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OPINIÃO

Que se dane a vida, o negócio é faturar

Zeloso e eficiente, o Tenente Coronel Ricardo Rocha compareceu à Câmara Municipal de Goiânia rogando aos vereadores um “pacto pela vida”. Sua proposta, com base em estatísticas sérias e comprovadas, é a de restringir o horário de funcionamento de locais que vendem bebidas alcoólicas como estratégia para diminuir o percentual de mortes violentas e outros crimes.

Não é uma invenção estilo jabuticaba e a eficiência da medida já foi testada e aprovada em algumas cidades do País, assim como em outras nações que decidiram por leis que melhoram a qualidade de vida da população. Considerando que nossa florida Goiânia é uma das cidades mais violentas do mundo, era de se esperar uma adesão imediata à proposta do veterano policial.

Por incrível que pareça, entidades que sempre gritam pedindo ordem, contenção de brutalidade urbana e medidas eficazes no equilíbrio da segurança pública, estão contra a possibilidade de adotar horários para a farra que leva aos destemperos e assassinatos. Motivo principal: urge faturar.

As vozes que se mostram adversárias da proposta urram se apressando em demonstrar que haverá queda de arrecadação e de faturamento. Então tudo bem que, em nome do Deus dinheiro, almas sejam encomendadas ao capeta?

Poucos se dão ao trabalho de calcular o prejuízo social com as mortes, sobretudo entre jovens em pleno vigor produtivo, a dor das famílias e os incalculáveis prejuízos no que se transformou numa guerra fratricida. Tirando o véu da hipocrisia, e principalmente os interesses umbilicais, é possível perceber o quanto o argumento é raso na essência.

A meu ver, negócio algum justifica alimentar o horror que se transformou a outrora pacata capital dos goianos. Trata-se de uma resistência com fortes conotações culturais negativas. Acredita-se que é necessário varar a madrugada bebendo para tornar a vida mais feliz e os negócios mais rentáveis.

A prática, nas comunidades que tiveram a coragem de reduzir o potencial explosivo da bebedeira, demonstra que todos saíram ganhando. O comércio se ajustou aos horários, trabalhadores puderam ir para casa mais cedo e, a melhor parte do enredo, os clientes acabaram se adaptando. Com o nível de segurança em grau menor de estresse, as famílias voltaram a frequentar e consumir com maior vigor.

Mas tudo indica que será uma dura batalha. Alguns vereadores mais afoitos, sem pesquisar com isenção, já se apressaram em “ficar ao lado dos comerciantes”. Como se eles não fossem vítimas potenciais da escalada de violência. Pior ainda, dando a conotação de que um “pacto pela vida” é uma proposta que tem lado. Não tem. É uma iniciativa com visão ampla, de interesse geral. Não pode e não deve ser avaliada pensando apenas em nichos que podem perder alguma coisa. Ao que consta, o maior bem do ser humano é a vida. É um tópico que está acima de qualquer outra análise. Em uma sociedade que se banaliza a morte, parece claro que a resposta não é tão simples assim. Que pena.

Rosenwal Ferreira é jornalista, publicitário e terapeuta transpessoal

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