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OPINIÃO

Goyaz – Goiaz - Goiás

Em Goyaz, como se grafava, no começo de todos começos, as pequeninas vilas eram abrigadas na placenta verde das matas! Uma terra do acolhimento. Há uma ideia de aprofundamento, já que se concentra na depressão do Araguaia, com suaves inclinações.
São os terrenos antigos e aplainados pela erosão, que originaram os poéticos chapadões. Do rio decantado em prosa e verso, acompanhando seu leito, a inclinação do que se chamou, depois, Goyaz! Tudo fluiu assim, sem cessar dia e noite, desde os tempos imemoriais.
Tudo nasceu no calor da terra dadivosa, ao fazer surgir o ouro, as riquezas minerais tantas; além da agricultura incipiente, cujos alimentos mataram as fomes iniciais. Tudo teve formação num projeto de Nação do século XIX, eivado pelas duas frentes de ação, uma, na tentativa de tornar o litoral com ares europeus e outra pela interiorização, pelo conhecimento do sertão e das possíveis riquezas e possibilidades havidas no desconhecido.
É preciso uma busca mais científica nessa concepção. Não só era idealizada a natureza em Goiás, como também imaginada, ainda no Império como fonte de muitas riquezas. Tal fato tornava cambiante os significados de termos como pátria, nação e Estado.
Ao pensar a natureza goiana, numa oscilação do tempo, o seu sentido de pátria, nação e Estado, a foto nesse texto, emblemática, nos evidencia JK no Cerrado, no campo limpo, a olhar o horizonte e, por certo, a pensar na grandeza desse chão infinito e plano. De olhar incisivo marcaria a secular luta de interiorização da Capital Federal. O Cerrado seria o chão possível a esse arrojado projeto.
Ainda segundo Lèvi-Strauss: “O homem atribui à natureza, traços humanos, para poder se revestir, ainda que ilusoriamente, das forças da natureza. Na cosmologia grega, o mundo é dotado de uma hierarquia funcional que o torna semelhante ao organismo biológico.” É a única forma de o homem poder compreender a natureza e suas diferentes manifestações. Segundo o autor de Tristes trópicos, essa ilusória visão da natureza só é descartada a partir de Copérnico com sua revolução mecanicista e a natrueza passa a ser vista como “ser-outro”.
É preciso entender de uma maneira mais densa, profunda e plurissiginficativa, nas diferentes leituras do mundo pelo viés da natureza. Terra que é princípio das eras, do aprofundamento das entranhas. Ao que se sabe o homem é parte constituinte da natureza, essência também da natureza, vindo do pó milenar das coisas, de origem imemorial.
Pelo viés da Geografia observamos o Cerrado, enxergamos as coisas e as destacamos no espaço territorial do que, mais tarde, se chamaria Goyaz! A literatura, com sua carga semântica, carregada de profundos significados, funda o espaço e os lugares e constrói uma espacialidade própria, regida, também, pela emoção. Assim ocorreu em Goiás. Tantos escritos mostraram o espaço por uma ótica diferenciada, continuando ainda a ser Goiás, terra perdida nos confins do País.

Até mesmo os escritos teóricos da Geografia se firmaram numa tentativa de buscar abranger a realidade espacial em diversas escalas, já que o Cerrado passou a ser visto em profunda horizontalidade, como toda a Geografia brasileira passou a abordar seus temas. Em casos específicos, assim também ocorreu com a Literatura. Antagonicamente, a mesma Geografia abriu espaço para a renovação crítica, que se operou no início dos anos de 1980.
O interior era sempre o interior, com seus atrasos e dificuldades inimagináveis. E tal distância e desconhecimento alimentava o imaginário de muitos no litoral e nas cidades mais opulentas e desenvolvidas, como tão bem estudou Julio Suzuki em suas muitas obras sobre a simbiose possível entre texto literário e Geografia.
Os textos em prosa e verso, sejam por poemas, odes, elegias, éclogas, romances, contos, novelas, crônicas, relatos históricos, os mesmos evocam o passado e o presente, a configurarem o Cerrado com as suas constituintes próprias, vegetação, fauna e flora; assim como recriam pessoas, lugares, rurais ou urbanos e dinamizam a memória e os acontecimentos. Repensam os atores do mundo cerradeiro e a evolução questionável de um mundo modificado paulatinamente.
Geograficamente configuram o tempo e mostram a dinâmica social e política que engendrou toda uma transformação. Mostram, ainda, a ligação com o ideário de construção de uma Nação, sob a égide da Monarca e o ideário que estaria longe de ocorrer, que era a unificação.
Há um diálogo com os lugares e particularização da região, configurando todo um universo reconstruído pouco a pouco. Desde o princípio, as categorias geográficas foram inseridas na análise da criação literária goiana, a identificar o Lugar sob primazia. Era preciso dizer o que era o Cerrado nessa visão; dentro dele o recorte de Goiás pelos gêneros e os autores selecionados pela escala do tempo, na cronologia.
Tantos que vieram para Goiás e particularizaram a região, na criação de tantos diferentes lugares no chão do Cerrado, configuraram o dinamismo dos ciclos econômicos no ir e vir pela terra goiana: Ouro, gado, cidades, fazendas, plantações, ferrovias, indústrias. Idas e vindas num mesmo chão. E os literatos tentaram identificar esse chão, chão vermelho de ermos e gerais, de caminhos e descaminhos, de tropas e boiadas, a recordar os nomes de obras literárias de Eli Brasiliense, Carmo Bernardes, Bernardo Elis e Hugo de Carvalho Ramos, tantos e tantos outros.
E nos começos do “chão cerradeiro dos goyazes”, o que se buscava da natureza eram as riquezas minerais nascidas no seu solo. O que estava guardado dentro da terra e o que ela escondia. O de sobre a terra, no caso o Cerrado, no princípio pouco importou.
E, ao contrário do que se pensa sobre a importância histórica do Bioma-território Cerrado e de suas terras, na imaginação geral, o mesmo se constitui em terras muito antigas, configurado, na arqueologia, como região do Holoceno antigo. Há muitos sítios arqueológicos no Cerrado, principalmente na região de Serranópolis, no Sudoeste goiano, em que se encontram vestígios pré-históricos.
Só a partir de 1727, data oficial da ocupação, essas terras passaram a ter dono, no recorte do que seria Goiás, como mostram as cartas de Sesmaria, títulos de posse dos terrenos, como esta original, de 1733, das primeiras concessões nas proximidades de Vila Boa de Goyaz, no que se chamou “terra dos goyazes” e que permitiam a posse e a utilização das terras no âmbito do Cerrado intocável então.
Usavam esses primeiros homens Cerradeiros os instrumentos rudimentates feitos de pedras, com lâminas unifaciais bem feitas, ao certo para cortar as peles dos animais caçados. Nas cavernas, ainda podem ser vistas pinturas rupestres que singularizam esses animais, suas caças e suas vidas no inóspito ambiente, em animais como lagartos, tatus e onças. Há representações de árvores do Cerrado, o que mostra esse Bioma-território como resistente.
Goyaz, como se grafava, nasceu, assim, do mistério e do insondável das minas com seus sonhos e frustrações! O meio inóspito, o Cerrado, o Bioma-território era completamente esquecido e desprezado. O de cima da terra nada valia; valor tinha o que estava escondido, como já foi referido. Razão disso é que, sempre nas descrições geográficas e históricas desse período, o Cerrado é completamente desprezado.
A ambição da Coroa Portuguesa pelo ouro do coração do Brasil, nas minas de Cuyabá e de Goyaz, tornou-se gigantesca. Era um novo Eldorado bravio e desconhecido.

Nesse imenso território de Goyaz, as minas setecentistas eram comandadas pelos guardas-mores que se comprometiam a pagar ao menos 20%, ou, a quinta parte, para a Fazenda Real. Era esta a economia da Coroa, que explorava absurdamente a colônia e as novas minas que apareciam em pleno centro do Brasil.
O sistema rudimentar de aluvião era o empregado na exploração do ouro, cavando os barrancos dos rios nas vilas de Santa Cruz, Vila Boa, Pilar, Crixás e Meia Ponte principalmente. Era uma atividade predatória, destruidora dos leitos dos rios, utilizando mão de obra escrava. Lenta e difícil, era pouco rentável.
Do surgimento do Arraial de Santana de Goyaz em 1727 até 1749, o nosso território era insignificante como parte administrativa da Colônia. Só se esperava a riqueza que surgia de cada mina descoberta pelos afoitos faiscadores e exploradores do desconhecido chão.
A Carta de Sesmaria demarcava o domínio. O chão do Cerrado, outrora pertencente às diversas tribos indígenas, passou a ser dominado por únicos donos, senhores de poderio no século XIII, ávidos por ouro. A terra pouco importava e pouco valia, ao contrário. O chão cerradeiro era desvalorizado como “terra fraca”. Buscava-se o ouro e as riquezas minerais mais rápidas.
Tudo, porém foi passageiro, rápido, fugidio. O ciclo do ouro foi deveras curto e os donos das Sesmarias, em maioria desiludidos, abandonaram esse chão. Poucas décadas depois estas mesmas terras mudavam de dono.
Esse direito de posse sobre a terra vinha cerceado pelo uso de suas riquezas auríferas. Vegetação não tinha valor, ainda mais vegetação de madeira menos nobre, como as do Cerrado, nada significava, ou seja, por isso o Bioma-território é sempre relatado como inferior, nos escritos dos viajantes e estudiosos. O direito sobre a terra abria o sentimento também de pertencimento, que, mais tarde, seria alcunhado de “nacionalismo”, muito utilizado na Literatura, principalmente no Romantismo; em Goiás muito tardiamente pela distâncias geográficas e culturais.
Mesmo o chão dividido e vigiado à maneira da época, o contrabando, porém, acontecia com frequência, haja vista que a Capitania de São Paulo, muito distante administrativamente, não conseguia coibir os roubos aos cofres reais. Por esta razão e pelo crescimento contínuo da população das regiões das minas de ouro, o Conselho Ultramarino decidiu em 1749 criar a Capitania de Goyaz.

O caráter épico dado ao descobrimento das minas de Goyaz, explorado por muitos historiadores do passado caracteriza uma ideologia marcada pelo gosto ao literário, principalmente na Memória escrita por Silva e Souza, ou seja, pintar com nuances de epopeia, a saga dos primeiros caminhos abertos por aventureiros diversos nos caminhos e na “picada” para Goyaz. Essa Memória é um dos primeiros tratados sobre nossa terra, escrita de forma incisiva, a investigar os feitos dos primeiros homens que se aventuraram nesse chão.
Tudo aqui era um território puro, entendendo-se o termo como uma faixa completamente alheia do mundo ocidental, experienciada apenas pelas tribos indígenas que por este chão parado perambulavam na busca de caça e da pesca.
Não era um território na concepção geográfica atual, de um mundo em contrastes, lutas e conquistas dos mais fortes sobre os mais fracos.
Uma interpretação espacial do Cerrado destaca sua função em abrigar o mais importante corredor econômico do País, três capitais planejadas, inclusive a federal e um maciço populacional crescente. São impactos e pressões sobre o ambiente, que não podem ser desprezados quando se estuda o Bioma-território em sua totalidade.
Mas, a transformação do Cerrado impacta os sujeitos ali existentes e a suas maneiras de enxergarem o mundo, as coisas, os acordos econômicos e até a questão do dinheiro, do poder, da compra, do consumo: camponeses, indígenas, trabalhadores, migrantes, lavadeiras, pequenos sitiantes; todos sofrem os impactos das grandes culturas como soja, algodão e cana, que chegaram, ampliaram os espaços de produção, mas trouxeram muitas transformações.
Nesse pensamento, a contribuição da Geografia no entendimento da história e da evolução humana é incalculável. A “modelagem” do espaço identifica a ação humana na esteira do tempo. É lícito assim, entender que o espaço fora do cérebro humano é uma realidade incognoscível e dentro do mesmo, um conceito muito vago, ou seja, que como qualquer fenômeno do mundo, o espaço é dúplice.
Sua concepção muda de homem para homem. Na própria concepção de Einstein, estamos mergulhados no espaço e dele também fazemos parte, portanto jamais saberemos a sua totalidade. Já para Kant, o espaço é a condição essencial para a existência dos objetos nele contidos e por esse motivo o espaço não é neutro.
Há uma tensão criativa da natureza, que nos leva a nos integrar: homens, seres, frutos, flores. Tudo se integra ou desintegra quando o homem rompe com essa relação pelo seu egoísmo ou ambição desmedidos. Nisso se quebra uma lógica espacial, quebra com a dimensão ontológica de tudo.
Como acreditou, no passado, Lévi-Strauss em seus Tristes trópicos, é impossível haver uma só história ou uma única captação desse imenso espaço de múltiplos acontecimentos, que de tão chocantes, chegam a ser inacreditáveis. Tal fato, na época rompeu com a linearidade do pensamento intelectual, então burocratizado e marxista, buscando criar uma escala dentro do espaço. A simultaneidade era a única forma possível de destacar tantas ocorrências variadas.
É possível abordar os mais variados aspectos da economia e da população goiana, destacando os fatores que incentivaram migração para o Sul de Goiás a partir das primeiras entradas que estavam relacionadas à exploração aurífera no século XVIII.
Faz-se importante destacar a compreensão dos fatores que foram determinantes para a intensificação dos fluxos migratórios, no século XIX, quando milhares de mineiros e paulistas se deslocaram de suas regiões e se fixaram no Sul goiano, ocupando e demarcando terras – sobretudo, por meio da posse. Terra e escravos eram os grandes poderios das cidades, notadamente em Santa Cruz de Goiás, cabeça de Julgado.
Tal fluxo, no transcorrer do século XIX, foi intensificado à medida que os meios de comunicação e transportes se desenvolveram integrando de forma mais sistemática Goiás com a região sudeste.
Goiás, distante da administração e controle das autoridades constituídas, era um paraíso para o enriquecimento. Havia a maior possibilidade de adquirir terras por meio da posse, independentemente de qualquer formalidade, sendo a legalização das propriedades realizadas posteriormente por meio das “brechas” na legislação: os cartórios locais aceitavam, por exemplo, os contratos de compra e venda dessas terras que acabavam tornando-se legalizadas. Assim ocorreu com a maioria das cidades na região Sul de nosso Estado.
Silva e Souza em sua Memória Estatística da Província de Goiás, produzida em princípios do século XIX ao retratar o julgado de Santa Cruz, destacava a presença dos migrantes mineiros, em sua maioria, roceiros e criadores, que adentravam com relativa freqüência na região, à procura de terras e organizavam seus estabelecimentos na região, fato que a fortalecia e que a tornava necessária à administração de Goiás como ponto estratégico de comércio e empreendimentos.
Outro fator que dificultava a economia goiana era a carência de moedas apresentava-se como um grande empecilho tanto ao desenvolvimento de atividades mais produtivas, quanto ao comércio.
Também era sempre mencionada a ausência de moedas nos relatórios dos presidentes de Província, apontando a sua falta como um fator determinante que impedia o aumento das rendas públicas. Diante desta dificuldade em 1837, o então presidente da Província Luiz Gonzaga de Camargo Fleury lamentava a dificuldade de encontrar coletores, pois a maioria acabava pedindo demissão. A base da troca era uma constante.
O Padre Gonzaga de Camargo Fleury, com sua influência no Clero e na política, possuía boa influência junto à Corte e conseguia transpor certas dificuldades muito específicas desse imenso interior brasileiro, no bojo do Cerrado, em Goiás.
Até então, por meio de ma economia insipiente, os arraiais que se tornaram vilas e posteriormente cidades em Goiás, durante o século XIX e primeiras décadas do século XX, originaram-se, em sua grande maioria, de patrimônios religiosos, em que um ou mais proprietários, doavam terras ao santo de sua devoção, por meio de documento público onde o beneficiário era a autoridade eclesiástica. Em Goiás, vários de seus patrimônios se desmembraram durante o século XIX em virtude do crescimento da agricultura e pecuária na região.
No período em que Leite de Moraes governou Goiás (1881-1882) já se percebia um fluxo migratório intenso para as regiões Sul e Sudoeste de Goiás na primeira metade do século XIX, intensificaram o fluxo de viajantes, migrantes e o transporte de mercadorias pela estrada do sul e já também na década de 1850, diante do apelo da população local e dos comerciantes foi construída uma balsa no Porto de Santa Rita do Paranaíba, parte integrante do Julgado.
Já na década de 1890 migrantes continuavam a afluir para além das fronteiras. Assim, pela estrada do sul passavam as boiadas procedentes do centro-oeste em direção aos mercados consumidores do sudeste e, por ali chegavam os principais produtos importados por Goiás do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.
É lamentável que a historiografia brasileira e goiana pouco tenha se referido aos fluxos migratórios internos para a compreensão da dinâmica da ocupação e do processo colonizador de Goiás fora dos eixos de Vila Boa.
Com isso, muito do dinamismo dos mineiros no povoamento de Goiás ficou esquecido, e para onde afluíram famílias como Correa Bueno, Martins da Veiga, Martins Assumpção, Rosa do Carmo, Gonzaga Menezes, Coelho de Siqueira, Sousa Rosa, Luis Guimarães, Rodrigues Paiva, Antônio de Barros, Mendes Moreira, Barbosa de Amorim, Araújo Moreira, Pereira Vargas, Mattos, Parreira e mais outras dezenas de famílias anônimas de pardos e negros que se fixaram na região no século XIX.
As terras eram divididas entre os familiares e agregados na labuta diária no grande Julgado; o imenso trabalho era feito com o uso dos braços, tendo como instrumentos a enxada, o machado e a foice, sendo muito lento e com baixa rentabilidade produtiva.
Era uma economia de subsistência. As fazendas eram feudos e as casas dos proprietários eram erguidas sob uma estrutura de madeira, assoalhadas, geralmente de pau-a-pique ou adobe, barreadas, caiadas e cobertas por telhas, com uma planta retangular, com telhado de duas águas e uma repartição interna simples. Geralmente, eram sem forro sobre um porão e às vezes de terra batida, com um mobiliário rudimentar, nada de luxo.
No território que compreendia a atual região sul de Goiás – Silva e Sousa já notava em 1832, uma intensa migração mineira na região que se dedicava à agricultura e criação extensiva. Era o segundo foco da economia que se concentrava na região devido a dificuldade de se obter ouro, principalmente no Morro do Clemente.
Dessa maneira, vemos este espaço no que se pensou surgir Goiás, como um polo irradiador de outras tantas interpretações. Doutos homens literários, a seu tempo, buscaram frisar este momento no escopo da história. Daí se observa sempre ser o homem o centro da ordem social, mas, ao mesmo tempo é, também, protagonista e expectador dos pequeninos fatos cotidianos e dos grandes dramas universais.
A localização geográfica do Cerrado, ao longo do tempo, fez com que esse Bioma-território, possuísse milhares de quilômetros de fronteira com outros biomas brasileiros, o que possibilitou a convivência com outras diferentes práticas de vida e de diversos valores,
Por muitos, ao longo dos anos foi considerado o “Bioma-território esquecido”, em razão de ser o mais central de todos biomas do continente sul-americano. Goiás era, de fato, o oco de mundo, perdido nos confins da terra.
O lugar é, pois, uma categoria geográfica fundamental, já que se refere a uma fração do espaço onde as pessoas convivem, circulam, idealizam seus conceitos, vivem as suas histórias, felizes ou infelizes. O lugar é instantâneo e reduzido. O lugar é construído e reconstruído sempre, na marcha ininterrupta da história.
Era apenas o sertão, vasto sertão, tão bem descrito nas páginas magistrais de José Mauro de Vasconcelos (1920-1984) em seus romances pioneiros na divulgação do bravio Goiás (Rosinha, minha canoa, Longe da terra, Arara vermelha, Arraia de fogo, Kuryala, capitão e carajá) e que, hoje, são desconhecidas dos goianos novos, o que é lamentável.
Na Geografia febril do ouro houve delírio. Muitos caminhos, carregados de perigos e saques eram evitados. Abriam-se outros, aleatoriamente. O espaço goiano foi recortado por diversas novas veias, por meio do surgimento dos veios do ouro. Eram veias que varavam serras, chapadões, campinas e planaltos na exuberância do chão goiano. Os olhos dos homens ainda estavam injetados do calor da febre e não viam a beleza da paisagem.
Só passada a febre, seguida de prostração é que se pode abrir devagar os olhos e ver, no mundo perdido nas lonjuras, a necessidade de colocar os pés na terra e pisar o chão da espera, ou o “lugar da vida e a vida dos lugares”.
Não era mais o chão da pilhagem rápida e fugidia. Era o chão da permanência. Outros caminhos, então, se abririam em novas veias que se desprenderiam dos veios.
Seria a Geografia da prostração, do desânimo inicial. Do ser perdido num espaço infinito, bravio, indomável, de “onde tiraram o ouro e deixaram as pedras”, como disse Cora Coralina.
Geografia do homem coberto de fadigas a pisar um território de medos em relação a um futuro incerto. Nos caminhos novos, o pensamento do que seria, então, nos limites a serem impostos geograficamente, os cenários da terra de Goiás.
Goyaz. Goiaz. Goiás!

(Bento Alves Araújo Jayme Fleury Curado é graduado em Letras e Linguística pela UFG. Pós-graduado em Literatura Comparada pela UFG. Mestre em Literatura pela UFG. Mestre em Geografia pela UFG. Doutorando em Geografia pela UFG. Escritor, professor e poeta). [email protected])

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