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OPINIÃO

Padre Pereira – Uma vida, muitas histórias pela Fé, Alegria, Ciência e Educação e Cerrados

“Eu vim para que todos tenham vida”
João

1. Padre José Pereira de Maria – padre Pereira – quem não soube, conheceu, trabalhou, conviveu, celebrou, caminhou nestes últimos ciquenta anos dos séculos XX e XXI? Padre Pereira do Piauí de Floriano, Picos, Terezina, Parnaíba das praias, caatingas, gurgueias, serras, grutas, rios, vestígios do passado e do presente da humanidade de Deus. Um dia como seu avô que saiu da Paraíba e foi para o Piauí (fez uma promessa de mudar o nome Pereira da Silva para Pereira de Maria mãe de Deus e protetora da família) para se livrar dos ranços gangaceiros dos sertões nordestinos cariris, serras talhadas, araripes e angicos da vida de dormir num lugar e acordar em outro senão esta vida já era. Seu pai e família rumou para o norte de Goiás, Porto Real hoje Nacional. E onde ainda mora a família de Antônio Pereira de Maria. Padre Pereira já estava no seminário em Recife. Naquele tempo de império e da república velha qualquer família numerosa prometia filhos e filhas para a igreja e para o exército. Promessa dura mas que tinha cumprir. Fazer o admissão, primário e sentar, servir como praça na polícia, exército, e ou marinha porque ai ganharia e conheceria o mundo navegando nos oceanos da vida. Era costume de vez e quando o vigário sertanejo fazer desobrigas, fazer batizados, crismas, casamentos, recolher donativos dos santos. E levar meninos e meninas adolescentes para conventos e seminários. Seu Firmino tinha prometido o mais velho que quando soube da vinda do padre, escafedeu para o mato. O vigário era paciencioso e ficava ali fazendo suas celebrações e comendo do bom e melhor até que o prometido aparecesse. Não apareceu. O servo de Deus já ia juntar, arrear cavalos, jumentos, mulas porque não dava mais para esperar. E porque o primogênito de Maria não ia aparecer nunca. E outros lugares necessitava de suas ações e desobrigas celebrativas. O menino José estava ali assuntando conversas de gente grande quando seu Firmino ansioso perguntou se ele não queria ir? Na bucha disse que sim. Atrasou a viagem do padre mas o novo seminarista também marcharia com ele. E tempo foi andando e quando seu pai já estava rumando para o antigo norte goiano das terras do padre João, padre Luso e do bispo francês, coronel do exército que fora de Napoleão, (D. Alano Du Noday) deixou tudo e engajou na congregação dominicana. E tornou pouco depois bispo da igreja de Porto Nacional por muitos anos naquelas paragens dominadas pelo robusto Rio Tocantins. Padre Pereira padre novo nordestino rumou para Porto Nacional. Um dia resolveu vir a Goiânia e acabou incardinado na nova Arquidiocese brasileira de Goiânia com o bispo paraibano de Patos. Bispo de Penedo, Aracajú de D. Fernando. D. Fernando de agora e para sempre no Centro-Oeste dos cerrados da Goiânia de Pedro Ludovico e na aurora da nova capital do Brasil/Brasília, sonhos bicentenários de Dom Bosco, por uma nova civilização que surgiria no paralelo treze. Paralelo dos cerrados da águas emendadas de JK a Dilma Rousseff. Padre Pereira senta praça em Goiânia. Por coincidência um irmão mais novo com nome de João Bosco, vem para Goiânia, torna Varjão sua sede e tragicamente morre de acidente na rodovia BR-060. Até hoje Varjão chora sua morte e de outro paraibano Padre Moacir. Padre Pereira assume uma paróquia chamada Vila Operária de N. S. das Graças. Um vulcão de renovação surge na igreja com o Concílio Vaticano II de João XXIII e Paulo VI. Abrir janelas, portas. Abrir a igreja para uma evangelização libertadora para todos homens e mulheres, e socialmente para os mais pobres na expressão e desejos de Jesus Cristo. Torna-se ponto de referência as pregações do padre Pereira. Torna professor do Instituto de Educação e da UCG hoje PUC-Goiás. Lá conhece a extraordinária professora e educadora da fé cristã Maria Helena Barcelos Café com vasta experiência. E é hoje reconhecida como catequista. E formadora de novos professores/as para as redes de escolas estaduais e municipais e para a própria universidade. Educação para as mudanças sociais para uma sociedade de paz, partilha e justiça social. Padre Pereira que viria para uma estadia em Goiânia ficou aqui para sempre e pôde ajudar a igreja viver as mudanças do concílio Vaticano II com todo o clero e especialmente com D. Fernando Gomes dos Santos presentes no Concílio, na conferência de Medellin por uma comunicação social a serviço de uma educação e cultura libertadoras conta com colaboração extraordinária de Paulo Freire de toda pedagogia libertadora para analfabetos e para as universidades e escolas. Tempos quentes e desafiadores com a luta pelas reformas de base de Jango: agrária, educacional, bancária e administrativa com participação de gente como Betinho, padre Vaz, D. Helder, Marina Bandeira, Darcy Ribeiro, num Brasil rural que estava se transformando em urbano. Migrações rurais e regionais, cidades grandes no sul maravilha.
Padre Pereira na Vila Operaria com ajuda de universitários/as realizava uma pastoral participativa através do método ver, julgar e agir. Ver a realidade social e seus problemas e avaliar, julgar, comparar com as verdades do evangelho radical de Cristo. Ver, avaliar e engajar na educação popular, alfabetização de jovens e adultos pelo Movimento de Educação de Base/MEB com rádio Difusora e grupos de base espalhados por várias regiões goianas. Padre Pereira animava a paróquia e os movimentos de juventudes católicas (jec, juc, jac), MFC – Movimento Familiar Cristão, ligas, congregações, apostolados, catequeses. E liturgias mais próximas da comunidade, depois comunidades eclesiais de base. E mais pastorais populares da terra, indígenas, juventude, sindicalismos rurais e urbanos, missa em português. A paróquia do padre Pereira torna referência para padres frades, irmãs que vinham de outros estados e países para o Brasil central, especialmente para a igreja de Goiânia. É criada a CNBB e Padre Pereira colabora com D. Fernando na Curia, regional da CNBB, (com P. Wilson e F. Itami), SPAR, Centro Pastoral, com suas ricas e celebrativas reuniões mensais. Torna-se professor da UFG, UCG/PUC-Goiás e IFG. Professor de antropologia e sociologia nos recentes cursos da faculdade de filosofia. Padre Pereira e o golpe de 64. Dedurado na recente UFG fundada por Colemar Natal e JK e Clovis Salgado. Colemar deposto veio interventor do Ceará. No Ceará não tem disso não? Pressão política de todos lados leva padre Pereira sair do País. Vai estudar em Paris onde estão seus amigos Samir e Rui Rodrigues da Silva, um dos maiores secretários de educação do Brasil aqui no Governo MB. Padre Pereira dos grupos de estudos sobre fé e evolução? Padre Pereira perde o irmão Firmino. Choque. Ficam os irmãos, sobrinhos, primos Antônio, Helena, Carmo, Terezinha, Marco Antônio, Maria das Graças. E mais Jairzinho, Talita, General apelido dado pela amiga Heloisa Helena Leão Veloso de Rio Verde para o mundo, para a liberdade e solidariedade. Padre Pereira da reitoria da UCG/PUC-Goiás. Padre Pereira de tantas lutas. Padre Pereira das utopias da vida. Sonhos de um mundo melhor. Padre Pereira do jornal Brasil Central com padre Serra, Cibele, Beraldo, Rodolfo, Carmelo, Alaor, Ivo, Jesus. E de D. Fernando, D. Antônio e D. Washington, CNBB, CRB, CPT, CiMI do Antônio Carlos Moura de D. Tomas e D. Pedro Casaldaliga. Padre Pereira das assembléias diocesanas por uma igreja cada vez mais engajada nos rumos do evangelho e do concilio Vaticano II, conferências de Medellin, Santo Domingo, Puebla e Aparecida. Padre Pereira da Revista da Arquidiocese e da Comunhão e Participação. Padre da Catedral de D. Fernando invadida e reprimida juventude estudantil pelas forças da ditadura nada branda. Padre Pereira de mil batizados, crismas, casamentos, celebrações por um mundo de paz e justiça. Padre Pereira da SGC/UCG/PUC-Goiás. Padre Pereira de Maria Tereza, Veridiana, Isadora. Padre Pereira de Tânia, Valdi, Betinha, Hélio, Genilda, Ivanildes e de todos nós da ação católica engajada por mudanças sociais requeridas pelo povo trabalhador das cidades e dos campos cerrados. Padre Pereira de neis, aldas, aparecidas, isas, betinhas, bizes, vandas, jerusas, brandãos, alices, mindés, naziras, darcis, nadimes, neides, marildas, lumunbas, badicos, osdirs, jofres, augustas, claudianas, chicos, leas, ivanis, lucis, stelas, trindades, diongs, elters, horiestes, marias, maria alices, servitos, gils, roses, marildas, hélios moreiras, zoroastros, olvanirs, oscavus, pereirinhas, percivals, zemoreiras, lorimés, iberes, lindas, claudios, marios, zevicentes, moarcirs, anas, joãos, climacos, jonathas, galias, wagners, juarez, zinas, revys, clelias, wolmirs, olgas, lacis, malus, carlitas, maristelas, ninis, geraldos e cidas. E walderezes, batistas, sergios, paulos, emersons, peixotinhos, e da igreja universitária de São João Batista evangelista de todas criações e evoluções do planeta terra/água de Deus do universo todo. Padre Pereira, Dario, Joadir Costa estão nos céus. Padre Pereira das lambretas e vespas, numa Goiânia em constantes mudanças com homens e mulheres, santos e pecadores libertados para sempre por Jesus Cristo com sua mensagem revolucionária assumida integralmente pelo Papa Francisco que nos apela pela ecologia social, pela misericórdia. E compaixão e ao lado dos mais pobres, eleitos por Deus da cruz e do bálsamo, da ressurreição pelo amor a todos. Uns pelos outros com vida digna de ser vivida hoje e amanhã. Padre Pereira amigo de muitas caminhadas, encruzilhadas, rezas, terços, salves rainhas, pais nossos, aves marias! E a Eucaristia que nos dá graça pela graça do Deus desconhecido de Paulo o grande irradiador das palavras de Jesus desde oriente a ocidente. Padre Pereira de fevereiro do carnaval e quaresma para os arrependimentos de todos os nossos pecados individuais e coletivos. Amém!
Padre Pereira partiu, ficaram muitas saudades, muitas lembranças... E quantas histórias e estórias de vida. Padre Pereira, pedimos passagens para todas lutas e caminhadas libertadoras do povo de Deus.

(Pedro Wilson Guimarães, professor da UFG e da PUC-Goiás, secretário de Direitos Humanos e Políticas Afirmativas da Prefeitura de Goiânia, militante dos Movimentos de Fé, Alegria e Política, Educação, Cerrados)

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