Nada tenho contra homossexuais, pois todos são humanos, todos são irmãos, todos merecem nosso respeito, e a opção sexual é coisa que deve estar numa prioridade maior. tenho por eles o maior respeito, por uma questão de humanidade, de lógica espiritual e até de solidariedade humana.
Digo isto porque, neste mundo preconceituoso em que vivemos, hoje em dia muita gente reclama do até exagerado protecionismo que é conferido às chamadas minorias e aos excluídos, levando-os a promover as chamadas “paradas gay”, em quilométricas passeatas pelas praças e avenidas, como espécie de desabafo, como o vulcão, que, adormecido por anos e anos, subitamente desperta numa incontrolável erupção.
Observamos que hoje em dia o número de homossexuais aumenta em escala geométrica, e os vemos nos “shoppings”, nas perfumarias, casas de modas, sapatarias, numa proporção nunca vista, pois há pouco mais de duas décadas atrás, era meio raro vermos esses educadíssimos personagens atendendo-nos com uma presteza a toda prova. Parecer que a súbita febre de liberdade fez com que aqueles que se sentiam envergonhados passassem a assumir sua verdadeira opção sexual.
E é por isto mesmo que os admiro, pelo destemor de exibir-se como são, sem subterfúgios, pois o papel dos heterossexuais não é criticá-los e humilhá-los , mas aceitá-los e sobretudo respeitá-los, mesmo porque estão se tornando maioria, a ponto do ministro do STJ João Otávio de Noronha, em matéria veiculada na edição de 4 de dezembro em curso pela “Folha de São Paulo”, disse que os heterossexuais vão precisar de reivindicar direitos, porque estão virando minoria, o que despertou a ira dos integrantes da LGBT, que se sentiram ofendidos, apesar de o ministro certamente ter raciocinado com base em fatos reais, como sói ocorrer com quem julga com base em fatos, e não em suposições.
Parei estes dias para especular comigo mesmo o porquê de tantos “gays” hoje em dia, pois na minha época de meninice e adolescência e até lá pelos anos sessenta e tantos, o homossexual era “avis rara”: no meu São José do Duro, só me lembro de dois homossexuais (que tratávamos de “zé-muié”) e duas ou três lésbicas (que para nós eram “machifema”). Agora é que entendi: com base na proteção legal, decidiram dar um pontapé no preconceito e desfrutar a vida como lhes convém, até o dia em que todo mundo achar perfeitamente natural um salutar convívio.
Alguns amigos, que tiveram a mesma preocupação que eu, andaram atribuindo - sem qualquer base científica - esse crescimento de homossexuais a certos aditivos da alimentação, que estariam interferindo no metabolismo humano, fortalecendo o lado feminino de certos organismos masculinos, e vice-versa, havendo uns que atribuem a componentes do próprio óleo de soja, cujo altíssimo consumo justificaria tais transformações. E tentam sustentar sua tese pelo fato de animais alimentados com subprodutos da soja trazerem um ingrediente que atrofia os ossos, como se observa nos animais abatidos para consumo. E se há reflexos na constituição dos ossos, é perfeitamente possível que exista na soja algum componente que interfira nos hormônios masculino ou feminino das pessoas, coincidindo o início da proliferação dos homossexuais com a utilização cotidiana do óleo de soja na nossa culinária. Tem sua lógica.
Certa vez, conversando com uma pastora evangélica, no meio da conversa surgiu o assunto do homossexualismo, quando nos referíamos às bíblicas Sodoma e Gomorra, próximas ao Mar Morto, que foram destruídas por uma chuva de enxofre devido às licenciosidades sexuais que envolviam o homossexualismo. Mas é bom frisar que a destruição dessas duas cidades do Vale de Sidim não se deu por causa do homossexualismo, mas pela devassidão generalizada que contrariava Deus. Em grande parte, o preconceito contra o homossexualismo repousa erradamente nessa passagem bíblica.
Depois a pastora, com experiência de décadas em estudos bíblicos e pregações, trouxe uma nova versão para o surgimento do homossexualismo. Dizia ela – e não me atrevo a contrariar sua lógica – que a criança, ainda em estágio embrionário, já entende as manifestações da mãe, compreendendo tudo o que a mãe manifesta e até as contrariedades e os desejos. E por esta razão os estudiosos recomendam que elas conversem com seu bebê ainda no ventre.
E aí a lógica vem ao encontro do que se presume acontecer: é natural que haja por parte de um dos pais uma preferência para o sexo do nascituro: ora o pai anseia por um menino, e a mãe, por uma menina. E o perigo é exatamente ficar, durante a gravidez, antegozando o sonho de ter um filho ou uma filha. E quando vem o filho que a mãe sonhava ser filha, ou a filha que o pai sonhava ser filho, nasce a criança com o sexo desejado pelos pais nos primeiros dois meses de gravidez. E vem a menina que deveria ser menino e o menino que deveria ser menina, com todos os traços de personalidade desejada antes de se saber o sexo, hoje banalizado pela ultrassonografia, que mostra aos pais o sexo, permitindo-lhes fazer o enxoval na cor própria, além de poder escolher o nome.
Hoje as coisas estão facilitadas pela tecnologia. Antigamente, fazia-se um enxovalzinho de cor neutra e só depois do nascimento é que se providenciavam as camisinhas pagãs, as toucas, os casaquinhos e os cueiros azuis para os meninos e cor-de-rosa para as meninas.
E como existem espertalhões em todos os lugares, havia um homem que cheguei a conhecer em Belo Horizonte, morador na rua Jacuí, entre os bairros Concórdia e Nova Floresta, cuja casa virou romaria, em razão de suas previsões sobre o sexo dos bebês das consulentes. Jamais errava uma previsão, e chegava a fazer aposta grossa com as futuras mamães. Não me lembro seu nome, mas a fama de adivinhão de sexo deitou fama e arrastou muita gente, pois nunca deixou de acertar.
Anos e anos imperou absoluto, até que um dia, por acaso, descobriram seu mistério: quando ele afirmava o sexo da criança, dizia à mãe:
- Para a senhora não dizer que vou enganá-la, vou até escrever aqui neste papel o sexo de sua criança, e quando nascer pode vir verificar e comprovar.
E escrevia: ”A criança de dona Fulana vai ser menino (ou menina)” e lacrava o envelope para ser aberto após o parto.
Nascida a criança, quando a mãe constatava o acerto da previsão, até mandava gratificá-lo, não se preocupando em conferir o envelope.
Mas quando sua previsão estava errada, e a mãe ia reclamar e recusar-se a pagar a aposta, ele abria o envelope e mostrava que tinha acertado a previsão, pois no papelucho constava exatamente o sexo da criança.
É que o espertalhão, ao anunciar à mãe qual o sexo do futuro bebê, escrevia no papel: “O bebê de dona Fulana de Tal vai ser menino (ou menina)”.
Mas escrevia no papel exatamente o oposto do sexo anunciado: quando coincidia com o anunciado, a mãe não precisava conferir o papel envelopado; mas quando errava, e a mãe ia reclamar, ele mostrava, dizendo:
- Eu disse que ia ser menino (ou menina) - e mostrava a anotação com o prognóstico oposto ao que anunciara verbalmente.
Esperteza é coisa que não se aposenta nunca.
(Liberato Póvoa, desembargador aposentado do TJ-TO, membro-fundador da Academia Tocantinense de Letras e da Academia Dianopolina de Letras, membro da Associação Goiana de Imprensa - AGI e da Associação Brasileira de Advogados Criminalistas - Abracrim, escritor, jurista, historiador e advogado, liberatopo[email protected])