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Mais que mil palavras: excelentes influências

Quem não conhece o velho ditado “um exemplo vale mais que mil palavras”? Essa máxima versa sobre o poder que temos de influenciar pessoas com nossas atitudes, ações e comportamentos. A verdade, é que enquanto ensinamos pela via da palavra, os seres humanos em formação aprendem conosco, mas por um outro caminho, aquele que é formado pelo conjunto de nossas formas de agir.

O poder e a influência dos exemplos sobre a formação humana foi tema de recente pesquisa realizada pelo Projeto Atenção Brasil, que pela primeirta vez analisou o comportamento e a saúde mental da população infantojuvenil brasileira. Segundo essa pesquisa, filhos de pais que não terminaram o Ensino Fundamental têm chance de até 480% maior de ter baixo desempenho escolar quando comparados a filhos de pais com maior tempo de escolaridade. Para os pesquisadores, a explicação para a essa influência está no estímulo que as crianças recebem dentro de casa. Marco Antônio Arruda, neurologista da infância e adolescência e coordenador do Projeto Atenção Brasil afirma que “nossos filhos se espelham em nós. Como querer que um filho leia, se os pais não lerem? O cérebro da criança é uma cidade com ruas e avenidas abertas, se não são utilizadas, estimuladas, essas vias se fecham, e se fecham para sempre”, explica.

Em um país como o Brasil, em que 23,5% da população adulta tem, em média, apenas quatro anos de escolaridade completos, o papel da escola necessita ser mais enfático e global. Isso quer dizer que quando não há a possibilidade de se contar com a influência da família, no sentido de introduzir a criança no universo da cultura letrada, cabe à escola apresentar-lhe as ricas e diversas possibilidades de toda a gama das linguagens humanas, tais como a música, as artes visuais, a dança, o teatro, a literatura, as ciências naturais e tantas outras.

No espaço educativo formal, o poder do exemplo continua falando muito alto às mentes e corações dos seres em processo de formação, sendo altamente eficaz para influenciar o desenvolvimento de hábitos de estudo, do gosto pela leitura, do prazer pela investigação, enfim, de uma relação de afetividade e responsabilidade com o objeto de conhecimento.

De que forma um educador pode ser exemplo para dezenas de educandos? Lluiz Maruni afirma que a motivação, o entusiasmo, a diversão e o prazer são altamente contagiosos tanto quanto o tédio. Um professor que sente prazer e se emociona com os processos de ensinar e aprender comunica facilmente motivação a seus alunos. O contrário também. Felizmente, todos os professores em alguma ocasião, se emocionaram e tiveram prazer com o ato de conhecer. Às vezes, pode ser necessário relembrá-los, fazê-los reviver a emoção para que possam compartilhar esta experiência com os próprios alunos.

Ao chegar às instituições educativas, milhares de educandos estão à procura de sentidos daquilo que os toca de modo visceral e é capaz de dialogar com suas inquietações cotidianas, ampliando sua forma de perceber o mundo. Dessa forma, o espaço da sala de aula precisa ser o palco de atores educacionais verdadeiramente comprometidos com sua tarefa. Tarefa que consiste, em primeiro lugar, em convidar os educandos para a grande aventura de conhecer o universo, todos os dias e de tudo um pouco.

Cada um de nós, um dia teve um professor ou professora, que deixou uma marca indelével em nossas vidas. Mais que conteúdos e o compromisso com o currículo escolar, esse professor inesquecível vivia de forma vibrante tudo o que ensinava e nos desafiava durante todo o tempo a experimentar as incríveis possibilidades de sentir a vida e o conhecimento.

Ao se aproximar o início do Ano Letivo, espero que cada educador e cada educando encontrem nas relações estabelecidas entre o ensinar e aprender o prazer de encontrar com o conhecimento e com as novas descobertas. Não é possível prever o poder de nossas influências na vida dos educandos, mas, é possível renovar, diariamente, nosso compromisso com a tarefa de educar e, no efetivo exercício da docência, demonstrar paixão pela cultura e pelo conhecimento e, principalmente, pelo educando. Desafios a serem enfrentados não no plano das palavras, mas com bons exemplos.

(Marcia Carvalho, pedagoga, psicopedagoga, mestra em Sociedade, Políticas Públicas e Meio Ambiente, secretária Municipal de Assistência Social, diretora Secretária da Fundação Ulysses Guimarães -Go)

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