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OPINIÃO

Filho ingrato

Muitos pais compreenderiam melhor seus filhos se refletissem e tirassem conclusões a partir desta concepção de Gibran Khalil, que foi o maior pensador árabe do século XX:

“Vossos filhos não são vossos filhos. São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma. Vêm através de vós, mas não são de vós. E embora vivam convosco, não vos pertencem.

Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos. Porque eles têm seus próprios pensamentos. Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas. Pois suas almas moram na mansão do amanhã, que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho. Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós. Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados”.

Os pais geram o corpo do filho mas quem cria suas almas é somente Deus, o artista perfeito que não cria cópias nem clones mas apenas originais. Por isso nossos filhos não são iguais a nós, nem a seus irmãos que, como eles, chegaram à Terra através dos mesmos genitores.

O Evangelho Segundo o Espiritismo ensina-nos a nos precaver:

“Desde o berço, a criança manifesta os instintos bons ou maus que traz da sua existência anterior. É preciso estudá-los.Todos os males têm origem no egoísmo e no orgulho. Analisai, portanto, os menores sinais que revelem o gérmen desses vícios, e empenhai-vos em combatê-los sem esperar que criem raízes profundas. Fazei como o bom jardineiro, que corta os brotos daninhos à medida que os vê nascer na árvore. Se deixardes desenvolver o egoísmo e o orgulho, não vos espanteis de serdes mais tarde pegos pela ingratidão”.

Deus pune de maneira rigorosa. Nessa mesma obra básica de Allan Kardec, também constam estas palavras de consolo para os bons pais do filho mau:

“Quando os pais fizeram tudo o que deviam para o adiantamento moral dos filhos, e apesar de tudo não alcançaram êxito, sua consciência poderá ficar tranquila, e é natural o desgosto que sintam por verem fracassados todos os esforços feitos. Deus lhes reserva uma grande, uma imensa consolação, na certeza de que isso é apenas um atraso, e que lhes será permitido terminar, em outra existência, a obra começada nesta, e que um dia o filho ingrato os recompensará com seu amor.

A ingratidão é um dos frutos imediatos do egoísmo e revolta sempre os corações honestos. A ingratidão dos filhos em relação aos pais tem um caráter ainda mais revoltante, indicando grande atraso espiritual.

Deus pune de maneira rigorosa toda violação ao mandamento “honrai vosso pai e vossa mãe””.

No livro O Consolador, Emmanuel e Francisco Cândido Xavier perguntam: “Quando os filhos são rebeldes e incorrigíveis, impermeáveis a todos os processos educativos, como devem proceder os pais?” E respondem:

“Depois de movimentar todos os processos de amor e de energia no trabalho de orientação educativa dos filhos, é justo que os responsáveis pelo instituto família, sem descontinuidade da dedicação e do sacrifício, esperem a manifestação da Providência Divina para o esclarecimento dos filhos incorrigíveis, compreendendo que essa manifestação deve chegar através de dores e de provas acerbas, de modo a semear-lhes, com êxito, o campo da compreensão e do sentimento”.

O único e eficiente remédio

Há, aqui, outro importante aspecto a considerar quando nos vemos diante de olhos já crescidos e lúcidos trazendo-nos dolorosos problemas. Sem dúvida, são eles credores do passado a nos cobrar o resgate de velhas contas.

Emmanuel e Chico Xavier insistem na necessidade de determinação no bem para esse difícil reacerto:

“Depois de esgotar todos os recursos a bem dos filhos e depois da prática sincera de todos os processos amorosos e enérgicos pela sua formação espiritual, sem êxito algum, é preciso que os pais estimem nesses filhos adultos, que não lhes apreenderam a palavra e a exemplificação, os irmãos indiferentes ou endurecidos de sua alma, comparsas do passado delituoso, que é necessário entregar a Deus, de modo que sejam naturalmente trabalhados pelos processos tristes e violentos da educação do mundo. A dor tem possibilidades desconhecidas para penetrar os espíritos, onde a linfa do amor não conseguiu brotar, não obstante o serviço inestimável do afeto paternal, humano”.

Chega, então, a hora da resignação dos pais ante o burilamento do filho rebelde pela Justiça Divina, no emprego da dor como único e eficiente remédio:

“Eis a razão pela qual, em certas circunstâncias da vida, faz-se mister que os pais estejam revestidos de suprema resignação, reconhecendo no sofrimento que persegue os filhos a manifestação de uma bondade superior, cujo buril oculto, constituído por sofrimentos, remodela e aperfeiçoa com vistas ao futuro espiritual”.

(Jávier Godinho, jornalista)

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