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OPINIÃO

O próspero caos indiano

A Índia é um país de 1,2 bilhão de habitantes em um território menor que a metade do Brasil. Até 2020 deve ultrapassar a população chinesa, que hoje é de 1,3 bilhão, devido ao forte controle populacional que vem sendo feito na China. Sua capital é Nova Déli e a cidade mais populosa é Mumbai, carinhosamente chamada de “cidade dos sonhos” por ser sede de Bollywood, a indústria de cinema indiana, que tem esse nome em razão da junção do antigo nome da cidade, Bombay, e Hollywood, que todo mundo conhece.

O país foi colonizado por britânicos, mas eles não foram os únicos que estiveram por lá. Franceses e portugueses também tiveram esse privilégio. O nome Bombay, inclusive, tem suas raízes na língua portuguesa. O “bom” é justamente o adjetivo do nosso idioma, e o “bay”, em inglês, significa “baía”. Ou seja, “baía boa” (os britânicos deram o nome e eles normalmente não concordam o substantivo com o adjetivo na língua portuguesa com eficiência). Na época das grandes navegações, chegar às Índias significava, muitas vezes, chegar a Mumbai por causa da sua posição geográfica estratégica.

Um dos grandes legados dos britânicos foi a linha ferroviária. Apesar de trens velhos e que sempre atrasam, pelos menos eles os têm. Já o legado português pode ser evidenciado na arquitetura de igrejas, presentes principalmente no estado litorâneo de Goa. Por falar em igrejas, a religião é de suma importância ao analisar praticamente qualquer coisa que diz respeito à Índia.

79,8% da população é hindu, 14,2% muçulmana, 2,3% cristã, 1,7% sikh e 2% outras (muitas outras). No Brasil, combater a desigualdade social não é tão simples. Na Índia, além das barreiras entre as classes sociais, há também o fator religião. A sociedade hindu é dividida em castas, que foram banidas judicialmente logo após a independência, mas ainda persistem enraizadas em muitos indianos e freiam o desenvolvimento social.

Geralmente, a Índia é tida como um país onde as religiões vivem em harmonia. Em comparação com algumas zonas de conflitos religiosos, a premissa, de fato, procede. Entretanto, com o governo do atual primeiro ministro Narendra Modi, que subiu ao poder em maio do ano passado, as coisas começaram a tomar outro rumo. Ele é do BJP – um partido conservador hindu –, persegue outras religiões e já ficou proibido de entrar em alguns países, como nos Estados Unidos, por massacres contra muçulmanos no estado em que governava.

A violência contra as mulheres é outra característica negativa atribuída à Índia, onde o índice de estupro é o maior do mundo. Neste caso, a religião também desempenha um papel relevante. O hinduísmo as reprime fortemente. Ser mulher e pertencer a uma casta baixa é praticamente uma sentença de morte longa e dolorosa. A população numerosa também exerce sua importância. Do 1,2 bilhão anteriormente citado, a maioria é de homens e a religião permite o sexo somente após o casamento. Isso quer dizer que muitos homens ficarão sem relação sexual e, por isso, o instinto machista aparece e faz com que eles sejam atiçados a ponto de cometer cada vez mais estupros.

Com tudo o que foi posto, juntamente com o senso comum, pode-se pensar que a Índia é um caos. O trânsito realmente é, mas o país vem crescendo economicamente de uma forma assustadora. Em 2050, seu PIB já terá ultrapassado o dos EUA e ocupará a segunda colocação mundial, atrás apenas da China. Esses dois países, juntos com Brasil, Rússia e África do Sul compõem o grupo dos BRICS, que recentemente criou um banco próprio, cujo presidente é indiano, e que muitos economistas acreditam ser uma alternativa ao Banco Mundial e ao FMI, fazendo com que a influência estadunidense e europeia diminua.

Devido à grande população, encontrar trabalho no país não é uma tarefa muito fácil, o que fez com que muitos indianos se vissem obrigados a ir para outros países em busca de melhores oportunidades. O governo então percebeu que havia muita gente qualificada fora da Índia – principalmente engenheiros e professores – e resolveu dar incentivos para que eles retornassem (alguns permaneceram fora, como Sundar Pichai, recentemente anunciado como futuro CEO do Google). Assim, diferentemente dos demais países emergentes que passam por crise econômica, a Índia segue crescendo a passos largos.

(Marcelo Mariano, acadêmico de Relações Internacionais da PUC Goiás)

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