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OPINIÃO

Três passos a caminho da sanidade emocional

Só depois de flertar com os sinais do corpo, é que você perceberá que ele, de modo inconsciente, acrescentou a sílaba ‘má’ à palavra ‘água’ e foram estas más[águas] emocionais, que chamamos de ‘mágoas’, que adoecem a nossa mente e coração. Assim, as dores físicas são inevitáveis e – devagar – o corpo adoece.

Mas você não fica doente se tomar um único copo de água ruim. Para adoecer é preciso tomar dessa água invisível todos os dias. A mágoa é um copo com água que camufla minerais cancerígenos. A gente até sabe o lixo emocional que está engolindo, sabe sim! Sabe... mas ignora que ele possa violentar lentamente o nosso corpo.

E o corpo, agora enfermo, começa a revelar os sintomas da má recepção que lhe fora imposta ao longo de um tempo. Uma vez, eu fiquei muito doente. Uma bactéria terrível me provocou um ressecamento na pele e este evoluiu em rachaduras sanguíneas.

Fui a vários especialistas e não se descobria o que era. Até que um deles me disse: “Filha, por que você está fazendo isso com você? Eu posso cuidar do efeito de suas dores, mas a causa delas é só você quem pode encontrá-la”. Naquele dia, eu saí do consultório vazia de emoções. Contudo, eu compreendi perfeitamente o que o médico quis me dizer.

No outro dia, ainda sentindo a ardente e doída coceira das rachaduras em minha carne, decidi ficar livre da causa de minhas feridas. Enfrentei os meus fantasmas interiores e, depois de derrotar o maior deles, o orgulho, fui me reconciliar com o passado.

Cartas na mesa, um pouco de raiva escorria pelo canto da boca – resquício do orgulho – mas a determinação em ficar livre daquela “má(água)” que contaminava o meu corpo era maior. Pois a cura de uma causa é mais eficiente do que tentar, em vão, sanar os seus sintomas.

A pessoa, meu fantasma do passado, não recebeu positivamente o mesmo gesto. Eu fiquei em silêncio por alguns instantes e foi em silêncio que parti. Porque, naquele instante, fui tomada de uma súbita compreensão de que a minha dor não é igual a dor do outro e, para muitas pessoas, um quilo de pena pesa infinitamente mais do que um quilo de chumbo. Dor é dor!

Viver dói e não podemos julgar a profundidade com que a mesma lâmina que nos fere, fere o outro. Cada indivíduo tem o seu íntimo encontro com os seus dilemas e a necessidade de buscar autocuras. Todo homem é uma casa cuja porta só se abre de dentro para fora. O contrário – porta arrombada por outrem – jamais poderá curá-lo.

Eu nunca mais estive com aquela pessoa – o meu fantasma. E apesar de desejar que ela também se cure, isso não é problema meu. Basta saber-me curada, não apenas das feridas na pele, mas de todas as minhas mágoas que colecionei sem me dar conta de que, assim, o fazia até que o meu corpo me alertou.

As rachaduras na pele sumiram do mesmo modo que começaram. Depois disso, eu tomei o gosto em seguir os três passos para manter a minha sanidade emocional e meu corpo livre de doenças psicossomáticas: amar fraternalmente mesmo sem merecer; perdoar mesmo sem aceitar e aceitar a situação mesmo sem compreendê-la. (Revisado pela professora Quitéria França)

(Clara Dawn, romancista e produtora de conteúdo do Portal Raízes (portalraizes.com)

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