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OPINIÃO

Portadores de ociosidade especial

Antes de falar propriamente da preguiça gostaria de fazer umas reflexões sobre algumas das muitas finalidades do homem. É uma reflexão fisiológica e filosófica de muitos significativos e dignificados. A pergunta com que podemos abrir tais pensamentos seria: o homem é em si mesmo uma finalidade? Ou outra, tomando de empréstimo do grande Protágoras. “O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são?”
Falando então do fim a que possa ter sido destinado o gênero humano. Vamos imaginar o planeta sem a presença humana. Do ponto de vista da natureza em si, somos inclinados a supor que, além de não fazer falta, o homem se tornou um aditivo e parceiro nocivo, dada tamanha depredação de todo o sistema que o circunda. E quando se pensa na relação simbiótica, de mutualismo do homem com o meio ambiente? Ele também se tornou comensal, parasita e predador. Tudo extrai, suga e mata, e se repõe alguma coisa, assim o faz porque os Estados através de seus estamentos, leis e coerção assim passaram a exigir. E com tudo isso, a terra continua fadada a se tornar um planeta desértico, tamanha tem sido a irresponsabilidade da humanidade (coletivo de pessoas) no seu cuidado e preservação.
Saindo do cosmo e da ecologia e vindo para nosso mundinho prático; para as relações sociais, civis e mesmo familiares. A espécie humana constitui aquele animal na concepção aristotélico de ser uma criatura social e política. Ou seja somos seres vivos que temos uma profunda interação e dependência uns dos outros. Agora andemos, volteemos e convenhamos, que essas relações sociais fossem sempre solidárias, ou seja, de uns ajudando aos outros, e não de alguém sempre levar vantagem ou viver às expensas e parasitando o outro.
Os hominídeos, sem exceção, racionais ou não, são dos muitos animais que não vivem sós. Com excepcionais exceções, somos aquele bicho que se forçado ao isolamento entramos em profundo sofrimento físico e psicológico. Não é à toa que a pior persecução penal imposta a alguém é a privação de liberdade (prisão). A história ficcional de Robson Crusoé (Daniel Dafoe) encerra um utopia quase impossível de se reproduzir na vida prática das pessoas. O personagem desse enredo se viveu só, o fez porque ele tinha já introjetado a convivência social anterior com familiares e amigos. Daí a possibilidade de ter vivido isolado numa ilha.
Na relações sociais que estabelecemos uns com os outros, entre tantos itens possíveis falemos naquelas relativas ao trabalho, à produção, aos meios de subsistência de cada um. Nessa natureza podemos dividir os humanos em dois grupos de pessoas: aqueles ativos e produtivos e aqueles inativos e que nada produzem (relação comensal ou de parasitismo).
Alguns órgãos públicos e grupos de direitos humanos têm uma classificação interessante de um tipo particular de minorias. Refiro-me aos portadores de necessidades especiais. Sem discutir a inteligência dessa classificação faz necessária e pertinente uma referência a muitos desses “necessitados”. Por que dessa lembrança? Muitos indivíduos assim rotulados são exemplos e modelos de vida para as pessoas ditas normais. Muitas pessoas com referidas deficiências funcionais ou anatômicas são altamente produtivas, independentes e trabalhadoras e se recusam a ser tuteladas por familiares, sociedade ou Estado. Muitos são capazes de feitos não alcançáveis pelos ditos normais. Que o digam os competidores paralímpicos, que recebem mais medalhas do que os atletas sem nenhuma limitação física.
E como considerações finais eu queria uma classificação mais apropriada para aqueles indivíduos absolutamente normais, inteligentes, sadios e robustos, na maioria jovens e que nada fazem! Excluo desse grupo aqueles desempregados provisórios por força de uma demissão patronal. Por culpa não deles, mas de um sistema de governo falido e que vem gerando tanto desemprego, analfabetismo e desqualificação profissional.
Eu falo aqui sobretudo daqueles jovens na ociosidade, que têm aversão ao trabalho, que vivem como mandriões (onas), preguiçosos(as), improdutivos, numa vida de pachorra e estéril por pura opção. E não são poucos estes modelos de pessoas. São muitas vezes jovens ociosos e vagabundos e querem levar uma vidinha como todos os outros membros da família (pais, irmãos) dos quais dependam de víveres básicos para a sobrevivência, hospedagem, roupa lavada e comidinha a tempo e na hora certa. Além, muitas vezes, de outras futilidades digitais da modernidade.
Como poderíamos classificar mesmo esses indivíduos? Talvez portadores de ociosidade intencional. Se os grupos que defendem os direitos de inclusão social tiver outro nome, que nos apresentem as pertinentes sugestões. Março/2016

(João Joaquim - médico - articulista DM - www.drjoaojoaquim.com [email protected])

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