Opinião

2018 e os Humanos Direitos

Diário da Manhã

Publicado em 26 de dezembro de 2017 às 22:04 | Atualizado há 7 anos

Em al­guns di­as en­tra­re­mos em no­vo ano. Há pou­cos di­as, em dez de de­zem­bro, a De­cla­ra­ção Uni­ver­sal dos Di­rei­tos Hu­ma­nos com­ple­tou 69 anos. Apro­va­da pe­la Or­ga­ni­za­ção das Na­ções Uni­das, em 1948, o do­cu­men­to es­pe­ra­va fe­char ci­ca­tri­zes mo­ra­is e exis­ten­ci­ais cau­sa­das pe­la II Guer­ra Mun­di­al e pe­los hor­ro­res do na­zis­mo e do fas­cis­mo, na Eu­ro­pa e fo­ra de­la. A con­di­ção hu­ma­na é exal­ta­da e sua va­lo­ri­za­ção pro­mo­vi­da mun­do afo­ra.

A vi­o­la­ção de seus prin­cí­pios as­som­bra go­ver­nan­tes dos paí­ses sig­na­tá­rios, as ge­ra­ções que vi­ve­ram os dra­mas do sé­cu­lo XX e as no­vas ge­ra­ções. O Bra­sil é des­ta­que in­ter­na­ci­o­nal tam­bém na sis­te­má­ti­ca vi­o­la­ção aos di­rei­tos ins­cri­tos na­que­la De­cla­ra­ção Uni­ver­sal. Tra­ba­lho es­cra­vo, to­ma­da de ter­ras dos po­vos in­dí­ge­nas, agres­sões con­tra mu­lhe­res, cri­an­ças, jo­vens e ido­sos, au­men­to da po­pu­la­ção car­ce­rá­ria, de­gra­da­ção do meio am­bi­en­te … e a lis­ta se­gue, lon­ga e tris­te.

A pro­mo­ção dos di­rei­tos hu­ma­nos tem ge­ra­do inú­me­ras ações ins­ti­tu­ci­o­nais, pe­da­gó­gi­cas e cul­tu­ra­is. Es­co­las e uni­ver­si­da­des re­a­li­zam ati­vi­da­des nes­ta di­re­ção. Cur­sos, de­ba­tes, se­mi­ná­rios, pu­bli­ca­ções. A Or­dem dos Ad­vo­ga­dos do Bra­sil ins­ta­la co­mis­sões, or­ga­ni­za es­tu­dos, ela­bo­ra pro­pos­tas. O Pla­no Na­ci­o­nal de Di­rei­tos Hu­ma­nos ates­ta que o Bra­sil en­con­tra-se em dia com a bus­ca dos ob­je­ti­vos da De­cla­ra­ção. Ações go­ver­na­men­tais e mer­can­tis, se­gui­da­men­te, ne­gam e, não ra­ro, anu­lam es­tes ad­mi­rá­veis es­for­ços.

Em nos­sa vi­da co­ti­dia­na to­dos nós co­nhe­ce­mos in­di­ví­duos, em­pre­sas, ad­mi­nis­tra­do­res pú­bli­cos e ins­ti­tu­i­ções que ne­gam à con­di­ção hu­ma­na o sig­ni­fi­ca­do po­lí­ti­co, éti­co e cul­tu­ral ins­tau­ra­dor da de­mo­cra­cia, da jus­ti­ça so­ci­al e da paz. A ne­ga­ção dos di­rei­ros hu­ma­nos tem cus­tos so­ci­ais ele­va­dos pa­ra o con­jun­to da so­ci­e­da­de e não ape­nas pa­ra aque­les que se sen­tem ul­tra­ja­dos com os prin­cí­pios ge­ra­is da ci­da­da­nia. As ten­sões so­ci­ais são nu­tri­das pe­la vi­o­lên­cia fí­si­ca e sim­bó­li­ca, a ex­clu­são so­ci­al, a po­bre­za e a dis­cri­mi­na­ção.

Ati­tu­des de re­jei­ção aos prin­cí­pios da De­cla­ra­ção Uni­ver­sal dos Di­rei­tos Hu­ma­nos ga­nham for­ma e sen­ti­do na ex­pres­são “hu­ma­nos di­rei­tos”. Uma sór­di­da con­tra­po­si­ção aos “di­rei­tos hu­ma­nos”. O in­fa­me tro­ca­di­lho es­tá en­ra­i­za­do no so­lo his­tó­ri­co da vi­da bra­si­lei­ra. A es­po­li­ção co­lo­ni­al e a es­cra­vi­dão não de­sa­pa­re­ce­ram do uni­ver­so sim­bó­li­co e das prá­ti­cas so­ci­ais de nos­sos di­ri­gen­tes po­lí­ti­cos, eco­nô­mi­cos e dos mei­os de co­mu­ni­ca­ção.

A afir­ma­ção “hu­ma­nos di­rei­tos” é fór­mu­la pu­bli­ci­tá­ria, pia­da de mau gos­to. É a tra­du­ção da in­dis­po­si­ção cul­tu­ral de al­guns gru­pos so­ci­ais em ha­bi­tar uma so­ci­e­da­de de­mo­crá­ti­ca e aber­ta pa­ra o fu­tu­ro, pa­ra a di­fe­ren­ça, a fe­li­ci­da­de e a paz em nos­so dia a dia. Que em 2018 o ani­ver­sá­rio dos 70 anos da De­cla­ra­ção Uni­ver­sal dos Di­rei­tos Hu­ma­nos nos en­con­tre mais pró­xi­mos dos ide­ais ne­la con­sa­gra­dos.

 

(Pau­lo Hen­ri­que Mar­ti­nez, pro­fes­sor na Uni­ver­si­da­de Es­ta­du­al Pau­lis­ta – Unesp, De­par­ta­men­to de His­tó­ria/As­sis)

 

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