Empinar ou guerriar pipa
Diário da Manhã
Publicado em 11 de junho de 2016 às 02:37 | Atualizado há 9 anos
Empinar pipa é uma brincadeira envolvente e contagiante. Crianças, adolescentes e até mesmo adultos passam horas envolvidas nessa diversão. E olha que nem precisa ser período de férias não. Basta soprar os ventos de maio que as ruas de muitos bairros de Goiânia e, com certeza, de todo o Brasil, se infestam de empinadores de pipas e espectadores. É muito agradável, tanto para os empinadores quando para os meros apreciadores. Já foi feito até filme para abordar o assunto. Quem nunca assitiu “O Caçador de Pipas”?
A pipa surgiu na China antiga e ganhou o mundo, mas não abrolhou necessariamente como um brinquedo, uma vez que, por volta do ano 1200, antes da Era Cristã, ela foi empregada como um instrumento bélico, ou seja, seus movimentos e suas cores eram códigos, sinais e mensagens transmitidos à distância entre destacamentos militares. Sabe-se que com o passar dos séculos esse dispositivo de sinalização usado anteriormente pelos militares despertou nas crianças europeias do século XII, o gosto pela arte de empinar pipa. Por muito tempo, o intrumento também foi usado como aparelho de medição atmosférica. O americano Benjamin Franklin, por exemplo, empregou uma pipa na investigação e invenção do para-raios.
Hoje, a pipa, também chamada de cafifa, papagaio quadrado, piposa, pandorga, arraia, pepeta, estrela ou joeira deixou de ser objeto bélico, ou instrumento de pesquisa científica para manter sua popularidade encantando os pequenos de todas as culturas, porém, quando usada de maneira incorreta, continua sendo uma arma perigosa, ao ponto de fazer vítimas fatais. Por isso, é preciso alguns cuidados para a diversão não se tornar um risco, isto é, sem orientação e lugar adequado, a brincadeira de soltar, empinar, descarregar ou guerriar pipa pode se transformar em grande perigo para a segurança das crianças, dos adultos e contratempos para a população.
Dentre diversos problemas provocados pela arte de empinar pipa sem uma eficiente orientação e sem muitos cuidados estão as perigosas descargas elétricas, que ocorrem quando a linha da pipa se enrosca nos postes, nos transformadores e nos cabos elétricos. Outro fator perigoso é a linha com cerol, uma mistura de vidro, cola de madeira e outros ingredientes que, causam acidentes fatais em áreas onde existem pedestres, ciclistas, motociclistas, a prática do paraquedistas, voos de aeronoves etc.
Mas, qual a graça em brincar com um objeto que aparentemente não causa mal algum e que, no fundo, é uma arma engatilhada, todo o tempo? E no caso do cerol, se é tão perigoso, para que o seu uso?
Convenhamos, na verdade os termos empinar, decarregar e soltar pipa, há muito, já foi substituido pela expressão guerriar, haja vista que para a garotada, a graça está justamente no uso do cerol, uma mistura cortante de pó de vidro e cola de madeira utilizado na linha da pipa com o objetivo de cortar a linha de outra pipa oponente.
Por sorte, do ponto de vista legal, fazer uso do cerol é ilegal, é crime, já que a mistura do pó do vidro e cola pode causar a morte.
Em Goiânia, já tivemos alguns casos com vítimas fatais do cerol. Em todos eles o pescoço da vítima é a parte do corpo que primeiro entra em contato com a linha da pipa com cerol e o ser humano, geralmente ciclista ou motociclista, pode acabar degolado, decaptado. O maior número de acidente ocorre principalmente nos meses de janeiro, fevereiro, julho e dezembro, que correspondem aos períodos de férias escolares, mas em maio e em junho também ocorrem muitos acidentes provocados pela pipa com linha de cerol. Na capital goianiense e em diversos municípios do Brasil, têm leis que proíbem o uso e venda da substância, e punem seu vendedor com prisão e multa.
Para evitar acidentes, o correto é praticar uma brincadeira sadia, sem fazer uso do cerol. Em Goiânia, a Polícia Militar e outras instituições têm procurado incentivar as crianças a brincar com pipas sem cerol, através de campanhas informativas, mas como o uso é proibido por lei, se preciso for, a polícia pode autuar os responsáveis pelas crianças que insistirem em fazer tal uso.
(Gilson Vasco, escritor)