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OPINIÃO

Nem tudo é dengue!!!

“Nem tudo que brilha é ouro”

Com esta frase, fica evidente que são inúmeras as situações causais que desencadeiam sintomatologia similar. Não é diferente quanto se trata de doença. A dengue, doença da “moda” tão alardeada entre a população e os profissionais de medicina, também tem sido superdimensionada. Não quero com esta observação, relegar a segundo plano todos os esforços feitos e que devem ser aplicados no combate ao mosquito transmissor aedes aegypti, bem como o desenvolvimento de práticas de controle do vetor e de tratamento dos pacientes contaminados pelo arbovirus (grande família de vírus).

Contudo, cabem algumas ressalvas no tocante ao diagnóstico da doença. A dengue tem dentre seus sintomas, dores nas articulações, redução do número de plaquetas, febre, dores de cabeça, alterações na função hepática, dentre outros. Sintomas estes que conduzem a uma prática usual de utilização de soro, líquido em abundância e repouso do paciente, o que na maioria dos casos, promove melhora após alguns dias. Entretanto, em muitas situações, o diagnóstico médico não permite ter certeza quanto a ser dengue ou não. Com isto, suspeita-se que seja dengue, tendo em vista a sintomatologia e a semelhança com outros inúmeros casos da doença, o que nem sempre é confirmado, ou verdadeiro.

A medicina tem se pautado por exames laboratoriais, que nem sempre evidenciam os reais sintomas da doença, ou em alguns casos, nem mesmo confirmam o fato. Tenho evidências de casos que apresentam sintomatologia similar, oriundos de outros microorganismos, e que os pacientes foram considerados com suspeita de dengue, sem, no entanto, terem como vetor o mosquito Aedes Aegypti.

Vírus do varicela zoster, micoplasma, zika vírus, outros vírus da família do herpes causam distúrbios no corpo com sintomas similares às manifestações de dengue, o que tem conduzido a diagnósticos equivocados da doença, ampliando as estatísticas de dengue e desconsiderando as reais causas do problema, o que pode mascarar o tratamento e “cegar” as evidências médicas. Naturalmente, as técnicas empregadas para recuperação do paciente com suspeita dengue, acabam por favorecer a melhora do paciente, como repouso, beber muito líquido, soro. Entretanto a doença não era dengue.

Muitos microorganismos são transmitidos por saliva. A concentração de pessoas e os hábitos sociais, como ambientes confinados e cada vez menores, sem circulação adequada de ar, com temperaturas elevadas, utilização de ar condicionado sem manutenção, concentração de pessoas em várias repartições, práticas de beijos frequentes, conversas muito próximas, compartilhamento de objetos, copos, talheres, toalhas, permitem sua rápida proliferação e consequentes epidemias ou pandemias.

Cabe ao conjunto de profissionais da saúde, ações mais integradas no sentido de promover avanços nos diagnósticos das doenças, estando atentos à sintomatologia, utilizando os exames laboratoriais como complemento e confirmação dos casos, mas não apenas estes como evidência, o que tem sido prática comum na medicina. A “escravidão” laboratorial a que se submetem os profissionais, e a “submissão” ao setor farmacêutico, tem tirado o que há de melhor no ser humano, a sua capacidade de pensar e agir, seu espírito de investigação, a capacidade natural de evolução.

Os sintomas na maioria dos casos são anteriores aos exames laboratoriais, mas tem sido colocados em segundo plano, desmerecidos em muitos casos. O paciente pouco é ouvido, seus relatos não tem valor, suas dores, quando não confirmadas em exames, são meras “criações” da sua mente e o seu corpo é “loteado” entre os profissionais que se especializam em áreas distintas e particularizando o todo, perdendo a essência da integração, como se os órgãos funcionassem em sistemas isolados.

Um dos maiores desafios de nossos tempos é permitir o avanço da ciência de forma a controlar microorganismos patogênicos. A evolução de microorganismos, resistência à antibióticos e novas adaptações, tem conduzido a sociedade à vulnerabilidade na saúde e o descontrole dos mecanismos de vigilância. Por mais que possamos avançar na bioengenharia, adaptando microorganismos a nosso favor, devemos sempre nos lembrar de que vírus, bactérias, fungos, já existiam muito antes da presença do ser humano no planeta. Talvez, nossa maior derrota, enquanto espécie possa ser para indivíduos infinitamente menores do que nós, aqueles que não vemos.

(Antônio Pasqualetto, prof. dr., engenheiro agrônomo - [email protected])

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