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OPINIÃO

Dilma Rousseff deveria ouvir Richard Nixon

Richard Nixon, 37º presidente norte-americano e o único a fazer pedido de renúncia para escapar da guilhotina do impeachment, disse algo, em seu discurso de renúncia realizado no dia 9 de agosto de 1974, que poderia chegar ao conhecimento da presidente afastada Dilma Rousseff: “Mas é evidente que já não conto com o necessário apoio do Congresso. Enquanto eu o tivesse, lutaria até o fim”. Ela, no entanto, insiste em remar contra a maré.

Sua carta publicada nesta terça-feira, 16, evidencia que ela está jogando palavras ao vento. Está malhando em ferro frio, pois seu destino está nas mãos do Congresso (leia-se a maioria dos parlamentares), e este, sabe ela muito bem, não a quer mais direcionando o país. Os “tantos prejuízos causados ao país” apontados por ela não serão sanados com a “superação do impasse político”: o seu retorno ao comando do governo.

Os prejuízos gigantescos que apequenaram o Brasil economicamente advém justamente do período em que as rédeas da Nação estiveram nas mãos delas. A essa hora do desenrolar dos fatos, fica difícil acreditar que poupá-la do impeachment significará o “o surgimento de uma nova e promissora realidade política”. Ela está correndo atrás do vento ao dizer tal coisa.

A presidente afastada cavalga nas nuvens ao dizer que entende “que a solução para as crises política e econômica que enfrentamos passa pelo voto popular em eleições diretas”. Talvez tenha se esquecido de que chegou à presidência via eleições diretas e que, no período em que ficou no governo, em vez de apresentar solução para as crises, fez foi criar mais obstáculos, advindos de sua inabilidade administrativa. Obstáculos estes que são sua pedra jogada na cruz, cujo preço a pagar será o seu afastamento definitivo do governo. Ela tropeça na semântica ao dizer que “a democracia é o único caminho para sairmos da crise”. Nosso problema não é ausência de democracia, mas sim incompetência de gestão, misturada a inúmeros escândalos de corrupção a respingar em políticos de vários partidos. Fato que deve ser investigado a fundo para legitimar a equidade da justiça.

Acolher as críticas com humildade e determinação nesse momento do andar do trôpego da carruagem, conforme consta em sua carta, é inútil. Nos primeiros clamores das ruas, esse acolhimento deveria ter acontecido, mas Dilma preferiu jogar com as palavras, sendo que o fato pedia ações inteligentes de seu governo. Os clamores da população, que foram muitos e tiveram início em junho de 2013, entraram num ouvido e saíram no outro.

Ao dizer que “é inocente”, ela recorre, de certa forma, à frase usada por Nixon: “Não sou bandido”. Só que Nixon, ao sentir a iminência da lâmina em seu pescoço, renunciou, mas obteve um perdão preventivo. O poeta Fernando Pessoa disse que “todas cartas de amor são ridículas”; a da presidente afastada indica que há outras ridículas além das de amor. Só que cada modalidade de carta tem o seu o teor ridículo, e o citado pelo poeta, diferente da missiva presidencial, é sublime, pois envolve o amor. E Pessoa chega a dizer que “só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor é que são ridículas”.

Sinésio Dioliveira , professor de português e jornalista

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