Circulou nas redes sociais (e certamente vai voltar em 2018) um vídeo com diversas cenas em que aparece uma senhora muito entusiasmada, num concorrido palanque, gritando com todas as forças:
– Viva Siqueiraaaa! Viva o Tocantins!
Em seguida, com voz empostada, também num palanque, voltou a discursar, dizendo que se deveria pensar “na real possibilidade de arrancar do Tocantins essa erva daninha que se chama Eduardo Siqueira Campos...”.
E prosseguiu, usando de uma apóstrofe, quando disse, dirigindo-se a Eduardo e ao pai:
– Vocês dois vão ser aniquilado (sic) no dia primeiro de outubro!
E no prosseguimento do vídeo, desta vez com voz mansa e conciliadora, em declaração fora do palanque, disse:
– O Siqueira, gente, é um homem extraordinário. Ele não é um mandão; ele é um comandante. Entendam que ele não é um ditador: ele é um guerreiro...
Logo depois, de novo num palanque, alfinetou:
– Vamos ver se o Siqueirão vai sair do cargo pro filho dele ser candidato. Tá aquele “muído” (sic), aquele “muído” (sic) de fazer política de conversa fiada e atitude zero; e sou mulher de recuperar isso...
Nova cena, também em palanque, ao lado do candidato à reeleição Marcelo Miranda, ela diz:
– Nós precisamos no Governo de ter um homem de bem, de ter um homem honesto, com as mãos limpas; um homem que tenha a vida limpa, um homem que tenha a vida limpa; que tenha a alma limpa como Siqueira Campos...
Prosseguindo, também numa das campanhas, diz:
– Nós realizamos o nosso sonho, o sonho do povo do Tocantins, que é Marcelo Miranda governador...
E continua o vídeo, em nova cena, quando o governador reeleito, de quem já se tinha desgarrado, reclamou da falta de recursos para a crise da saúde, ela voltou à cena, declarando:
– Não é falta de dinheiro; é falta de vergonha, é falta de gestão, é falta de capacidade técnica para administrar a saúde do Estado do Tocantins...
Depois, embora procurando dar um ar contemporizador e condescendente, declarou:
– Falta de dinheiro? Tudo bem; pode ser que o dinheiro seje (sic) curto; mas falta muito mais: compromisso político, capacidade de gestão; força de trabalho...
Em seguida, deu outra guinada (prossegue o vídeo):
– Estou com o governador Marcelo Miranda para trazer as mudanças que o Tocantins precisa...
Esta senhora é a senadora Kátia Abreu, cuja trajetória política mostra um arrivismo e uma instabilidade política pouco confiável.
Sua entrada na política partidária deve-se a Siqueira Campos, concorrendo em 1998 ao cargo de deputado federal, quando, na primeira suplência, assumiu três vezes entre 2000 e 2002. Realizou – justiça seja feita! - um excelente trabalho, tanto que foi reeleita e tornou-se a terceira deputada mais votada do Brasil, atrás apenas Enéas Carneiro (Prona-SP) e Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM).
– Em resumo: embora sempre tivesse estado no PFL (depois transmudado para DEM), em uma campanha apoiava um lado, em outro o adversário daquele, de forma que queria manter o poderio, a ferro e fogo.
Deu seu apoio ao peemedebista Marcelo Miranda na campanha da reeleição, virando-se contra Siqueira e seu filho Eduardo, de quem passou a falar “cobras e lagartos”, como demonstra o vídeo transcrito. Depois, com o fisiologismo que caracteriza sua personalidade, voltou aos braços do velho cacique, deixando de apoiar o PMDB, passando a atacar Marcelo. Depois, deixou o DEM, filiando-se ao PSD de Gilberto Kassab. Mas como não é boba, negociou com Kassab a presidência do PSD para seu filho Irajá, resguardando-se de possível processo de infidelidade.
Em 2010, infernizou o PT com a sua vitoriosa cruzada contra a CPMF, e em 2012 passou a paparicar publicamente a presidente Dilma contrariando meio mundo de políticos e mostrou seu oportunismo, coroado com sua nomeação como ministra da Agricultura, mesmo com os explícitos protestos da classe produtora.
Essa sua ganância pelo poder e a necessidade de manter o “status” levaram-na a migrar para o PMDB, onde muito cedo passou a ser uma estranha no ninho, tanto que foi, por unanimidade, expulsa da sigla, e suas falcatruas lhe renderam o Inquérito 4.419-DF, por ter recebido 500 mil reais, não contabilizados, por intermédio de seu marido, Moisés Pinto Gomes, durante a campanha de 2014. O inquérito está andando, nas mãos do ministro Gilmar Mendes, que sempre foi seu hóspede em Palmas, mas ele não aliviou sua situação, prorrogando as investigações, o que ela deve ter estranhado, mas o ministro certamente, no seu longo convívio, passou a conhecê-la, preferindo não se comprometer com alguém com a situação política em curva descendente.
A senadora posa sempre de “femme fatale”, tal qual a personagem Colombina da “Comedia dell’arte”: sedutora, esperta e volúvel, à procura de seu Arlequim.
E, como é do seu feitio, não se acomoda em partido nenhum que não a admita como exclusiva mandona: em 1995-1998, era do PPB; depois, em 1998, migrou para o PFL, rebatizado de DEM, onde, em 2011, sentiu-se preterida e foi para o PSD, partido do Kassab, onde ficou até 2013, quando ingressou no PMDB, mas deixou o filho, deputado Irajá Abreu, comandando o PDS no Tocantins, num acerto com Kassab para evitar ser expulsa por infidelidade partidária. Nesse ínterim, tornou-se ferrenha defensora do PT que tanto odiava e aceitou até ser nomeada ministra da Agricultura, sob protestos de alta patente da própria sigla. E sua personalidade arrivista e aproveitadora fê-la cometer tantos desatinos, que acabou por ser expulsa do PMDB.
Bem lembrou o comentarista político Gerônimo Cardoso, que, após andar sumida, de repente a arrivista senadora passou a buscar na mídia (em que ela aparecia apenas em função de sua vida política irregular), um espaço com vistas às eleições do ano que vem, talvez esquecida de que a memória do povo vem mudando ultimamente, e que o Tocantins não é mais aquele. E veio a pergunta perfeitamente pertinente: qual das Kátias o eleitor vai escolher?
Lembra Gerônimo Cardoso, com propriedade, que, apesar de ser ela uma “representante” nossa há quase duas décadas, está com ares de neófita, como se só agora estivesse iniciando sua carreira em nosso Estado, participando até de campanhas sociais totalmente divorciadas da política, mas, na maior cara-de-pau, até já se atribuiu o título de “governadora”, participando de grupos em redes sociais, procurando interagir com os eleitores que aos poucos lhe escapam das mãos.
O Tocantins não precisa dessa espécie de representante, que vem para o nosso Estado apenas para “fazer a mala” e tentar impor nova oligarquia, pois de aproveitadores já estamos cheios.
(Liberato Póvoa, desembargador aposentado do TJ-TO, membro-fundador da Academia Tocantinense de Letras e da Academia Dianopolina de Letras, membro da Associação Goiana de Imprensa - AGI e da Associação Brasileira de Advogados Criminalistas - Abracrim, escritor, jurista, historiador e advogado, liberatopo[email protected])