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OPINIÃO

Era um dia assim - Capítulo II

No capítulo anterior, um sujeito invadiu a sala do dr. Manjuro e deixamos dona Roseane desmaiada no sofá, indicando que o resto seria história de página policial, pois bem, vamos a ela...
Página policial do dia seguinte:
“Nesta manhã, foi encontrado o corpo, sem documentos pessoais, de um homem aparentando possuir entre 30 e 50 anos de idade. Branco. Trajava camisa azul claro, calça cáqui e sapatos de bico duro. Pretos. O mesmo estava estirado entre os bancos da praça Central da cidade. Na mão esquerda trazia uma aliança de ouro sem gravação interna. Em primeira e superficial análise, a perícia científica identificou perfuração de projétil por arma de fogo na altura do coração, possivelmente a causa do óbito ocorrido no dia anterior. Testemunhas dão conta de que o elemento entrou na praça de forma normal, vindo do sentido contrário ao centro, encontrou um banco vazio e se sentou pesadamente. O zelador do prédio de frente ao local notou o sujeito quedado e imóvel nas primeiras horas da manhã quando deu o alarma. Não havendo mais informações, segue a investigação. O delegado responsável pelo caso admitiu não haver suspeitos no momento, embora acredite saber quem seja a vítima. A possível identidade foi preservada para não atrapalhar os procedimentos policiais.”
Nesse dia o escritório do dr. Manjuro de Almeida não funcionou, seus vizinhos garantem que isso é extremamente anormal, ele nunca deixou de trabalhar uma vez sequer nesses longos últimos anos.
Mas só vamos encontrá-lo em sua casa, sentado na cama, ainda de pijamas, lendo o jornal, o mesmo que deu a notícia do cadáver encontrado.
– Raios, todos dirão que fui eu, até a dona Roseane dirá que fui eu, a cabeça tonta tinha de perder os sentidos justo naquela hora?
– Tá falando com quem, querido?, perguntou sua esposa, dona Márcia de Almeida Albuquerque, enquanto arrumava o cabelo no banheiro com azulejo azul clarinho.
– Ninguém, meu bem, só pensando aqui com meus papéis.
Eram 8 horas da manhã, dr. Manjuro decidira não ir trabalhar hoje sem nem saber por que, queria pensar, dispensou sua secretária lhe garantindo que nada de grave ocorrera durante os 15 minutos que ficara inerte, apenas resolvera descansar um pouco dos nervos. Ela até agradeceu. Não falaram do acontecimento: Ela não perguntou e ele não respondeu.
Agora o bom advogado se questionava se ela teria lido a notícia do corpo na praça, quase de frente ao seu escritório, se tivesse lido, apesar das limitações, iria somar um mais um e claro, condená-lo imediatamente, já chorando pelo falecido.
Sem mais ou o menor respeito por suas divagações, a campainha da porta de entrada tocou, um toque suave, quase sedutor.
Dr. Manjuro ouviu os passos da esposa, a dobradiça da porta se abrindo, pequenas vozes, os passos voltando e:
– Bem, a polícia quer falar com você, não disseram o assunto, vou aproveitar e ir na mercearia rapidinho, um beijo pra você. Eles estão na sala esperando, disse que você ia trocar de roupas primeiro, se adiante. Outro beijinho.
Eles foram rápidos, pensou rapidamente enquanto vestias suas vestes, pensamentos repetidos em sua mente, a discussão, a secretária desacordada, o tiro (houve um tiro?), a saída do sujeito, o assunto da trama, o que mais? Fica pra depois, preciso ir ter com a lei, estão me esperando (isso é um pouco tenebroso), sou inocente, de que sou inocente? Eles não sabem, eu mesmo não sei. Há um corpo na praça (tinha que ser na praça?). Chega, vamos, eles estão esperando a mim. Vamos.
– Bom dia meus amigos, em que posso ajudá-los hoje?
Continua...

(Olisomar Pires – olisoblog.com)

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