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OPINIÃO

Fazer amor: tão pobre amor

“Aqui­lo que se faz por amor es­tá sem­pre além do bem e do mal.”

Fri­e­drich Ni­etzsche

A ex­pres­são " fa­zer amor" é um eu­fe­mis­mo pa­ra a "pra­ti­ca do  se­xo" e, tam­bém, um in­di­ca­dor da hi­po­cri­sia, en­fei­te da fal­sa mo­ra­li­da­de so­ci­al. As fe­mi­nis­tas di­zem, pa­ra se­du­zir seus par­cei­ros: — "as mu­lhe­res fa­zem amor e os ho­mens, se­xo". De­pois, ao de­fen­der sua op­ção se­xu­al, di­zem que, em ques­tão de amor, nin­guém man­da em seu pró­prio co­ra­ção. En­tão, de­vem es­tar fa­zen­do al­gu­ma coi­sa es­tra­nha sem que­rer, cha­man­do-a de amor! Ou me res­pon­da, por que, às es­con­di­das, to­dos de­mons­tram es­ses sen­ti­men­tos na­tu­ra­is, usan­do os im­pul­sos se­xu­ais? Em se­gui­da, fi­ca tu­do bem, de­pois se ba­nham co­mo quem co­me e es­co­va os den­tes e sor­rin­do faz de con­ta que na­da acon­te­ceu: é co­mo um tra­ba­lho qual­quer!

Eu na qua­li­da­de de cli­en­te, não que­ro na­da com "amor". Se o di­nhei­ro com­pra tu­do que o amor po­de me dar, bas­ta-me o pra­zer do po­der. A pri­são so­ci­al, cau­sa­da pe­la fal­ta de con­di­ção, des­vir­tua os pu­ros sen­ti­men­tos, ou me­lhor, só há sa­ú­de psi­co­ló­gi­ca com au­to­no­mia, sem a exi­gên­cia de quem eu pro­me­ti fi­de­li­da­de até a mor­te. En­tão, "fa­zer amor" é uma fan­ta­sia ab­sur­da dos de­vas­sos, os ri­cos com­pram pron­to o amor e seus atri­bu­tos. "Amor (ver­da­dei­ro) só du­ra em li­ber­da­de". O res­to é com­pro­mis­so e obri­ga­ções im­pos­tas.

Sim, es­se amor im­pos­to é "tão po­bre amor", co­mo dis­se o mú­si­co Ra­ul Sei­xas, na can­ção: "A Ma­çã". Ja­mais o que­ro pa­ra mim. A mai­or per­ver­si­da­de se­xu­al é o es­for­ço exer­ci­do na ma­nu­ten­ção da apa­rên­cia de quem nun­ca usa de­le. Mas, se não fos­se as­sim, na­da flu­i­ria em uma so­ci­e­da­de en­si­na­da a hi­po­cri­sia. Cha­mem-no de qual­quer coi­sa, to­dos são pas­si­vos da mo­ti­va­ção: "cres­cei e mul­ti­pli­cai". Por is­so dar pra­zer o fa­zer amor, bem co­mo pra­ti­car se­xo. O que se­ria a in­ten­são de mul­ti­pli­car se não fos­se a in­ten­são do or­gas­mo? Qual é o pra­zer do cri­ar fi­lho?  Fa­zer amor ou se­xo ter­mi­na sen­do a mes­ma coi­sa quan­do ape­nas se vi­sa o lu­cro? "Pas­sei a ocu­par meus di­as pen­san­do so­bre o que, afi­nal, é is­so que to­do mun­do en­che a bo­ca pra cha­mar de amor" (Mar­tha Me­dei­ros).

(Clau­de­ci Fer­rei­ra de An­dra­de, pós-gra­du­a­do em Lín­gua Por­tu­gue­sa, li­cen­cia­do em Le­tras, ba­cha­rel em Te­o­lo­gia, pro­fes­sor de fi­lo­so­fia, gra­má­ti­ca e re­da­ção em Se­na­dor Ca­ne­do, fun­cio­ná­rio pú­bli­co)

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