As ousadas senhorinhas pioneiras da “Escola de Pharmácia e Odontologia em Goyaz”
Diário da Manhã
Publicado em 17 de agosto de 2016 às 03:00 | Atualizado há 4 mesesGoiás, a antiga capital de tantas tradições foi o berço dos primeiros profissionais, ainda leigos, nas áreas de Farmácia e Odontologia, que, em dias do século XVIII, cuidavam dos afoitos desbravadores do grande sertão do oeste brasileiro. De resto, eram as garrafadas, mezinhas caseiras, raizadas, emplastos, unguentos, escalda-pés, banhos e infusões que aliviavam dores e sofrimentos no grande sertão de Goiás.
Em 1816, há 200 anos, o pesquisador francês Auguste César Provençal de Saint-Hilaire esteve conhecendo a Província de Goyaz e relatou, em suas pesquisas, a pobreza em que vivia o povo, doente, sem dentes, desassistido; sendo que, em toda a grande extensão do que é hoje Goiás e Tocantins, só havia um médico em Vila Boa. Apenas um médico para todo o coração do Brasil e nenhum dentista! O próprio médico é que, em casos extremos, punha fora os cacos infeccionados dos primeiros goianos, as panelas pretas e locas das bocas do povo de antanho.
Era o grande Goyaz rural, do y e do z. Goyaz roça. Goyaz chão e terra. Os grandes latifúndios eram feudos que se sustentavam. A fazenda era o lócus da vida goiana. Sem médicos, sem dentistas; os dentes caindo um a um, ou tratados com “picumã” das fornalhas (fuligens da fumaça), colocada nas locas dos dentes; bochechos com a rama da batata fervida com sal; bochechos de água morna com sal e fumo, que, segundo a sabedoria popular, curavam qualquer “trapizonga” na boca. No mais, os grandes quintais com seus remédios caseiros, tentavam minimizar os sofrimentos do povo perdido no alto sertão, isolado do mundo.
Na antiga capital de Goiás, ainda em dias do século XIX, o “boticário e pharmacêutico” Francesco Perillo Junior, italiano, possuía uma “Botica” no Largo do Jardim na Cidade de Goiás, no sobrado de esquina da Praça, com a Rua Direita. Nos casos mais graves, era ele que fazia as “distrações” de dentes, como falavam os matutos; arrancando raízes infeccionadas. Sua esposa Illydia Fleury de Campos Curado Perillo era quem servia de ajudante.
Nos sertões perdidos “longe de todos os lugares” como ressaltou Cora Coralina, apareciam os dentistas práticos que faziam serviços aos matutos e pessoas nas pequenas vilas, mergulhadas na solidão dos ermos e gerais de Goiás. Poucos eram os que acertavam. Faziam serviços errados, sem critérios ou higiene; traziam dentaduras coletivas, verdadeiros mastodontes, com dentes enormes e mal feitos, “feitos à machadada” e desproporcionais, que vendiam aos montes. Eram “baciadas de dentaduras.”
O efeito era horrível, gente com dentes desproporcionais na boca, idênticos a quem, ao certo, engolira um piano, deixando o teclado de fora! Uma calamidade!
No ano de 1901, no Governo de Xavier de Almeida, foi baixado um decreto que buscava regularizar a profissão dos dentistas práticos no sertão de Goiás. Porém, as distâncias geográficas, as estradas intransitáveis na época das grandes chuvas, os rios caudalosos e sem pontes, a pobreza e os poucos servidores para tal fim, impediram a legalidade do ato.
O decreto foi assinado em 12 de março de 1901 no gabinete do Palácio Conde dos Arcos na Cidade de Goyaz, em vista das diversas denúncias de morte de pessoas em cidades como Pouso Alto (Piracanjuba), Santa Cruz de Goyaz, Barro Preto (Trindade) e São Sebastião do Alemão (Palmeiras), vítimas de infecções causadas pelos tratamentos dos dentistas práticos.
No ano de 1907, formou-se o primeiro goiano em Odontologia, na então capital Federal, Rio de Janeiro. Era João d’Abreu, ilustre cidadão de Santa Maria de Taguatinga, antigo norte goiano, filho de Josino de Abreu Caldeira e Ricarda de Alcântara e Silva. Nasceu em 1888 e faleceu em 1976. Também se formou em Direito. Ele foi, além de odontólogo, prefeito de Arraias, Constituinte de 1935, Deputado Estadual, Deputado Federal, Diretor Geral da Fazenda, chefe de polícia, Procurador da Fazenda, Vice-governador de Goiás, na gestão de José Feliciano Ferreira. Foi ele, sem dúvida, o odontólogo goiano de maior expressão na vida pública de Goiás.
Pioneiro, João d’Abreu fundou o jornal Odontiatra em 1926, pioneiro em todo o Brasil pela temática abordada na área da Odontologia. Nesse jornal colaboravam Brasil Di Ramos Caiado, Agnello Arlíngton Fleury Curado e Constâncio Gomes de Oliveira.
Na cidade de Goiás nos anos de 1920 foi idealizada e criada a “Escola de Pharmácia e Odontologia de Goyaz”, a primeira em nosso Estado, que funcionaria ininterrupdamente de 1924 a 1931, quando foi desativada; já que nascia a luta pela mudança da Capital para as proximidades da cidade de Campinas. Nesta Faculdade, centenas de profissionais foram formados e se constituíram em grandes nomes da área em Goiás no século XX.
Os grandes pioneiros dessa ideia de se criar um segundo curso superior em Goiás partiu dos destacados professores Agnello Arlíngton Fleury Curado, Constâncio Gomes de Oliveira, com o entusiasmo de Brasil Ramos Caiado. Agnello Arlíngton Fleury Curado nasceu em Corumbá de Goiás e faleceu em Goiânia. Foi professor do Lyceu de Goyaz, Escola Normal Oficial de Goiás, farmacêutico pioneiro em Goiânia e primeiro Diretor da Faculdade de Odontologia de Goiânia, embrião da UFG. Brasil Caiado nasceu e faleceu na Cidade de Goiás. Médico; foi Prefeito da Cidade de Goiás e Presidente do Estado nos anos de 1920. Constâncio Gomes nasceu e faleceu em Goiás, foi farmacêutico, professor e músico.
Nesse tempo em todo o Estado de Goiás só havia o curso jurídico. Tal fato colocava a juventude de então em angustiante situação, haja vista que a maioria que terminava o curso secundário no Lyceu de Goyaz ficava presa a uma tentativa do curso de Direito, ou o magistério secundário na Escola Normal Oficial ou seguia a carreira das armas. Os que tinham poder econômico iam estudar em São Paulo, Rio de Janeiro ou Ouro Preto.
Era pior ainda aos que eram mais pobres e se viam sujeitos a um pequeno cargo público de irrisório salário, sempre massacrado pelo poder dominante para poder manter o emprego, sofrendo constantemente nas mudanças eleitorais. Outros mais pobres ainda, quando não ficavam sujeitos aos trabalhos pesados do campo, faziam curso na Escola de Aprendizes e Artífices, na busca de qualquer outra função para ganhar uns cobres. Sombrio, bem sombrio era o destino dos jovens goianos no adentrar dos anos de 1920.
Estagnada, essa juventude assistiu, com satisfação, a criação da “Escola de Pharmácia e Odontologia de Goyaz” pelo esforço extraordinário dos professores, pois, se havia pobreza e dificuldade para os alunos, muito mais havia para os professores para se fundar uma faculdade numa cidade perdida no alto sertão, na necessidade de uma biblioteca, os laboratórios, espaço físico, mobiliários, documentação, professores capacitados e um mundo de empecilhos que, com certeza, jogariam por terra a feliz iniciativa tão justa.
Nessa época, os anos de 1920 havia em Goiás, velha capital, apenas as farmácias de Luiz Marcelino de Camargo no Hospital de Caridade São Pedro de Alcântara, a “Farmácia Central”, no Largo do Jardim, de Francisco Perillo Junior e a “Farmácia Santana”, na Rua Xavier Garrido, de Agnello Arlíngton Fleury Curado. No sexto Batalhão de Caçadores, sediado em Goiás, havia, também, uma pequena farmácia a cargo de Otaciano Crisóstomo de Souza Moreira. No resto do Estado eram poucas farmácias, contadas nos dedos, haja vista a carência de profissionais formados.
Os primeiros mestres, escolhidos com dificuldade, por conta da grade curricular, assim foram destacados: Brasil Ramos Caiado, Constâncio Gomes de Oliveira, Agnello Arlíngton Fleury Curado, Arnulpho Ramos Caiado, Agenor Alves de Castro, Antonio Borges dos Santos, Francisco Perillo Junior, Humberto Martins Ribeiro, João d’Abreu, José Avelino Santana, Lincohn Caiado de Castro e Oswaldo Gomes de Almeida.
Mas, os pioneiros não esmoreceram. Lutaram arduamente no ano de 1924 para que pudesse surgir uma nova luz aos que queriam ter uma profissão diferente em nosso Estado. A Escola foi reconhecida pela Lei Estadual nº 945 de 13 de julho de 1924.
Grande apoio teve de uma mulher destemida, Consuelo Ramos Caiado, que, desejando também fazer o curso, utilizou de sua influência familiar; já que era sobrinha de Brasil Caiado e filha de Antonio Ramos Caiado, deu todo apoio e impulso para que nada faltasse ao ano letivo de 1924.
Surgiu, assim, a gênese dos cursos de Farmácia e Odontologia em Goiás, com validade apenas dentro do Estado, funcionando no antigo Hospital de Caridade São Pedro de Alcântara, junto à ponte do Carmo na Cidade de Goiás, por falta de um prédio próprio. Mais tarde, foi feito lindo sobradinho, no Largo do Chafariz, junto ao Museu das Bandeiras, para abrigar a Escola, no que se pensava, seria o seu apogeu.
Não houve apogeu, pois, com a Revolução de 1930 tudo se modificou e foi reacendida a ideia de mudança da capital. A Escola formou apenas quatro turmas, mas que serviu, com certeza, para modificar o destino de muitos jovens goianos, e em especial, de muitas senhorinhas da época que não desejavam apenas fazer o curso Normal, mas engajarem em outras frentes de serviço. Com o novo governo, em 1931, foi escolhida uma comissão para inventariar os bens da Escola de Farmácia e Odontologia de Goyaz, presidida pelo Dr. José Honorato Fleury da Silva e Souza e foram os seus bens depositados em uma secretaria. Seria extinta, assim, a primeira e única Escola de Farmácia na velha capital goiana em 04 de março de 1931.
Poucas, mas arrojadas e destemidas goianas abraçaram o sonho da “Escola de Pharmácia e Odontologia de Goyaz”. Dentre elas, a mais aguerrida, Consuelo de Ramos Caiado, nunca esmoreceu, pois feminista e atuante, lúcida e coerente, lutava na velha capital pela emancipação feminina e o sufrágio das mulheres, seguindo os ideais de Bertha Lutz.
As turmas de farmacolandos da Escola realizavam seus bailes de formatura no Palácio Conde dos Arcos onde se reunia toda a sociedade local, com grande aparato e beleza, num regozijo pela formação de novos profissionais para o mercado da cidade e do interior.
As turmas de formandos contaram centenas de farmacolandos, dentre os quais se identificam Adalcindo Xavier de Almeida, José Ludovico de Almeida, Leonel Sebastião Fleury, Joaquim Marcos de Arruda, Galileu Paranhos, Octávio Monteiro Guimarães, José Barros Cruz, Faelante Fleury de Britto, Rosenval de Oliveira Lobo, Silvio Pinheiro de Lemos, Joaquim Taveira, Antero Baptista de Abreu Cordeiro, José Camilo de Oliveira, José Honório Ferreira, Ranuldo Batista de Abreu Cordeiro, Leonel Fleury Curado, Antonio Diurivê Ramos Jubé, Clotário de Freitas, Eliseu Cunha Filho, Elídio Luiz Brandão, Eurico Perillo, João Batista Gomes de Oliveira, Joaquim Pèclat, Joaquim Rufino Ramos Jubé Junior, José da Silva Perillo, Octaviano de Moraes, Vasco Pinheiro de Lemos.
As mulheres admiráveis desse sonho de conhecimento foram Consuelo Ramos Caiado, Laurinda Seixo de Britto de Oliveira Moura, Colandy Garcia Berquó, Leonor Borba, Julia de Britto Brasiliense, Ondina da Cunha Bastos Albernaz, Olívia Cruz Fernandes Távora, Belisária da Costa Campos, Anita Fleury Perillo, Laura da Costa Nunes, Hebe Luiza do Couto Brandão Alvarenga.
As senhorinhas goianas, ousadas e destemidas, lançaram-se ao desafio de estudo numa área até então delegada ao sexo masculino. Todas foram admiráveis mulheres de nossa história e de nossa cultura e merecem o nosso reconhecimento.
Nascida em 1899 na Cidade de Goiás onde faleceu em 1983, Consuelo Caiado era filha de Antonio Ramos Caiado com sua primeira esposa, a carioca Iracema de Carvalho Caiado. Estudou no Rio de Janeiro e, depois, complementou seus conhecimentos em Goiás, tornando-se farmacêutica, com atuação por muitos anos. Teve decisiva participação na vida cultural de Goiás nos primeiros anos do século XX, notadamente com o jornal O Democrata, fundado por seu pai como chefe do Partido Democrata, assim como no Jornal O Lar, fundado por Oscarlina Alves Pinto, como também no Gabinete Literário Goiano, que presidiu no fim dos anos de 1920 com atuação marcante, ao lado de Genezy de Castro e Maria Carlota Guedes de Amorim.
Nascida na Aldeia de São José, hoje Mossâmedes, em 06 de agosto de 1902, Laurinda Seixo de Britto de Oliveira Moura era filha do Tenente do Exército Laurindo Seixo de Britto e Ana Maria Seixo de Britto. Passou sua infância dividindo seu tempo entre as três fazendas de seu pai “O Pissarrão”, “Fazenda Caetano” e “Fazenda Santo Amaro”, esta última no então município de Curralinho, onde o Tenente Laurindo exerceu a função de Juiz Municipal.
Com o prematuro falecimento de seu pai, Laurinda, em companhia da mãe transferiu residência para a Cidade de Goiás, local em que mantiveram pensão para o sustento de ambas. Laurinda Seixo de Britto fez seus estudos no Colégio Santana de Goiás, Lyceu de Goiás e, depois, na Escola de Farmácia e Odontologia de Goyaz, fazendo parte da primeira turma da referida Escola, colando grau como Farmacêutica no ano de 1926. Laurinda teve aulas particulares com o professor Manoel de Macedo Carvalho (Padre Maneco Macedo) esse seminarista de Uberaba do Colégio Diocesano, com quem aprendeu o latim e o francês fluentemente. No ano de 1925, Laurinda Seixo de Britto transferiu residência para Bonfim de Goiás, hoje Silvânia; depois Anápolis onde, em 1926, contraiu matrimônio com Francisco de Oliveira Moura, Coletor Estadual daquela localidade.
Nos primeiros meses do ano de 1929, Francisco de Oliveira Moura e Laurinda Seixo de Britto Moura transferiram residência para Trindade a convite do Coronel Antonio Francisco Ottoni que aqui exercia a política de maneira severa, sendo respeitado por todos.
Laurinda foi, então, designada para fundar o Primeiro Grupo Escolar de Trindade pelo Dr. Brasil Ramos Caiado, sendo que este levou o nome de “Grupo Escolar Senador Caiado”, construído por Ernesto Finoti, construtor de Leopoldo de Bulhões, na “Rua dos Baianos” hoje Rua Coronel Eugênio Jardim, onde foi o Colégio Comercial e Casa Rural.
Além de professora, Laurinda Seixo de Oliveira Moura foi farmacêutica atuando junto aos carentes na Farmácia de Joanito Costa, sendo, então, primeira farmacêutica formada a atuar em Trindade.
Com o advento da Revolução de 30, Laurinda Seixo de Moura foi a única professora não exonerada graças a seu prestígio junto a Intendente Tibúrcio José do Carmo e a Pedro Ludovico Teixeira que nomeou Francisco de Oliveira Moura escrivão de Órfãos e sucessões e do Crime de Trindade.
Enquanto diretora do “Grupo Escolar João Pessoa” Laurinda Seixo de Britto de Oliveira Moura fez um criatório do bicho da seda, pois, era grande apreciadora de botânica, promovia sessões cívicas e culturais além de desfiles escolares e apresentações no Cine Pai Eterno.
Em 1935, com a transferência de Dr. Phillipe Alves de Oliveira para o cargo de Juiz Municipal, procedente de Campo Formoso, com ele seguiu sua irmã viúva, Ana Maria de Oliveira (Sinhá) que conseguiu vaga de diretora do Grupo Escolar, cedida, então, por Laurinda Seixo de Oliveira Moura que passou à condição de professora, até sua transferência novamente para Anápolis e depois Goiânia onde se aposentou, em 1964, ano em que faleceu.
Anita Fleury Perillo nasceu na Cidade de Goiás em 1898, filha de Francisco Perillo Junior e Illydia Fleury de Campos Curado Perillo. Estudou no Lyceu e na Escola Normal e, também, na Escola de Pharmácia e Odontologia de Goyaz. Moça elegante, traquejada, pianista, professora, farmacêutica, foi membro do Gabinete Literário Goiano nos anos de 1920 e 1930. Solteira, residiu no antigo sobrado no Largo do Jardim, ao lado de sua irmã também solteira, Evangelina Fleury Perillo. Faleceu na Cidade de Goiás em 1974, aos 76 anos de idade.
Ondina da Cunha Bastos Albernaz nasceu na Cidade de Goiás, antiga capital, na velha casa da ponte de Cora Coralina, no raiar do século, 1906, filha de Joaquim da Cunha Bastos e Vicência Caldas Bastos. Órfã de pai muito cedo, fez seus estudos no Lyceu de Goiás, na Escola Normal Oficial de Goiás e, com pouco mais de vinte anos, concursou na Secretaria da Fazenda de Goiás. Formou na segunda turma da Escola de Farmácia e Odontologia de Goiás em 1928. Casou-se com Nicanor Albernaz e teve três filhos. Pioneira de Goiânia foi professora do Jardim da Infância e do Grupo Escolar Modelo. Publicou o livro de memórias intitulado Reminiscências. Faleceu em Goiânia em 1994, aos 88 anos de idade.
Belisária da Costa Campos nasceu em Pirenópolis, filha de Deodato Sebastião da Costa Campos e Filomena de Moraes Rocha. Estudou em sua terra natal e, por influência de seu irmão mais velho, Alfredo do Costa Campos, que era dentista prático e farmacêutico provisionado, assim como seu sobrinho Eurípedes da Costa Campos, prestou vestibular para a Escola de Farmácia e Odontologia de Goiás. Depois, casou-se com João Paulino Gomes Parente, filho de Liduína de Amorim e João Fernandes da Silva Parente, residindo em Pirenópolis e Corumbá de Goiás.
Hebe Luiza do Couto Brandão Alvarenga também nasceu na Cidade de Goiás, filha de Maria Angélica da Costa Brandão e Manuel Luiz do Couto Brandão. Fez seus estudos no Lyceu e na Escola Normal Oficial. Adentrou para a Escola de Farmácia e Odontologia de Goyaz. Tornou-se professora e farmacêutica.
As demais, Laura da Costa Nunes, atuou no norte de Goiás, Leonor Borba, Olívia Cruz Fernandes Távora e Julia de Britto Brasiliense também atuou no norte goiano, tão carente de profissionais formandos naqueles distantes anos.
A pioneira da farmácia e odontologia não somente em Goiás, mas na região de Goiânia, nascente capital, foi a Irmã Kiliana, do Colégio Santa Clara de Campinas, fundado em 1922, onze anos antes do lançamento da Pedra Fundamental de Goiânia. Essa freira foi a dentista que atendeu às alunas internas e externas do Colégio Santa Clara, a comunidade da pequena Campinas e os primeiros forasteiros que chegaram para a construção de Goiânia, assim como os seus conhecimentos de farmácia.
No interior do Estado, a pioneira nos serviços não só farmacêuticos, mas odontológicos foi Guiomar de Grammond Machado (1901-1985), na então cidade de Santa Luzia de Goiás, hoje Luziânia. Como farmacêutica formada pela Escola de Minas, Guiomar tinha vastos conhecimentos e auxiliou a população da cidade. Ali foi primeira dama; já em Goiânia fundou a Faculdade de Farmácia e foi poeta, membro da Academia Feminina de Letras e publicou o livro Mensagens, em 1974.
No ano de 1945, foi fundada em Goiânia outra Faculdade de Odontologia e Farmácia pela dedicação de tantos intelectuais como Agnello Fleury, Rômulo Rocha, Adelino Teixeira, João Teixeira Álvares Neto, José Leite Santana, Joel de Oliveira Lisboa, Joaquim Rodrigues Jardim, Agnello Fleury Filho. Na primeira formatura, foram diplomados 94 farmacêuticos e 101 odontólogos. Em 1960 essa instituição foi encampada pela UFG.
Fato interessante de nota também foram os oficiais dentistas convocados pela Força Expedicionária Brasileira, como Pracinhas de Guerra; muitos perderam a vida e outros a saúde, participando nos combates principalmente na Itália. Para legalização de suas situações posteriores, o deputado goiano, Dr. Albatênio Caiado de Godoy, em 1947, fez valer-lhes as incorporações salariais em virtude do precioso serviço prestado com destemor.
Quando se fundou em Goiânia, nova capital do Estado a Faculdade de Odontologia, vários tipos de trabalho assistencial passaram a ser feitos em prol das sofridas bocas goianas.
No ano de 1963, há mais de 50 anos, foi publicada a primeira cartilha para estudantes do então Curso Primário, com exclusivas matérias sobre os dentes e os cuidados com os mesmos. Aparecem até textos para serem interpretados e um poema infantil, escrito pelo grande poeta da época, Bastos Tigre. Uma novidade na prática docente brasileira até então, que muito pouco valor se dava aos cuidados com os dentes. Era muito comum se ver alunos com dentes estragados em sala e até professores desdentados.
Era a educação infantil a serviço de transformar o Brasil num País menos desdentado e de sorriso murcho. Era o plano de metas de interiorização de todos os trabalhos e da qualidade de vida da população. Os cuidados com a higiene das águas e o tratamento de rede de abastecimento com cloro e fluor também auxiliaram nesse mister.
No final dos anos de 1960 houve um desmembramento das Faculdades de Odontologia e Farmácia da UFG. Lidera a direção pela nova instituição o Professor Alpheu da Veiga Jardim, nascido na Cidade de Goiás e falecido em Goiânia. Ele é Patrono da Biblioteca do Campus Samambaia, da UFG.
Hoje o papel da mulher na área de farmácia e de odontologia está consolidado. O mercado exibe centenas e milhares de profissionais do sexo feminino com atuação marcante e decisiva, o que é um grande avanço.
Mas nesse cadinho, a lembrança das senhorinhas goianas, recuadas em noventa anos de distância, em seus sonhos de equiparação com o homem na ocupação de um lugar na sociedade. Mais do que uma luta, constituíram uma identidade e uma presença pouco a pouco reveladora de tantos talentos.
A todas as arrojadas pioneiras, belas senhorinhas e respeitáveis mocinhas de um tempo em ebulição, o nosso preito de saudade e gratidão por suas vidas limpas e corretas e por seus sonhos doces de um mundo melhor, mais civilizado e justo.
E fechando, nesta enumeração, o registro de que, no período de mudança e consolidação da nova capital, nos anos iniciais, o dado de que em Goiânia havia 40 dentistas e farmacêuticos; na velha Capital, Cidade de Goiás, restaram apenas quatro, como Francisco da Veiga Jardim, Benedito José da Costa, João de Oliveira e Iron de Amorim. “Que os vilaboenses ficassem com a boca podre”, era o ditado corrente, pois difamavam as obras da nova capital…
(Bento Alves Araújo Jayme Fleury Curado, graduado em Literatura e Linguística pela UFG, pós-graduado em Literatura Comparada pela UFG, mestre em Literatura e Linguística pela UFG, Mestre em Geografia pela UFG e doutor em Geografia pela UFG. [email protected])