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OPINIÃO

Itamar Franco, Plano Real e PSDB 

No final do ano de 1992, Itamar Franco, vice-presidente da República, tomou posse como presidente do Brasil, após a renúncia do então presidente, Fernando Collor de Melo. Collor fora eleito presidente em eleições diretas ocorridas no ano de 1989, depois de praticamente três décadas sem eleições democráticas para o cargo máximo do poder executivo do País. No entanto, após várias ações equivocadas, Collor foi perdendo popularidade e, também, apoio do Parlamento. Vale ressaltar que ele pertencia a um partido minúsculo, o Partido da Reconstrução Nacional (PRN), e mostrou-se pouco habilidoso em articular-se com os “caciques” dos grandes partidos brasileiros. Salientam-se, ainda, as manifestações da sociedade brasileira, sobretudo do movimento dos “caras-pintadas”, formado majoritariamente por estudantes secundaristas e universitários, os quais passaram a realizar passeatas que ganharam cada vez mais expressividade.

Quando os planos de estabilização monetária — Plano Collor I e Collor II — já haviam falhado, a imagem do ex-presidente estava bastante abalada, tanto perante os parlamentares quanto perante a população em geral, e a oposição, no Congresso, organizava-se sistematicamente. Tais elementos, somados às denúncias de corrupção feitas pelo irmão do presidente, Pedro Collor, levaram à abertura do processo de impeachment. Contudo, em meio ao processo, Collor renunciou.

Itamar Franco, ao assumir, teve como primeira missão realizar um plebiscito previsto pela Constituição Brasileira de 1988, para que a população decidisse a forma e o regime de governo que deveriam ser adotados no País. O povo decidiu pela república presidencialista, mesmo sem saber bem a diferença entre república parlamentarista e monarquia, outras opções possíveis no plebiscito. E, assim, permitiu-se a continuidade do governo Itamar Franco na presidência, que, por sua vez, buscou realizar medidas que estabelecessem a confiança da população em seu governo. Uma dessas medidas foi o apoio do governo federal na criação de uma CPI que investigaria denúncias de corrupção no orçamento da União. No desenrolar das investigações, constatou-se um esquema de desvio de verbas públicas que ficou conhecido como o caso dos “anões do orçamento”, o qual envolvia parlamentares, governadores, ministros e ex-ministros.

Além da óbvia complicada situação política, Itamar Franco, no que tange à questão financeira, encontrou o País em uma situação crítica: não tinha mais capacidade de investimento, visto que a dívida pública e a dívida externa comprometiam nossa credibilidade, impossibilitando as chances de empréstimos internacionais consideráveis. A despeito dessa situação, Itamar Franco formou uma equipe competente e não hesitou em buscar soluções para os diversos problemas que se apresentavam. Na questão social, por exemplo, o presidente lançou a Ação da cidadania, contra a fome, a miséria e pela vida. Coordenada pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, a iniciativa teve forte apoio da sociedade.

Com ações como essa, a popularidade do presidente cresceu, fazendo com que ele ganhasse a confiança da população e o pessimismo no cenário nacional aliviasse-se. Vale destacar o esforço do presidente que chegou a defender a retomada da fabricação do mais popular automóvel no Brasil, o “Fusca”, que, ao ser fabricado novamente, ficou conhecido como “Fusca Itamar”.

De todo modo, as questões econômico-financeiras e monetárias continuavam a preocupar. Ante a inflação chegando, de modo inédito, à marca de 2708,55%, Itamar criou o Plano Real — marco na história econômica do Brasil —, contando com uma equipe econômica liderada por Fernando Henrique Cardoso, ministro da Fazenda desde o final do ano de 1993.

O Plano Real buscava o controle inflacionário e a estabilização econômico-monetária do País. E estabeleceu a Unidade Real de Valor (URV), que correspondia a US$1. Após a implementação do Plano, a URV passou a ser denominada “Real”, a moeda brasileira vigente até os dias atuais. O Plano Real cumpriu com o seu principal objetivo, visto que conseguiu o controle inflacionário. Entretanto economistas já previam que, a longo prazo, ocorreria o aumento do desemprego e um processo recessivo econômico no País. Como esse cenário ainda não despontava no horizonte e ninguém, além de alguns economistas, poderia fazer elucubrações de tal natureza, Itamar Franco terminou o seu governo em 1994 com uma expressiva popularidade.

Usando dessa popularidade e, como sempre no Brasil, da máquina pública, o presidente Itamar conseguiu eleger o seu ministro Fernando Henrique Cardoso presidente do Brasil. Quatro anos depois, ainda sob a memória do combate à inflação, Fernando Henrique reelegeu-se presidente. Foi o único tucano a conseguir semelhante façanha e, quiçá, o último. Apesar do desempenho tucano nas derradeiras eleições municipais, para a presidência da República, o embate é outro. José Serra e Aécio Neves, seus maiores quadros nacionais, enfraqueceram-se demasiadamente ante as denúncias de corrupção. Geraldo Alckmin, outro forte quadro tucano, não conseguiria meia dúzia de votos em espaços como o sertão da Paraíba, nas regiões ribeirinhas da Amazônia ou em uma favela do Recife ou do Rio. Se o PT está fortemente desamparado, o PSDB é estranho demais ao Brasil, que fica além da avenida paulista.

(Huidney Roney de Jesus Silva, estudante de Relações Internacionais na Universidade Católica de Brasília)

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