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OPINIÃO

Chega o terrorismo viral

No Brasil, começam a surgir apoiadores do Estado Islâmico, num voluntariado a distância, disseminado em todo o território. Aí estão o Isis do Maranhão e a presença na Paraíba, para além das nossas metrópoles.

Delineia-se toda uma investidura à chamada “reversão”, marcada pela radicalidade do adesismo. Esse itinerário, por força, conduz à segregação dessa militância afastada das mussalas, e a levar hoje os centros islâmicos tradicionais, preocupados, a repudiarem, por inteiro, esses novos crentes da violência desabrida. Essa transformação implica, de logo, a mudança dos nomes, num excesso de novos apelativos, como a envolver uma litania só na sua prolação. Para muitos analistas, essa disseminação de jihadistas nasce num quadro de suicidas potenciais, em busca da celebridade terminal e da saída do anonimato.

Esse voluntariado brasileiro à jihad – por certo, ainda mal descoberto – repete o novo fulcro da pós-modernidade, que é o repúdio da própria vida associativa, no que proclama o EI em seu estrito confinamento às populações islâmicas. A gravidade do repto é a da adesão viral, em que, via de regra, é só ex post, por meio de ações de extermínio, que se busca a legitimação do sacrifício.

Depara-se o ineditismo trágico, a marcar, talvez, a pós-modernidade da quebra com a coexistência universal, na condenação do reconhecimento da humanidade e de um mundo em que o outro não é o inimigo.

Dramaticamente, a jihad encontrou a adesão ocidental, em que uma mocidade, no ápice da ruptura, foi aos ritos de sangue para a alegada purificação de nossos tempos.

De pronto, entretanto, regrediram esses crimes e as cenas de decapitação trazidas à mídia. Curiosamente, ainda não emergiram, no Ocidente, associações a grupos, como se o coletivo fosse além do estrito testemunho pessoal.

Estamos, hoje, à mercê dos lobos solitários e da busca de um martírio absolutamente subjetivo, com a evocação da causa ex post à cruzada pelo morticínio. A explosão dessa nova violência encontra, agora, na invocação ao EI, um recado e um epitáfio.

(Candido Mendes, membro do Conselho das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações, da Academia Brasileira de Letras e da Comissão Brasileira Justiça e Paz)

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