se com Leopoldo de Bulhões.[4]

Em verdade, desde estudante, José Xavier de Almeida acalentava o sonho de conquistar a liderança regional a Leopoldo de Bulhões. Sonho exclusivamente seu? De modo algum. Acresce que Antônio Ramos Caiado, desde a cisão com os Bulhões em 1897, "aspirava à afirmação de seu próprio mando".[5]

Embora o aprendiz, consoante seus inimigos, se mostrasse incondicional e fanaticamente vislumbrado pelo mestre, e, "com o seu endosso", quer dizer, com o endosso de Bulhões, galgasse posições de destaque: secretário de Estado (1895 - 1899), deputado federal (1899),  Xavier, a exemplo de Caiado, também aspirava à afirmação de sua própria liderança. Releva frisar, ter o discípulo, em todos esses cargos, sempre demonstrado inexcedível capacidade de trabalho e idealismo. "Culminou, contrariando a maior parte dos elementos bulhônicos, mas sob o paternalismo de Leopoldo de Bulhões, à Presidência do Estado".[6] No interregno 1901-1905. É neste interregno que começa a cisão Bulhões-Xavier. Uma vez empossado, Xavier de Almeida, ansioso de alçar vôo próprio, buscou agir com maior independência de decisões. Para tanto, urgia distanciar-se da autocracia Bulhões. Desta forma, fez "uma administração desapaixonada, evoluída, fecunda, honesta, proficiente e renovadora", palavras do historiador Zoroastro Artiaga.[7] Confirmadas pelo grande mestre Gelmires Reis:[8] "É um nome que é pronunciado com todo respeito, graças à sua cultura, honradez e patriotismo". Equivocara-se quem apostasse, como certa e absoluta, na subserviência de Xavier ao mando político de Bulhões. Todo aprendiz há de se sentir tentado a superar o mestre. Não deu outra.

Com efeito, Xavier de Almeida mostrou-se discípulo ortodoxo de Leopoldo de Bulhões. Assimilou suas lições, com maestria e ainda aperfeiçoou o processo das habilidades político partidárias usado pela oligarquia bulhônica, que desconhecia, bem pouco tempo, a derrota, quer por meios amigáveis, coercitivos ou fraudulentos.

Mas o governo Xavier de Almeida foi muito além das habilidades político-partidárias. Pois merece ser lembrado pelas suas grandes realizações administrativas. Releva citar, dentre outras concretizações, a ênfase dada à educação. Com efeito, a 24 de fevereiro de 1903, instalou e fez funcionar a Academia de Direito de Goiás, instituída pela Lei n° 186 de 13 de agosto de 1898. E a instalação da Escola Normal, que viria a se converter no Instituto de Educação de Goiás, mas cuja existência legal vem de 1898. Além disso, ampliou as aulas do Lyceu, a quantidade de escolas primárias e secundárias, conquistando a veneração e o respeito da juventude goiana.

O autor deste escrito supõe, neste parágrafo, ter fixado suficientemente as preliminares que contribuíram para o abalo de 21 de março de 1909. Já estas linhas encerram a pausa e voltam rapidamente ao grupo de rapazes que, alheio à luta política entorno, continua batendo à porta do sobrado da Motetti Foggia, com o fim de comunicar que...

...A mesa perante a qual se realizou hoje o concurso de belleza, graça e elegancia, declara que foram eleitas as seguintes senhoritas: Celina Reis (490 votos), por sua belleza; Lia de S. Anna (51 votos), por sua graça; e Illidia Perillo (49 votos), por sua elegancia./ Goyaz, 21 de março de 1909./ O Presidente André Xavier. [9]

A declaração interessa à jovem cunhada do dono da casa, Celina dos Reis Gonçalves,[10] 18 anos, ali residente. A jovem acaba afinal de se sagrar a mais bela mulher do primeiro Concurso de Beleza, Graça e Elegância realizado em Goiás. O qual, como visto, não contempla apenas os atributos físicos, porque a graça e a elegância são qualidades bastante apreciadas pelos jurados. Tanto que foram também eleitas as senhorinhas Lia de Santana, "por sua graça"; e Ilídia Perillo, "por sua elegância", mãe do ex-governador de Goiás, Leonino di Ramos Caiado. Em seguida, o referido grupo cinge a eleita "com uma casta coroa de flores naturais". Nada mais além do título e da singela coroa   a moça não recebe qualquer prêmio ou vantagem pecuniária.

Por incrível que pareça, só em 1920 é que Zezé Leone será eleita "a senhorinha mais bela do país"   conforme dizeres da Revista da Semana, patrocinadora do evento. Portanto, o certame ocorrido na capital de Goiás antecipa-se, em onze anos, ao de São Paulo.

Antecipa-se de modo bem diferente e curioso, pois um grupo, segundo se lê no semanário goianiense Cinco de Março, edição nº 707,  de 26 de agosto a 1º de setembro de 1974, 5º Caderno, matéria denominada "Celina, a primeira Miss Goiás, vive em Goiânia com 85 anos", redigida pela jornalista Nise de Britto, de cujas informações nos valemos aqui, "a si mesmo se outorgou o poder de decidir em única instância quais eram as mais belas, graciosas e elegantes senhorinhas da melhor sociedade vilaboense. Ora, após decidir, comparecia às residências das eleitas para fazer a proclamação. E é exatamente isso o que ocorre com Celina naquele dia de 1909.

O leitor há de tomar conhecimento que, se em 1920 não houve desfiles de candidatas vestidas, muito menos de maiô, o concurso de 1909 "foi, se assim se pode dizer, ainda mais recatado".[11] Nestas condições, nenhum almofadinha mais abelhudo ficou sabendo quanto as moças mediam de quadris, busto, cintura e tornozelos. Nem poderia ser diferente. A moral rígida do princípio do século não permitia excessos que pudessem servir de comentários picantes. Senão ferir a moral vigente. Numa sociedade, seguida muito de perto de costumes patriarcais, havia uma margem muita estreita para liberdades.

A única permissividade consistiu na exposição dos retratos das candidatas, nos quais as jovens apareciam de corpo inteiro, mas rigorosamente vestidas, "do pescoço aos pés e ostentando ainda mantas e xales que desciam até o chão". Imagine só, leitor, ao invés do aguardado desfile de maiôs, o desfile dos sonhos!, apareça um grupo de marmanjos com os retratos das jovens. Que urucubaca!

Celina declarou à jornalista Nise de Britto, do jornal Cinco de Março, não ter havido "nem mesmo uma reunião formal para que a escolha se efetivasse". Mais, confessa ter um grupo outorgado a si próprio o poder de decidir, em única instância, quais eram a mais belas, graciosas e elegantes, como já referido.

Ainda: Celina não faz a menor referência ao movimento armado que ficou historicamente conhecido como Revolução da Quinta, embora o presidente da banca julgadora do Concurso de Beleza, Graça e Elegancia, André Xavier de Almeida, segundo se vê da proclamação, fôsse, salvo engano nosso, parente do líder situacionista, José Xavier de Almeida.

Como a realidade daquele 21 de março não era tão doce e franca assim, - recordem-se que homens são de Marte, daí o adjetivo marcial - registrada afinal a vitória do grupo Xavierista a 2 do corrente - ou seja, nas eleições realizadas dezenove dias antes do certame feminino Beleza, Graça e Elegância,- Leopoldo de Bulhões, amargando a derrota, "iniciou os conchavos para a realização do plano revolucionário, aqui articulado com a cúpula do" partido por ele recém criado, o Democrata. Só se falava de reuniões suspeitas.

E que Bulhões realizara a aquisição de armas com o amigo e ex-presidente, Miguel Lino de Moraes, o Visconde de Moraes. Enquanto isso, os chefes locais do Partido Democrata arregimentavam homens na sede da Fazenda da Quinta. Fazenda de propriedade do coronel Eugênio Rodrigues Jardim, situada no município de Mossâmedes, onde chegaram a se reunir 800 homens, provenientes dos municípios da Capital, Alemão (hoje, cidade de Palmeiras, GO), Jataí, Rio Bonito (Caiapônia), Mineiros, Rio Verde, Corumbá e Ipamerí. E igualmente na Fazenda Esperança, que dista 14 léguas da cidade de Goiás, onde o contingente, constituído de voluntários de Anápolis, Corumbá, Pirenópolis, Jaraguá e São José do Duro, chegou a alcançar 600 homens. Estas duas colunas por sinal passarão a ser conhecidas como Legião Rubra, assim denominadas por exibirem um lenço vermelho ao pescoço.

Militar refratário à política, Eugênio Jardim só aderira mesmo ao movimento revolucionário por uma questão familiar. Para ajudar o irmão Francisco Leopoldo, cunhado de Leopoldo de Bulhões. Diante de tais fatos, o governo Francisco Bertholdo tratou de tranqüilizar o povo. Argumentando que os tais rumores eram sem fundamento. Ledo engano. Eram muito mais que rumores. Muito mais que alarmantes, como as circunstâncias se incumbirão de mostrar.

Com efeito, nesse ínterim, chegavam a Pouso Alto (hoje, cidade de Piracanjuba) as armas encomendadas por Leopoldo de Bulhões, "camufladas em guarda-chuvas, conduzidas por Umbelino Velasco. Tudo sem nenhum obstáculo até aquele trajeto", consoante a professora Maria Augusta Sant'anna Moraes, cujas informações históricas são igualmente de inestimável valia neste texto.

Ficaram escondidas na residência do Sr. Joaquim Santana Xavier Nunes. O juiz daquela cidade, Mário Caiado, com objetivo pacifista, procurando evitar derramamento de sangue no Estado, comunicou ao governo da capital o transporte clandestino das armas. Joaquim Santana, imediatamente, mudou a rota das armas. Viajando para Anápolis, comunicou os fatos a um dos chefes revolucionários, Zeca Batista, que se incumbiu de pessoalmente instruir revolucionários a fim de que as esperassem pelo novo caminho. Assim, chegaram ao seu destino as necessárias munições, que deveriam sustentar o movimento revolucionário. Na chácara do Baumann, às margens do Rio Vermelho, propriedade do Sr. Sebastião Fleury, em reunião clandestina, assentou-se a formação de duas legiões revolucionárias: a do Norte, sob o comando do coronel Virgílio de Barros e a do Sul sob a orientação do coronel Eugênio Rodrigues Jardim.[12]

"A inoperância governamental reforçava o pensamento de Leopoldo de Bulhões que, pela imprensa, os classificara de homens de palha". Opina o admirável homem de imprensa, Moisés Santana, que,  em sua obra Vultos e fatos de Goyaz, expõe a sua interpretação dos acontecimentos da Revolução de Maio.

O movimento revolucionário goiano repercutiu no Rio de Janeiro. Leopoldo de Bulhões contudo incumbiu-se de esclarecer pela imprensa que os arregimentados da Quinta não passavam de simples eleitores da oposição, que ali se achavam para acompanhar a apuração de votos dos seus candidatos. De fato, apesar de armados. Mas que se achavam ali "para atuarem revolucionariamente". Retifica a historiadora Maria Augusta Sant'anna.

E o governo pacato de Francisco Bertholdo sempre no seu papel de serenar os ânimos. Nem deixou de salientar que, em caso de um movimento armado, sua atitude seria de neutralidade. Simplesmente cruzaria os braços. "Não há perigo de revolução, o povo goyano tem muito bom coração", tranquilizava Bertholdo. Essa cordialidade não impediu Francisco Bertholdo de, a 7 de abril de 1909, renunciar ao governo e passá-lo inesperadamente ao presidente do Senado Estadual: Joaquim Rufino Ramos Jubé.

Recordando-se uma vez mais que os homens são de Marte, eis, a 1° de maio daquele ano, a Legião Rubra, com o indispensável lenço vermelho no pescoço, "a cavalo, em desfile marcial, sob o comando do coronel Eugênio Rodrigues Jardim," a percorrer as principais ruas de Vila Boa. A cruzar, com galhardia, pontes e becos. Galgar ladeiras. 1600 homens! Foi um impacto na população! Tão impactante que Jubé abandona inopinadamente o Palácio Conde dos Arcos, deixando o poder nas mãos do segundo vice presidente, Cel. José da Silva Batista, aliado de Bulhões. Este último ato marca o fim da Revolução de Maio. E o fim da era Xavier de Almeida. Que, apesar de pacífica, não foi um Revolução Branca, não, de acordo com as Memórias Históricas de Sebastião Fleury Curado.

Além de crimes desnecessários, como de Barnabé, empreiteiro público, como de um vaqueiro, que pecava por ser empregado de um cunhado de Xavier de Almeida, do massacre às forças situacionistas vindas de Alemão, sob o comando de Abel Coimbra, houve prisioneiros que foram amarrados e maltratados na varanda da Quinta, bem como pressões que se fizerarm aos familiares e amigos de Xavier de Almeida, numa atitude de sadismo político, obrigando-os a fornecerem gêneros aos revolucionários.[13]

Goiânia, 1  de janeiro de 2003.

(Pedro Nolasco de Araujo, mestre, pela PUC-Goiás, em Gestão do Patrimônio Cultural, advogado, membro da Associação Goiana de Imprensa - AGI)

[1] Para compor o texto que vai  adiante o autor muniu-se das seguintes fontes: 1) entrevista com Celina dos Reis Gonçalves, estampada no número 707 do jornal Cinco de Março (5  Caderno), Goiânia-GO, exemplar de 26 de agosto a 1º de setembro de 1974, intitulada "Celina, a primeira Miss Goiás, vive em Goiânia com 85 anos", realizada pela jornalista Nise de Britto;  2) a obra citada História de uma oligarquia: os Bulhões da historiadora Maria Augusta Sant'anna Moraes, Oriente, Goiânia-GO., 1974; 3) e a obra Presidentes e Governadores de Goiás de Joaquim Carvalho Ferreira, Editora da UFG, Coleção Documentos Goianos, Goiânia-GO., 1980.

[2] Denominação popular do Palácio Conde dos Arcos, cidade de Goiás, antiga residência dos governadores e presidentes do Estado de Goiás.

[3] Sebastião Fleury Curado apud Maria Augusta Sant'anna Moraes. História de uma oligarquia: os Bulhões, Oriente, Goiânia-GO., 1974,  p. 201.

[4] MORAES,  Maria Augusta Sant'anna. In: História de uma oligarquia: os Bulhões. Oriente,  Goiânia, GO., 1974, p. 201.

[5] MORAES,  Maria Augusta Sant'anna. In: História de uma oligarquia: os Bulhões. Oriente,  Goiânia, GO., 1974, p. 203.

[6] MORAES,  Maria Augusta Sant'anna. In: História de uma oligarquia: os Bulhões. Oriente,  Goiânia, GO., 1974, p. 187.

[7] Zoroastro Artiaga apud Joaquim Carvalho Ferreira in Presidentes e Governadores de Goiás, Editora da UFG, Goiânia, GO., 1980, p. 83.

[8] Gelmires Reis apud Joaquim Carvalho Ferreira in Presidentes e Governadores de Goiás, Editora da UFG, Goiânia-GO., 1980, p. 83.

[9] O original desta declaração, feita em 1909, foi fotografado e estampado no Jornal Cinco de Março (5  Caderno), Goiânia-GO, número 707, exemplar de 26 de agosto a 1  de setembro de1974.

[10] Nascida na cidade de Bela Vista, a 13 de setembro de 1891, numa casa situada à Travessa São Bento (em frente ao casarão recém restaurado do Senador Canedo), Celina desde tenra idade viveu na cidade de Goiás. Eram seus pais o senador Estadual Manoel dos Reis Gonçalves e Angélica Honorina. Dentre os seis irmãos, destacaram-se o poeta e homem público, Vasco dos Reis Gonçalves; e Pardal dos Reis (pioneiro da indústria farmacêutica em Goiás). E dentre os cunhados, o Príncipe dos Poetas Goianos, Leo Lynce; e o político e desembargador Benjamin da Luz Vieira. Segundo Celina confidenciou ao jornal Cinco de Março, nunca quis se casar. Quanto a namorados, só um rapaz, Raul Vilela, que o coração matou ainda muito jovem, chegou a lhe chamar a atenção. Depois, apesar de jovem e bonita, veio a apatia, o desinteresse e jamais quis saber de relacionamentos, não obstante a admiração que sempre despertava nos homens. Chegou mesmo, de acordo com o acadêmico Bento Fleury Curado, a merecer os seguintes versos do conhecido poeta Luiz do Couto: Salve! Senhora das castanhas tranças/ de ebúrneas faces e de olhar sereno!/ Sois a deusa das minhas esperanças,/ por quem vivo feliz e por quem peno./ Às vezes sois igual às pombas mansas,/ outras vezes matais com um vago aceno.../  Trazeis nos lábios risos de crianças,/ trazeis nos níveos seios o veneno!/ No vosso caminhar pela existência,/ dais, a uns, da paixão, a rubra essência,/ feris a outros com terríveis lanças!/ Eu gosto dessa excêntrica figura/ de olhares ternos, de elegante altura.../ Salve! Senhora das castanhas tranças! Transferida a sede do poder da cidade de Goiás, Celina mudou-se parra Goiânia, indo residir na rua 20 (casa de número 7), numa das dez primeiras residências construídas pelo governo interventorial. Celina faleceu aos 87 anos.

“O movimento revolucionário goiano repercutiu no Rio de Janeiro. Leopoldo de Bulhões contudo incumbiu-se de esclarecer pela imprensa que os arregimentados da Quinta não passavam de simples eleitores da oposição, que ali se achavam para acompanhar a apuração de votos dos seus candidatos.”

“Não resta dúvida de que a eleição presidencial goiana de 2 de março foi o estopim da crise. A gota d'água. A última esperança da grei Bulhões. Esperança de alcançar a vitória, que alijaria o adversário, Xavier de Almeida, para sempre da liderança goiana. A grei oligárquica falhara contudo inteiramente neste prognóstico, pois era bem sólida a situação eleitoral do grupo Xavier de Almeida.”

[11] Reportagem, à guisa de entrevista, sobre Celina dos Reis Goçalves, estampada no número 707 do jornal Cinco de Março (5  Caderno), Goiânia- GO, exemplar de 26 de agosto a 1  de setembro de 1974, intitulada "Celina, a primeira Miss Goiás, vive em Goiânia com 85 anos", realizada pela jornalista Nise de Britto;

[12] MORAES, Maria Augusta Sant'anna. Revolução de Maio. In: História de uma oligarquia: os Bulhões. Oriente,  Goiânia-GO., 1974, p. 202.

[13] MORAES, Maria Augusta Sant'anna. Revolução de Maio. In: História de uma oligarquia: os Bulhões. Oriente,  Goiânia-GO, 1974,  p. 203.

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