Aproximando-se o ano 2000, os supersticiosos começaram a agitar-se inquietos, com a história de que “o ano 2000 não chegará”, levando 1999 como presumível limite da existência do mundo.
A Bíblia narra a história de Noé, que todos conhecem como o fim do mundo, isto é, o primeiro fim do mundo, lá pelo quarto milênio antes de Cristo. Segundo o livro da Gênese, após ter sido Noé escolhido como o único justo a merecer a sobrevivência, este entrou na gigantesca arca com toda sua família, salvando-se da catastrófica inundação que varreu da face da Terra homens e animais.
Foi-nos ensinado, nas aulas de História Sagrada, que aquilo foi o “fim do mundo”, coisa que já se cristalizou como dogma. Ao texto bíblico alguns “entendidos” acrescentaram, por conta própria, que, diante do pacto celebrado, entre Deus e Noé de que o mundo jamais voltaria a ser destruído pela água, o próximo fim do mundo seria pelo fogo. Para assombrar ainda mais o homem, o Apocalipse traz aquelas pavorosas previsões.
Não há dúvida de que a Bíblia está cheia de verdades e de belíssimas passagens de profunda sabedoria, como os Provérbios de Salomão, os Salmos de Davi e o Sermão da Montanha, mas também não se pode negar que há mais simbolismo do que revelações explícitas. A prova disso está nas parábolas.
Assim, é fácil deduzir que o Livro dos Livros é passível de interpretações, como vemos nas parábolas do semeador, do filho pródigo, do joio e do trigo, do grão de mostarda, da ovelha desgarrada e muitas outras.
Voltemos ao fim do mundo, que seria no final de 2000. Nada há que justifique que o mundo fizesse “puf!” e se acabasse. O que pode acabar é o homem, e voltemos à Bíblia com a história do dilúvio para demonstrar isto.
Existe um livro muito interessante, escrito com base em pesquisas científicas, que estou sempre folheando, devido a suas explicações lógicas para os fatos mais controvertidos. Trata-se da obra “E a Bíblia Tinha Razão”, de Werner Keller. A edição que tenho é de 1964, da Melhoramentos, e creio que não haja sofrido alterações. Nas suas 383 páginas há explicações científicas para os pontos mais misteriosos, como dilúvio, Sodoma e Gomorra, a viagem à Terra Prometida, vários milagres e muitos outros assuntos do Antigo e Novo Testamentos.
O livro dá a explicação para o primeiro “fim do mundo”, o dilúvio. Sabe-se que no ano 4000 a.C., a população do mundo conhecido concentrava-se na Mesopotâmia (o lraque de hoje), nos vales dos rios Tigre e Eufrates, que desembocam no Golfo Pérsico. Aliás, aquele lugar tem sido considerado como o berço da humanidade, que começou com os sumérios e acádios, vindo depois os assírios e caldeus, muito antes de Abraão e Noé.
Uma expedição comandada pelo explorador inglês “Sir” Charies Leonard Wooley, após exaustivas buscas, conseguiu reunir informações científicas seguras de que ocorrera ali, por volta do ano 4000 a.C., uma gigantesca inundação que estendera por 630 km de comprimento e por 160 km de largura, cobrindo todo o nordeste do Golfo Pérsico. Escavações posteriores mostraram camadas de limo e cacos de cerâmica que provam a existência da catastrófica inundação. Como ali se concentrava toda a população do mundo, este acabou mesmo, embora tenha sido um acontecimento local. Sobre a arca de Noé, que garantiu a sobrevivência da espé-cie humana, os habitantes da aldeia de Bayzit, no sopé do Monte Ararat, na Armênia, contam a história de um grande navio de madeira encalhado no cimo daquele monte, o que confere com a Bíblia (Gênese, 8:4).
Não é de estranhar que começassem a criar um clima apocalíptico para este fim de milênio. Nostradamus, o mais célebre dos futurólogos, anda assombrando meio mundo com duas funestas previsões, deixando nós, brasileiros, aliviados, ao dizer, em outras palavras, que o Brasil será o celeiro do mundo, quando este se acabar. Pelo menos não acabará pra nós.
A passagem do ano 999 para o ano 1000 foi um pesadelo para a humanidade, pois diziam que o mundo não iria “emplacar” o ano 1000. Houve corre-corre, confusão e morte, mas o dia seguinte amanheceu ensolarado, igual aos outros.
Enquanto alguns perdem o sono com estas histórias de fim do mundo, prefiro perder o meu preocupando-me com outras coisas, pois, para mim, o que está virando "o fim do mundo" é este governo desacreditado esse custo de vida lá nas alturas, que não há quem dê jeito.
(Liberato Póvoa, desembargador aposentado do TJ-TO, membro-fundador da Academia Tocantinense de Letras e da Academia Dianopolina de Letras, membro da Associação Goiana de Imprensa - AGI e da Associação Brasileira de Advogados Criminalistas - Abracrim, escritor, jurista, historiador e advogado, liberatopo[email protected])