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OPINIÃO

O pôr do sol do Porto Seguro

Às vezes pensamos até o limite dos nossos neurônios buscando apreender a lógica da vida como se essa fosse obra de uma força demoníaca, à procura de uma explicação para o determinismo cabalístico dos seus aguilhões formados como um tsunami nos laboratórios das psiques mórbidas e perversas que rastejam corno vermes nas amplas avenidas do ódio e da inveja, que só a força de Deus em nossos corações pode nos libertar.

Somos assim, às vezes, uns pobres andarilhos carregando os nossos rosários de provas e expiações, impelidos pelo caos de um caldo entornado nas tentações de um demônio que nos provocam para desprezarmos as nossas virtudes em um de seus caldeirões.

O mal também tem seus requintes e as suas excelências primorosas. Um deles é o de inocular veneno em muitas bocas que deveriam ser amordaçadas. Esses abutres que nunca irão se render e ajoelhar no barquinho do nazareno, deveriam beber do próprio líquido venenoso fermentado em suas entranhas. Talvez assim sentissem o quanto afetam a humanidade insidiosamente com um viés capcioso de aparente normalidade que atingem bobos que nada percebem ao redor, com uma repugnante naturalidade de sumidades de um Olímpo de terra arrasada, arvorados e abusados, ante a tolerância da nossa humildade. Há os que diante dessa situação se fazem de intempestivos para se insurgirem contra os vestais, maculados nas vitrines de um poder que se ofusca quando se vê diante do reino de Deus.

O mundo dos perversos apaga o sol, a lua e as estrelas das nossas vidas.

A tábua do porto seguro está nas palavras de Deus, encontradas na Bíblia Sagrada. Ela nos transmite a necessidade de amor ao próximo, na busca do nosso ideal de liberdade, fraternidade e igualdade para todos. E ele está conosco, mesmo quando sobrevém as tempestades. Ele é a nossa fortaleza, o nosso porto seguro e infinitamente nos dá a oportunidade que necessitamos para lutarmos pelos nossos sonhos.

A nossa vida se nutrida de confiança nas palavras de Deus, o pôr do sol poder torná-la inefável e irrepetível.

Ainda mais se for dia de amor, perdão, inocência e arrebatamento. Ou nem isso, se antes o olhar do próximo nos tocar com o coração de Jesus e seus discípulos quando enfrentaram a tempestade na Galileia. O sol viria então penetrar pela vidraça como através da alma. E o seu ocaso ressurgiria para nós com a magnitude da Nona Sinfonia, de Beethoven, ou de alguma cantata, de Sebastian Bach. Semelhante à epifania da criação divina atraindo magneticamente o universo para a beleza, a moral e a justiça.

Diante de tal esplendor, não nos preocuparíamos com a brutal carga corruptiva da desumanidade, nem nos mortificaríamos com a inflação da república. A desigualdade não nos afetaria no casco esvoaçante da imortalidade. E só teríamos olhar então para a beleza da vida e para a sabedoria de Deus encontrada no seu sábio silencio.

E é como a sensação do universo nos guiando para o porto seguro nos deixando nesse instante em face do milagre. O bastante para sentirmos o bem no enlevo do sol na pele, ou na água, ou nos fatigados olhos, nos fazendo sentir a alegria de estarmos vivos ouvindo os gorjeios irrefutáveis dos pássaros. Porque até o respirar é diferente ante a fascinação da natureza e o levantar do orvalho.

E não teríamos então a insidiosa aristocracia do mal na terra, nem o medo que nos turva o coração, nem a revelação de uma nova escala entre as cores do céu, ou se nunca os pecaminosos deixarão de pecar. Viveríamos então sem o peso das nossas provas e expiações, sem buscarmos explicar sequer um por do sol, atentos apenas a o que só ele pode explicar.

(Edvaldo Nepomuceno, escritor)

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