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OPINIÃO

O fracasso do capitalismo e sua convergência para o trans-humanismo

Para juntar riqueza e alavancar o progresso de forma retroalimentada, o capitalismo, na sua perversão ideológica, desestrutura a sociedade posto que cria desequilíbrios, portanto, chega ao fim como meio. Esse é o pensamento barato para qualquer sociólogo que esteja de plantão nas cátedras de ideologia socialista. O mundo já começa a entrar em convulsão pela falta de critérios humanísticos nas tomadas de decisão sobre capital e sociedade. O enriquecimento absurdo de apenas 1% da população mundial em detrimento do restante 99% criou o que vemos hoje: o caos. As necessidades infinitas do homem sobrepondo á finitude dos recursos naturais, têm levado a humanidade ao dilema sobre a forma de avanço tecnológico e a destruição da natureza. Não bastasse isso, o maior patrimônio da humanidade, o conhecimento, pertence a uma pequena parcela dos que compõem “esse mundo civilizado”. Fora desse pequeno núcleo estão os que são filtrados pelo processo capitalista de formação do saber e enriquecimento, mas se observado do ponto de vista darwiniano, o homem cumpre seu inexorável destino de se autosselecionar: o melhor espécime vence.

O esgotamento do modelo de desenvolvimento capitalista, importante e necessário em determinado recorte temporal para a alavancagem do progresso humano, como foi o caso da revolução industrial na Inglaterra em toda a sua torpeza e depois a tecnológica dos dias de hoje, concentrou seus bens materiais e imateriais nas mãos de poucos, o que tem gerado a desagregação do homem de seu meio social, ao invés aproximá-lo. O conceito de não pertencimento pela alienação, por estar dentro da sociedade e ao mesmo tempo, fora dela, produz no ser social, seu deslocamento para o processo de angústia e depressão. A ciência e a tecnologia enfraquecem os que delas não participam.

O capitalismo exacerbou-se ao ponto de alienar o próprio Estado na sua condição de Estado onde o poder possui por estamento, o usufruto da sociedade como meio e não como fim. Ao discutir questões pontuais como educação, saúde, segurança e corrupção, o Estado erra sumariamente, posto que a matriz reprodutora da energia que alimenta todo esse processo é a forma distributiva dos bens, tanto materiais como imateriais, que são objetos de sustentação do próprio capitalismo – capitalismo que nunca deixou de ser uma função do instinto ou de algo anterior a ele e que trazemos embutidos em nós.

A esse regime estão submetidos todos os aparatos da sociedade, inclusive a cultura da hegemonia, em que os parâmetros estabelecidos são os de uma estética social pelo consumo, refletida até no próprio corpo do indivíduo. Nessa superestrutura, ao indivíduo não é dado sequer o direito de ser. Ele é objeto da serialização, do estereótipo criado no pós-moderno e isso já é uma normalidade aceita como natural. O padrão de excelência é requisito de uma cultura dita superior, na qual impera a suprema qualificação. Tudo isso, a nosso ver é resultado de uma corrida instintiva na direção um pseudoprogresso que, ao cabo tudo, redunda no fracasso humano que temos visto.

A sociedade, homogeneizada pela proximidade física de seus componentes, mas equidistantes pelos critérios culturais e econômicos, é observada nas sinapses sociais causadas pela interdependência. Assim, as sociedades se cruzam, mas seus sujeitos sociais não se pertencem, há um vazio. O elo que os ligam é o capitalismo ou as necessidades imperativas do lucro. Esses agentes da sociedade se comunicam quanto à cultura comum na forma de um pertencimento simbólico, mas não são efetivados de forma orgânica. O que existe é uma consciência de espaço entre ser e ser.

Prevalece no capitalismo a selvageria do instinto potencializado pela ideia de poder que o homem traz por inerência. Sobre a questão, abre-se uma nova prioridade, uma nova agenda que tenha em seu discurso a redimensionalização do conhecimento como catalisador das crises sociais que assolam a humanidade. Talvez essa tarefa seja tardia, dado as circunstâncias em que nos vemos. Talvez estejamos avançados demais no caos para evadirmos dele, por isso a guerra tem sido comentada como sendo a continuidade da política posto que das guerras ressurjam as sociedades.

O homem caminha para o progresso como se imbuído por uma força anterior a sua, mas que está dentro dele, um gene que quer torná-lo superior, para além de suas possibilidades materiais, uma força que o quer transdimensional. Nesse sentido, o transhumanismo surge do lúdico para o real como metáfora de uma nova raça cujo hibridismo entre homem e máquina nos apavora ao mesmo tempo em que nos aproxima do que chamamos de Deus.

Dada sua vocação evolutiva pela transformação da natureza, o caminho do homem sempre foi e será o “tecnológico”. Resta de tudo um frio dorsal que fere nossa consciência com o medo do que possa ser o futuro. Seremos enfim, num futuro próximo, máquinas orgânicas?

(Waldemar Rêgo, jornalista, escritor e artista plástico. [email protected])

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