Home / Opinião

OPINIÃO

A floresta ecoa o que nela se grita

“Nosso Senhor ama os pobres, por isso fez tantos” (Abraham Lincoln)

A crítica da religião é o pressuposto de toda a crítica. Um ser não humano é o re­flexo do espelho onde o homem procu­ra e deve buscar sua verdade ou realida­de. O homem faz a religião, mas ela não faz o homem, por ser ela autoconsciên­cia, sentimento de si. Ao buscar a religião o homem denuncia a perda de si, sem sa­ber que “o homem é o mundo do homem, o Estado, a coletividade” (Marx), esse Es­tado e a sociedade que produzem a reli­gião, uma doutrina, realização fantástica da essência humana ou realidade fictí­cia. A luta contra a religião é a luta contra o perfume do espírito, o suspiro do indi­víduo sem alma, o ópio do povo. Ao lutar por meio da religião o homem denuncia sua miséria real, a necessidade de se abo­lir da falaciosa felicidade ilusória. Essa crí­tica liberta o homem da fantasia, provoca a perda da ilusão, o reencontro da razão, do próprio sol, contrário ao sol ilusório do homem que não gira em torno de si.

A alienação humana nas suas formas profanas foi desmascarada na sua sagra­da, na crítica da religião pelo direito, da te­ologia através da política. Renegar 1843 é desconhecer a França de 1789 e o período atual, de participação nas nações moder­nas sem a participação nas suas revolu­ções ou contrarrevoluções de governantes que tiveram medo e aqueles que nunca o conheceram. Do contrário, ou conduzido por pastores, a liberdade só nos alcança no dia de seu funeral, ou, no grito do escravo debaixo do açoite traduzido como grito de rebelião. A floresta ecoa o que nela se grita. A Alemanha de dois séculos atrás, assim como o Cristianismo, estavam abaixo do nível da história, continuavam a ser objeto de crítica, a qual não é a paixão da cabeça, mas a cabeça da paixão.

A crítica não é um fim em si, mas uma arma a destruir o inimigo, um meio, in­dignação, sentimento, denúncia contra o mau humor, condescendência e insignifi­cância do governo. A sociedade dividida se defronta, tratada e tolerada na sua existên­cia dominada por governos e governantes agraciados pela dádiva do céu. Há que pro­mover pressão sobre os governantes para despertar a consciência, trazer à luz pú­blica o canto da sua própria melodia. Uma nação deve aprender a ter coragem, en­frentar o ancien régime ilusório, hipócrita e sofisticado a ocultar a imperfeição oculta do Estado moderno, no qual a salvação da ordem no mundo advém de heróis já mor­tos. A crítica política e moderna da realida­de social urge sair do status quo alemão e apreender seu objeto sob o seu objeto.

A economia preocupa os alemães com suas tarifas, proibições e economia política que fez com que o chauvinismo alcançasse dos homens a matéria, metamorfoseando sujeitos de algodão e ferro em patriotas, pe­las vias da economia política o domínio da sociedade sobre a riqueza. O domínio da propriedade privada sobre a nacionalida­de por meio da economia nacional, expres­são socioeconômica atada a uma questão de choque, ou exercícios adicionais em as­suntos históricos velhos e banais. O real germe de vida da nação alemã só brotou no seu crânio. É impossível extinguir a filoso­fia sem a realizar. Na batalha crítica da fi­losofia contra o mundo alemão o homem real, só foi possível na medida em que o próprio Estado moderno não atribuiu im­portância ao homem real e o “status quo” da ciência política alemã exprime a imper­feição do Estado moderno em si, a degene­ração de sua carne, tarefas que só podem ser resolvidas pela atividade prática.

A teoria transforma-se em força quando apodera das massas, e o radicalismo da te­oria alemã com seu rigor prático determina a eliminação positiva da religião ou o ho­mem que é para o homem o ser supremo, o que aguça a necessidade de acabar com as condições do homem diminuído, apri­sionado, desamparado: “Infelizes cães! Querem tratá-los como homens!” O refor­mista Lutero venceu a escravidão pela reli­giosidade, mudou a escravidão pela persu­asão, transformou padres em leigos, leigos em padres, libertou o homem da religiosi­dade exterior, transformou a religiosida­de na essência íntima do homem, libertou o corpo das suas cadeias, da luta do padre contra seu próprio padre interior ou sua ca­racterística sacerdotal. A metamorfose fi­losófica dos alemães eclesiásticos em ho­mens “emancipou” o povo, não se confinou aos príncipes, nem a restringir ao confisco da propriedade da Igreja, que fez da Alema­nha a mais oficial servidora de Roma.

A revolução das necessidades reais se faz pela revolução radical, e a Alemanha ficou a observar as outras nações modernas se desenvolver. De acordo com Hegel, “o ale­mão não se encontrará no patamar da de­cadência europeia, será comparado a um subserviente que sofre dos males do cris­tianismo”. A sociedade civil emancipa-se se alcança comando universal, emancipação geral da sua situação. O dinheiro e a cul­tura desperta a sociedade enquanto repre­sentante de si, seus objetivos e interesses, o cérebro e o coração social a consciência re­volucionária. A revolução de um povo é a emancipação da classe particular da socie­dade civil. O significado negativo univer­sal da nobreza e do clero francês produziu o significado positivo e geral da burguesia ou, o “nada sou e serei tudo” como a revela­ção da própria mediocridade da qual a clas­se média alemã tem como base da consci­ência mesquinha e limitada.

Os príncipes entram em conflito com o monarca, a burocracia com a nobreza, a burguesia com todos eles enquanto o prole­tariado já está a principiar uma luta contra a burguesia. São essas as condições huma­nas com base na liberdade social de vida prática pouco intelectual, e onde nenhuma classe da sociedade civil sente necessida­de de conseguir emancipação da situação imediata da situação imediata, necessida­de material além dos próprios grilhões. O mal feito não é particular, mas um mal ge­ral a exigir título humano. A perda total da humanidade será suprimida na redenção total do homem, no proletariado resulta­do do movimento industrial, uma pobre­za produzida artificialmente, massa ou povo oprimido que provém da desintegra­ção da classe média. O proletariado concla­ma a dissolução da ordem social existente, afirma o mistério da sua própria existência, praga a dissolução dessa ordem, nega a pro­priedade privada, bebendo da filosofia para identificar suas armas materiais, intelectu­ais as quais tomam o homem para o ho­mem, ou seu próprio ser supremo.

E o pulso, ainda pulsa!

(Antônio Lopes, escritor, filósofo, professor universitário, mestre em Serviço Social e dou­torando em Ciências da Religião/PUC-Goiás, mestrando em Direitos Humanos/UFG)

Leia também:

  

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias