Opinião

Ruas de Goiânia – quadrilátero histórico

Diário da Manhã

Publicado em 17 de outubro de 2016 às 22:03 | Atualizado há 9 anos

Como já publicamos sobre a cultura do Dr. Pedro Ludovico, Iúri Rincon Godinho escreveu no seu livro ‘Construção – Cimento, ciúme e caos nos primeiros anos de Goiânia’: “Pedro Ludovico, tratado de filho ingrato, amaldiçoado pela maioria da população vilaboense, com pencas de pragas na cacunda, por tirar da cidade de Goiás, seu berço natal, a condição de capital do Estado, ao construir Goiânia – gesto que representava até  mesmo para muitos  dos seus companheiros, nada mais do que uma ideia insana, impossível de ser realizada, alimentada por pensamentos e opiniões, naturalmente não revelados diretamente aos seus ouvidos – argamassou  seu sonho e construiu Goiânia, contra tudo e contra todos os antimudancistas.”

Uma pessoa com 83 anos é uma pessoa idosa, mas uma cidade é apenas uma criança.

Pois bem, como já escrevi que o Dr. Pedro desejava que o Brasil todo soubesse que em pleno sertão, no centro do Brasil, existisse uma cidade moderna e culta, e precisava de apoio, ordenou para que todas as avenidas de Campinas, que demandassem o rumo do grande canteiro de obras da Capital em construção, tivessem os nomes dos Estados da Federação, assim como as  ruas, que são transversais às avenidas, com os nomes das cidades do Estado, que eu o nominei de Quadrilátero Histórico, uma justa homenagem aos Estados brasileiros e às cidades goianas. Assim tivemos as avenidas, acima da 24 de Outubro: Bahia, Pernambuco, São Paulo, Minas Gerais, Amazonas, Paraná, Paraíba, Sergipe, Mato Grosso. E abaixo da 24 de Outubro: Pará, Rio Grande do Sul, Alagoas…

A 24 de Outubro foi em comemoração à Revolução de 1930, da qual Dr. Pedro fez parte e que muito colaborou com a construção de Goiânia, pois o presidente Getúlio Vargas doou quase 1000 ações de um conto de réis, descontáveis no Tesouro Nacional.

As ruas transversais de Campinas:  Catalão, Pouso Alto (Piracanjuba), Ipameri, Santa Luzia (Luziânia), Rio Verde, Jaraguá, Bonfim (Silvânia),  Pires do Rio, Anápolis, Bela Vista e Praça Coronel Joaquim Lúcio. Não se sabe o porquê dos jornalistas republicanos, Benjamim Constant e Quintino Bocaiúva terem ruas com os seus nomes ao invés de Jatay, Trindade, Inhumas, Porto Nacional e mais outras.

Em Goiânia todas as ruas foram numeradas. As avenidas Goiás, Anhanguera e as dos três grandes rios: Araguaia, Tocantins e Paranaíba, formam, com a Praça Cívica, a imagem da Padroeira do Brasil. Devido o atraso e a má fama de Goiás, tido como couteiro de bandidos, não existiram as ruas 38 e 44 (calibres de revolver e de carabina). Mas isso deve ter sido por coincidência. Goiás era mais atrasado do que Mato Grosso.

Atualmente várias avenidas e ruas de Campinas tiveram seus nomes trocados, assim, também, algumas  de Goiânia. O que não é justo porque muitas vezes há pessoas que não merecem as homenagens  e são até “Ilustres desconhecidas”. O certo seria colocar o nome do homenageado-pioneiro  na própria rua onde residiu por muito tempo, como foi o caso do Desembargador  Maximiano da Matta Teixeira, antes, Rua 24 (Centro).

Quando membro do Conselho Estadual de Cultura, fiz uma propositura para que se criasse na Prefeitura um departamento com os currículos de todos os homenageados com placas nos logradouros públicos. Os currículos dos homenageados não merecedores, trabalhos de vereadores inescrupulosos com a História da cidade  e com o respeito ao povo, deveriam ceder os lugares às novas indicações, como dos principais pioneiros.

Vamos ver as trocas em Campinas: Avenida Pernambuco, por Honestino Guimarães (o mais antigo farmacêutico de Campinas. Seu  bisneto, que  tem o mesmo nome, nomeia o importante colégio estadual de Itaberaí, com a biblioteca Bariani Ortencio). Avenida Bahia, por Alberto Miguel (proprietário de uma casa comercial numa esquina da Avenida São Paulo e pai do médico Dr. Antônio). Avenida Sergipe, por Ademar Ferrugem (pracinha da Guerra de 1939 a 1945). Avenida Amazonas, por Marechal Floriano Peixoto e atual Anhanguera (prolongamento).

As ruas:  Bonfim, por Dr. José Hermano (advogado e pai da Sanina Hermano, benemérita, fundadora do Orfanato Santa Gertrudes, e sogro do Dr. João de Brito Guimarães, um dos mais  eficientes diretores do Atlético Clube Goianiense), juntamente com Edson Hermano, Calimério Machado, Moacyr Cicero de Sá… Rua Anápolis, por  Senador Morais Filho, pai do Odon Rodrigues de Morais; fui eu quem mandou confeccionar as placas em São Paulo e as doei ao Odon, meu padrinho de casamento. Rua Pires do Rio, por Geraldo Ney, deputado estadual  e filho do Cel. Licardino de Oliveira Ney. Seria mais justo ter o nome do pai, por ter sido um dos elementos primordiais quando da mudança da Capital e residir sempre no mesmo lugar, Praça Cel. Joaquim Lúcio. Prefeito de Campinas, à época, conseguiu as assinaturas de 22 prefeitos para que o sítio da mudança da Capital fosse Campinas. Rua Bela Vista  (não sei se mudou), onde nasceu o cantor Josaphat Nascimento, e pouco mais abaixo ficava o regão-dos-padres, onde a molecada campineira se divertia tomando banho. Atualmente Campinas se transformou em um imenso shopping aberto. Numa metrópole, como é Goiânia, com 800 bairros registrados, segundo o secretário da Secult, Ivanôr Florêncio, há milhares de ruas, avenidas e logradouros, não tendo motivos para troca de nomes já registrados. Há tempos recebi uma carta, assim: Waldomiro Bariani Ortencio –  Avenida Senador Robert Kennedy, 565- Goiânia – Goiás, ao invés de Rua 82, 565-Centro. Mas um vereador corrigiu e voltou a ser Rua 82.

PS- Eu mesmo, quando membro do Conselho Estadual de Cultura, consegui  fazer duas trocas importantes: o Jardim Botânico, de Chico Mendes, para Dra. Amália Hermano Teixeira, orquidófila , e Parque  Estadual, de Ulysses Guimarães, para Dr. Altamiro de Moura Pacheco, pois ele vendeu a sua fazenda Dois Irmãos, ao Estado, pela metade do preço para que fosse o “pulmão verde de Goiânia”.

Ainda – Meu amigo, compadre e colega das letras, Ursulino Tavares Leão, ex-deputado, ex-vice governador e ex presidente da Academia Goiana de Letras (por 16 anos), nunca aceitou termos a mesma idade, agora, 93  anos. No seu recente e ótimo livro “Discurso – à vida e à história, edição da Contato, conta que nasceu em Crixás e se mudou para Anápolis com seis anos de idade e para entrar no Grupo Escolar precisava de ter sete e para tal foi registrado um ano antes, 1923. Portanto ele tem 92 anos de vida e 93 nos documentos. Comigo  se deu quase a mesma coisa. O meu pai me registrou errado, com o nascimento de 24 de outubro, sendo eu de 24 de julho, que 24 de outubro é o dia do nascimento dele. E a minha mãe sempre disse que quando eu nasci havia uma revolução, e a revolução àquela época foi em 1924, a famosa revolução de Izidóro Lopes. Portanto ganhamos mais um ano de vida, o que é muito bom.

Macktub!

 

(Bariani Ortencio. [email protected])

Tags

Leia também

Siga o Diário da Manhã no Google Notícias e fique sempre por dentro

edição
do dia

Impresso do dia

últimas
notícias