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OPINIÃO

Lei do Ventre Livre / Lei Rio Branco

A Lei do Ven­tre Li­vre, tam­bém co­nhe­ci­da co­mo Lei Rio Bran­co, foi pro­mul­ga­da em 28 de se­tem­bro de 1871 e de­ter­mi­na­va que os fi­lhos de mu­lhe­res es­cra­vi­za­das nas­ci­dos a par­tir des­ta da­ta fi­ca­riam li­vres, con­for­me cons­ta no pri­mei­ro ar­ti­go:

Nes­te sen­ti­do as leis re­fe­ren­tes à es­cra­vi­dão no Bra­sil fo­ram gra­da­ti­va­men­te im­ple­men­ta­das e a Lei do Ven­tre Li­vre é das mais sig­ni­fi­ca­ti­vas do pe­rí­o­do. Es­ta lei é re­sul­ta­do de am­pla dis­cus­são no par­la­men­to e é apro­va­da na câ­ma­ra con­tan­do com 65 vo­tos fa­vo­rá­veis e 45 con­trá­rios.

Os vo­tos con­trá­rios são aqui sig­ni­fi­ca­ti­vos. O pro­je­to é ela­bo­ra­do pe­lo ga­bi­ne­te do con­ser­va­dor Vis­con­de do Rio Bran­co e, se­gun­do o his­to­ri­a­dor Bo­ris Faus­to a Lei do Ven­tre li­vre não é na­da re­vo­lu­ci­o­ná­ria mas ain­da as­sim cria pro­ble­mas nas re­la­ções com as ba­ses de apoio co­mo os ca­fe­i­cul­to­res. O ca­fé no pe­rí­o­do é um dos prin­ci­pa­is pro­du­tos cul­ti­va­dos e ex­por­ta­dos no pa­ís e sua pro­du­ção se dá a par­tir da uti­li­za­ção da mão de obra es­cra­va.

Já pro­i­bi­do o trá­fi­co de es­cra­vos com a Lei Eu­sé­bio de Quei­rós em 1850, a pro­mul­ga­ção da Lei do Ven­tre Li­vre traz uma no­va pre­o­cu­pa­ção: sem o trá­fi­co ne­grei­ro pe­lo at­lân­ti­co tra­zen­do no­vos su­jei­tos es­cra­vi­za­dos, e os nas­ci­dos em ter­ras bra­si­lei­ras li­vres pe­la lei de 1871 co­mo man­ter o sis­te­ma es­cra­va­gis­ta e a mão-de-obra pa­ra as fa­zen­das de ca­fé?

É pre­ci­so con­si­de­rar aqui que o es­cra­vo é en­tão con­si­de­ra­do mer­ca­do­ria e das mais ca­ras. Um gran­de in­ves­ti­men­to par­te do sis­te­ma es­cra­va­gis­ta e for­ça mo­triz de tra­ba­lho. Des­ta for­ma mui­tos fo­ram os ca­fe­i­cul­to­res e fa­zen­dei­ros des­con­ten­tes com a on­da abo­li­cio­nis­ta que to­ma­va o Bra­sil e as leis que eram re­sul­ta­do das lu­tas po­lí­ti­cas e so­ci­ais.

Mais do que ga­ran­tir a li­ber­da­de aos fi­lhos de mu­lhe­res es­cra­vi­za­das nas­ci­dos após 1871, a Lei do Ven­tre Li­vre ga­ran­tia a tran­si­ção len­ta e gra­du­al pa­ra a mão de obra li­vre, ao tom do que acon­te­cia na Eu­ro­pa, por exem­plo, mo­de­lo de so­ci­e­da­de pa­ra o Bra­sil que se que­ria mo­der­no en­tão.

A lei ga­ran­tia que as cri­an­ças nas­ci­das a par­tir da­que­la da­ta fi­ca­riam sob res­pon­sa­bi­li­da­de dos se­nho­res de su­as mã­es até com­ple­ta­rem oi­to anos de ida­de. Após es­sa da­ta, ti­nham du­as op­ções. Ou re­ce­bi­am in­de­ni­za­ções por par­te do Es­ta­do ou po­de­ri­am uti­li­zar os ser­vi­ços do me­nor até seus vin­te e um anos.

Na prá­ti­ca pou­cos fo­ram os efei­tos da lei. Bo­ris Faus­to afir­ma que pou­cos fo­ram efe­ti­va­men­te en­tre­gues ao po­der pú­bli­co e os se­nho­res do­nos de es­cra­vos con­ti­nu­a­ram a uti­li­zar sua for­ça de tra­ba­lho.

Mais do que ga­ran­tir a li­ber­da­de dos fi­lhos de su­jei­tos es­cra­vi­za­dos no pa­ís a par­tir da da­ta ci­ta­da, a Lei do Ven­tre Li­vre é um acon­te­ci­men­to que re­pre­sen­ta as pre­o­cu­pa­ções do pe­rí­o­do em re­la­ção ao sis­te­ma es­cra­va­gis­ta, em seus mo­men­tos fi­nais. A dé­ca­da se­guin­te – 1880 – é uma das mais em­ble­má­ti­cas na lu­ta con­tra a es­cra­vi­dão e que tem a for­ça do mo­vi­men­to abo­li­cio­nis­ta ca­da vez mais pre­sen­te na so­ci­e­da­de bra­si­lei­ra. Fon­te. In­fo­es­co­la

"Ven­tre Li­vre, uma so­no­ra lei ve­la­da até os di­as de ho­je".

Mes­tre Ari­év­lis

(An­dré Jú­ni­or, mem­bro UBE – Uni­ão Bra­si­lei­ra de Es­cri­to­res)

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