Opinião

Zé da Horta, um brasileiro exemplar (destaque na hortaliça e no caratê)

Redação DM

Publicado em 10 de julho de 2015 às 23:12 | Atualizado há 10 anos

Ser trabalhador e honesto deveria ser a obrigação de todo homem, mas na prática isto não acontece, principalmente pelo lado da classe política, rodeada de escândalos e propinas. Mas no sul de Goiás, na cidade de Rio Verde, um brasileiro dá o grande exemplo para a nação. José Ferreira da Silva, o Zé da Horta, levanta às 5 horas, cuida de seus 50 canteiros de alface, rúcula, cebola e molha a terra com sua dedicação. Olha cada detalhe de sua plantação, regada com carinho, ureia, sabedoria e mãos calejadas. Joga a semente no solo e espera pela colheita, sendo conhecida por sua persistência e iniciativa com as verduras e legumes. Depois, com os frutos em suas mãos, sai de casa em casa, rua por rua, vendendo suas alfaces e diversos cheiros verdes de sua região produtiva. Vende cada pé de alface com rara educação e zelo com o cliente, mostrando seu sorriso constante e fala mansa. Casado com sua esposa Chiquinha, valoriza o trabalho, o caráter e regionalismo, derramando suor e bons exemplos em cada nova alface ou rúcula plantada e vendida, consagrando o seu sugestivo apelido de Zé da Horta.

Assim é a rotina diária de Zé da Horta, que depois das 18 horas abre a sua academia de caratê, ministrando aulas para mais de 20 alunos. Ele é mestre nas artes marciais, segundo Dan na hierarquia do esporte das mãos vazias. Um exemplo de dedicação e idealismo, levando seus alunos para disputar campeonatos em Santa Helena, Goiânia, Jataí, Mineiros ou qualquer parte de Goiás; e já esteve até na Argentina, acompanhando João Mendes, outro mestre das artes marciais de raro estilo. Zé da Horta é proprietário da Academia Natsukal, muito conhecida e valorizada em Rio Verde. Ele dá palestra, conta sua história de vida e diz para os seus alunos só usar o caratê para o bem, assim como agregar valor de cidadão na caminhada da vida. Depois, fechando seu dia, o idealista abre o seu pit dog Chamego Lanhes, onde serve deliciosos espetinhos e toda variedade de lanches. É uma figura popular na cidade, e com seu trabalho diário já conseguiu comprar uma moto e um carro, consolidando o valor do trabalho de suas mãos amadas e calejadas. O dia para ele deveria ter 48 horas, pois Zé da Horta concilia trabalho, esporte, comércio com rara habilidade. É presença constante nos campos de futebol e shows de músicas, fabricando e vendendo o seu espetinho sem colesterol e com muitos clientes. Em tese, não sobra tempo para o seu descanso, pois ama o que faz e luta pelos seus ideais, seja o comércio, plantio de verduras e aulas de karate. Só fecha o seu estabelecimento para curtir os jogos de seu time, o Vasco da Gama. Plantar, colher, regar, educar, tratar bem a terra e as pessoas são posturas usadas por José Ferreira da Silva, o homem que sabe ser educado mesmo ter feito um curso superior. No Brasil atual, divulgado por tantas propinas e desajustes, Zé da Horta é uma feliz biografia de vencedor, sem pisar nas pessoas ou nos princípios verdadeiros dos grandes homens. Trabalhar, praticar esportes, produzir alimentos, nutrir o corpo e alma são referências de quem nasceu pobre e mesmo assim não se enveredou pelo mundo das drogas ou dos outros caminhos do dinheiro fácil. No passado ele jogou futebol e foi até técnico de um time chamado Bragantino, em Rio Verde. Hoje colhe os frutos e amigos de sua personalidade transparente e vibrante, com fé, amor, disposição para sujar as mãos de terra e ao mesmo tempo mostrar uma ficha limpa na sua trajetória. O Brasil tem gente assim, humilde, guerreiro, determinado, educado, disciplinado, com vontade de vencer mesmo sem se vender ao sistema. Talvez seja por isso que Zé da Horta não tenha sido eleito para vereador quando foi candidato, pois o vascaíno de Rio Verde não sabe ter duas caras. Um brasileiro exemplar, tanto na vida do esporte quanto no esporte da vida, semeando amor, paixão pela terra e amigos, mostrando dignidade em cada passo ou pé de alface vendido. Ainda bem que o Brasil ainda tem gente com este perfil, que procura vencer com as mãos limpas, mesmo quando tem de mexer na terra e adubar as verduras que irão alimentar a progressista cidade de Rio Verde das Abóboras. Tomara que os homens de Brasília se espelhem no Zé, que solta foguetes nos campos de futebol só para anunciar o início de mais uma partida. Simplesmente Zé da Horta: alguém aceita copiar esta receita cidadã?

 

(José Carlos Vieira, escritor, jornalista do Jornal Folha da Cidade, Rio Verde, E-mail [email protected])

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