Opinião

Será que criar uma igreja é ter grandes lucros financeiros?

Redação

Publicado em 26 de junho de 2015 às 00:14 | Atualizado há 10 anos

 

Se abrir uma empresa é sonho de consumo de todo empreendedor, montar sua própria igreja virou sinônimo de um bom negócio. No último fim de semana, a seção de classificados de um jornal de Brasília tornou público o desejo de um certo homem chamado Francisco.

“Procuro duas pessoas para juntos abrirmos uma igreja”, diz a curta mensagem na área destinada a recados, logo abaixo de outros anúncios em que homens e mulheres procuram parceiros para relacionamentos sinceros. A mensagem de Francisco vem acompanhada do número do celular para contato, quem se atreve a ligar para o telefone indicado, rapidamente esclarece qualquer dúvida sobre o motivo do negócio.

Na segunda-feira, o autor do anúncio, que se apresenta como Francisco, foi direto ao ponto:

– Eu não sei qual é o seu objetivo.

O meu eu sei. É espiritual e financeiro. Sou bastante objetivo nos meus negócios – avisa.

Ele diz que prefere ser franco porque não quer perder tempo com discussões sobre ortodoxia religiosa. Sem contestação do outro lado da linha, Francisco se sente à vontade para expor seus planos, ele quer fundar uma igreja pentecostal como muitas outras que existem por aí e ganhar muito, muito dinheiro. Basta usar técnicas de hipnose coletiva, simular milagres e recolher dízimo.

– Não tem limite. É muita grana. Dois milhões. Dez milhões. Ou até mais. O negócio é um rio correndo para o mar. Francisco tem como espelho pastores de outras igrejas que surgiram no nada e, de repente, se tornaram um império.

Ele diz que não quer exatamente ser uma estrela de TV.

Não é um grande orador e nem faz questão de demonstrar conhecimento profundo de textos sagrados.

Para o mais novo candidato a pastor, basta uma sala num barraco qualquer, de preferência numa área bem pobre e algumas cadeiras de plástico.

– As igrejas não estão procurando pastores.

– Eles querem um sujeito que tenha poder de convencimento. Que é uma coisa muito mais rápida. Você vai chegar numa sessão, vai falar e converncer o povo. A pessoa vai ficar tão convencida como se tivesse hipnotizada. Vai te dar 10% hoje. Amanhã dar mais uma ‘oferta’ alçada e conta o milagre para os outros – explica.

Segundo ele, as pessoas mais simples querem milagres e estão dispostas acreditar em qualquer situação que pareça extraordinária. O futuro pastor diz ainda que os riscos do negócio são mínimos.

“O aluguel de uma sala num bairro pobre fica em torno de R$ 500. As cadeiras de plástico podem ser compradas à medida em que o número de fiéis for aumentando.”

Ele até sugere um lugar para começar: a Vila Estrutural, uma das favelas mais pobres do Distrito Federal. Não importa se outras igrejas chegaram primeiro.

– Quanto mais, melhor – diz.

Em seguida convida o interlocutor para uma conversa particular para acertar os detalhes do negócio. No primeiro contato não pediu investimento inicial dos sócios, nem disse como o negócio será rateado. “A fé pode render muito. Exemplos não faltam.” E, então, ele começa a citar nomes de outros aventureiros que se tornaram ricos, muito ricos, vendendo ilusões. Vi o vídeo e fiquei incrédulo, pois Francisco é de uma serenidade quase religiosa. Quem quiser assistir ele está disponível no youtube.

Lembrei das palavras de São Paulo quando escreveu a seu amigo Timóteo, “O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males”, chega ser deprimente assistir a simpatia quase que súbita de pastores pelos membros que dispõe de um certo poder aquisitivo, claro que esta não é uma afirmação a todas as igrejas, mas boa parte delas, onde o ter vale, muito mais do que o ser. E não pensem que falo besteira, sou do meio, sou da cozinha, sei do que falo. Infelizmente o deslumbre pelo dinheiro tem distanciado muito líderes religiosos do verdadeiro evangelho de Cristo, Cristo que era manso de espírito e humilde de coração.

 

(Ian Leão, acadêmico de Direito – Fafich – [email protected])

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