Na próxima sexta-feira, 31, começa o horário eleitoral gratuito na televisão e, com ele, abre-se a última oportunidade de reviravolta nesta eleição para Zé Eliton e Daniel Vilela. Não será fácil. Tudo o que os dois tentaram até agora não funcionou. Nem antes, na pré-campanha, nem agora, passados 15 dias desde o início das atividades de rua – carreatas, comícios, caminhadas e tudo o mais, que hoje parecem ser coisa do passado, brega, fora de moda, que só trazem tédio e motivam a rejeição o eleitor. As redes sociais, embora usadas intensamente, não deram retorno.
Daí, é perto de desesperador o quadro que se apresenta para Zé Eliton e Daniel Vilela no presente cenário eleitoral, em que as pesquisas de credibilidade apontam para a vitória de Ronaldo Caiado no 1º turno, com folgada margem de votos. Os candidatos governista e emedebista continuam atolados no 2º lugar de sempre, empatados na faixa dos 10% de intenções de votos, insuficientes para deter a marcha inexorável do candidato democrata rumo a uma consagração nas urnas.
A última esperança, então, é o horário eleitoral no rádio e na televisão. Zé (como seus marqueteiros o batizaram) e Daniel enfrentarão o desafio de se apresentarem, de algum modo, convincentes a ponto de tirar votos que hoje são de Caiado – o que parece improvável que consigam. Afinal, nenhum dos dois exibiu competências (não tiveram, por exemplo, um desempenho excepcional nos debates de que participaram até agora), a tal ponto que a suas simples aparições na telinha tenham a capacidade de arrastar para eles as preferências do eleitorado. Não é exagero prever que só um milagre poderá levar um ou outro a algum tipo de crescimento capaz de forçar um 2º turno – meta máxima que podem pretender.
BASE GOVERNISTA
Do alto do pedestal em que vive a base governista, argumenta-se que, em 1998, Marconi Perillo, nesta mesma época, alcançava apenas 7% das intenções de voto e ainda assim venceu a eleição. Verdade. Mas basta comparar o jovem tucano oposicionista que derrotou Iris Rezende com esse Zé governador para comprovar que as diferenças são imensas. E há ainda o contexto social e político daquele mundo. Se houver alguma semelhança, e há, é na repetição de um grupo que vive a fadiga de longos e longos anos de poder, 16 do PMDB de lá, 20 do PSDB de cá.
As desculpas de Zé e Daniel para a entaladela em que se meteram nas pesquisas variaram de acordo com o momento. Primeiro, não seriam conhecidos – o que parte de uma premissa errada, a de que, sendo conhecidos, melhorariam automaticamente seus pontos. Depois, que a campanha de rua colocaria as suas respectivas militâncias em ação, conquistando os necessários saltos nos índices de intenções de voto. Não, nada disso deu certo. Mesmo sendo mais conhecidos – e Zé passou por cinco meses de visibilidade extrema como governador titular – os números não se moveram e seguiram... de lado.
O horário eleitoral no rádio e na televisão é o que restou. Candidatos que estão atrás nas pesquisas costumam prometer reação a partir do seu início e esse é o discurso que se ouve pelo Brasil afora, inclusive entre presidenciáveis como Geraldo Alckmin, do PSDB, que também patina nas pesquisas e anuncia uma próxima e inevitável virada, acredita ele, a ser produzida pelos programas políticos na TV, onde o seu espaço é espetacularmente superior aos demais concorrentes.
CAMPANHA DE RUA
A morte da campanha de rua já vinha sendo anunciada desde as últimas três eleições. Corpo a corpo não passa de quimera: os comícios se esvaziaram totalmente, até como evento reservado à militância. A distribuição física da população é tão ampla que jamais alguém conseguirá sequer chegar a uma pequena parte dela a ponto de influenciar ou motivar a decisão de voto com caminhadas e carreatas. Ou cabos eleitorais balançando bandeiras nas calçadas. Tudo isso passou a ser pura perda de tempo e desperdício de recursos.
De que valeram as mais de 200 carreatas promovidas nos municípios, em dois fins de semana, pela campanha de Zé Eliton? As pesquisas publicadas logo após provaram que não serviram para conquistar um reles décimo de ponto. A saída que resta, assim, é o horário eleitoral gratuito, que neste ano compactará todos os candidatos a governador em 9 minutos às 13h16min e 9 minutos às 20h46min, além de pílulas de 30 segundos distribuídas pela programação diária. É insuficiente para que se acredite que daí poderão vir guinadas radicais nas tendências indicadas pelas pesquisas.
Uma dos últimos levantamentos do instituto Serpes, aliás, revela que a esperança de sobrevida dos candidatos com os programas na TV pode ser vã. Em Goiás, o eleitor define o seu voto, mostrou a pesquisa, baseando-se não em uma, mas em diversas fontes de informação, nenhuma predominante. A propaganda eleitoral na TV aparece em 5º lugar, por ordem de importância, merecendo a consideração de apenas 13% dos goianos.
Zé esperava subir nas pesquisas assumindo a governadoria e ganhando exposição. Não subiu. Depois, apostou na campanha de rua. Também não subiu. A militância emedebista no asfalto, para Maguito Vilela, o pai, de Daniel, estava encarregada de alavancar Daniel, “mesmo porque tem capilaridade e se reproduz em todos os municípios”, dizia o ex-prefeito de Aparecida. Qual é? Não aconteceu nada. Daniel está onde sempre esteve, ele e Zé empatados em um melancólico 2º lugar, 30 pontos ou 1.000.000 de votos atrás de Ronaldo Caiado.
DEBATES NEUTROS
Nenhum dos dois fez qualquer referência aos debates e nisso mostraram realismo. Debates, como influenciadores das intenções de voto, são disfuncionais. Saindo-se mal ou bem, cada candidato é considerado como o melhor pelos seus seguidores. Isso torna nulos os seus efeitos. Como são longos e monótonos, perdem público. Daqui até a data da eleição, teremos mais de 10, cada vez mais banais, repetitivos e sem atrativos, resultando em soma zero quanto aos reflexos positivos ou negativos para os candidatos, juntamente com a campanha de rua.
Zé (não sou eu, são os seus marqueteiros que determinaram que assim deve ser chamado) e Daniel têm o dobro ou o triplo do tempo de TV de Caiado, contada participação nos blocos de 9 minutos e as pílulas esparramadas pela programação diária. Isso, dependendo da formatação e do conteúdo adotados, pode nem ser grande vantagem. Lembrem-se todos de que o eleitor está irritado com a classe política. Farto, até. A audiência, com esses condicionantes, tende a ser baixa, ainda mais quando a TV aberta sangra diante dos canais pagos e os de streaming, como a Netflix e uma infinidade de outros.
É muito provável, e a opinião não é só deste jornalista, mas também de um grande número de especialistas em comunicação eleitoral, que o impacto da propaganda gratuita na televisão seja, nesta eleição, o menor da história. Para azar de Zé e Daniel.
(José Luiz Bittencourt, jornalista e autor do Blog do JLB – blogdojlb.com.br)