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OPINIÃO

O professor e os extremos

Ano de 1950, cinco anos de idade a completar, fui para a Escola da Dona Damores, conhecida por sua fama e austeridade. Quarentona, alta, autoritária, braços grossos e fortes. Entre os seus recursos pedagógicos estava uma régua de madeira rosada densa.
Na primeira aula, munido de caderno, lápis, borracha e a famosa cartilha, fui conduzido pela professora para ocupar uma carteira vaga. Ela abriu a cartilha no abecedário e, apontando o dedo para as letras, foi pronunciando cada uma para que eu a repetisse: a, b, c, d... z.
Reiterou o procedimento algumas vezes; e ali fiquei tentando memorizar até o final da aula. Como dever de casa me recomendou decorar o alfabeto.
No dia seguinte, na mesma carteira, com a cartilha aberta, aguardava a minha vez de ser tomada a lição. Os professores naquela época tinham uma autoridade frente aos alunos, às vezes, maior que a dos pais.
Veio Dona Damores, com a temível régua, tomar a minha lição: pegou um pedaço de papel, dobrou, recortou com as mãos no formato de um pequeno disco com um furo central, colocou sobre o abecedário e foi deslizando aleatoriamente sobre as letras para que eu dissesse o nome da selecionada.
Não havia conseguido decorar tudo. A professora constatou isso e fez uso de sua pedagogia: pegou firme nas pontas dos dedos de uma das minhas mãos e, sem piedade, desceu a régua, dando-me o chamado “bolo”; pegou a outra e deu outro “bolo”. Foi terrível. Terrível!...
Fui para casa com os olhos lagrimejantes; as mãos inchadas arderam até a noite. Resultado: não voltei para aquela escola e até hoje não guardo boas recordações da professora!
Os anos se passaram, mudanças ocorreram e os problemas da educação hoje são outros. A pedagogia e os recursos pedagógicos aperfeiçoaram-se e modernizaram-se, correspondendo às exigências crescentes do mercado; mas sem contemplar o ser humano que existe em cada aluno. Ou seja, omitindo-se no desenvolvimento de valores e de preparo do educando para a salutar convivência consigo mesmo e com os semelhantes.
Os professores foram perdendo autoridade e, os alunos, ganhando liberalidades. A situação foi se agravando e, nos dias atuais, os educadores enfrentam sérias dificuldades frente aos pais, aos alunos e às leis. Em sala de aula, quase sempre eles se deparam com um conjunto heterogêneo de alunos, onde apenas uma minoria se mostra interessada, disciplinada, atenta e respeitosa. Alguns por influência da família; outros por inclinação própria – o que o pensador González Pecotche, criador da Logosofia, chama de a herança de si mesmo.
Frente a este quadro desalentador, resta ao professor recorrer a elementos de outra ordem, que fogem do lugar comum e que estejam ao alcance de seu esforço pessoal, tais como: conhecimentos transcendentes sobre a própria psicologia e, por extensão, a de seus semelhantes e, especificamente, a de seus alunos; a buscar uma nova pedagogia com um método que favoreça o cultivo consciente de valores e virtudes internas que qualificam o cidadão como ser humano.
São elementos desta natureza que a ciência logosófica coloca ao alcance de todos, particularmente dos educadores via do concurso “Prêmio Literário de Logosofia – Professores”.  As inscrições estão abertas, tudo gratuitamente; os interessados em maiores informações devem acessar o site  www.premioliterario.logosofia.org.br
Entre os extremos da figura autoritária de Dona Damores e as liberalidades da escola atual, há que se buscar o caminho do equilíbrio, onde o cultivo consciente dos valores humanos resulte numa convivência frutífera e respeitosa de ambos os lados.

(Adi Rodrigues da Silva é estudante de Logosofia)

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