Contra fatos não existem argumentos?

Por Dr. Nelson Silva Pinto

Você já deve ter escutado a expressão: “contra fatos não existem argumentos”. Essa expressão nos ajuda a compreender pontos importantes de nossa cultura, principalmente quando falamos sobre Ciência. A observação empírica e a busca por uma explicação para os fatos observados são o cerne da prática científica. Portanto, cientistas buscam compreender os porquês das coisas, independentemente se nos agradam ou não. Essa concepção é libertadora.

Uma vez que compreendemos um fenômeno, sua explicação não depende de um sistema de crenças para elucidá-lo. Essa lógica nos permitiu avançar em campos importantes, como por exemplo, na eletrônica, física, química, biomedicina e na medicina. Nos permitiu combater muitas doenças e é a lógica usada hoje para buscar uma vacina em tempo recorde para combater a pandemia que nos assola.

Entretanto, existe uma onda de negação de fatos e da própria ciência. Essa negação não se sustenta em argumentações lógicas e racionais. Sustenta-se apenas na ideia de que se algo vai contra um determinado sistema de crenças, deve estar errado. Chamamos esse fenômeno de pós-verdade. Nesse contexto, negam-se os fatos objetivos para favorecer apelos subjetivos e que não necessariamente visam o desenvolvimento humano. Ao negar fatos ou escolher apenas as evidências que sustentam um dado argumento, pode-se distorcer a opinião pública sobre um dado fenômeno.

Esse movimento é particularmente perigoso quando consideramos seu efeito sobre a saúde pública. Podemos citar como exemplo a crescente descrença na ciência por meio do movimento anti-vacina. Essas ações podem ter um efeito negativo, como por exemplo, o aparecimento de vários casos de doenças antes erradicadas. Por isso, é urgente a necessidade de compreender como a negação da ciência pode afetar negativamente nossa vida. Assim, podemos entender que existem aqueles que podem até não aceitar o avanço que a ciência nos proporciona. Mas lembrem-se: contra fatos não existem argumentos.

*Dr. Nelson Silva Pinto
*Professor e Coordenador de Pesquisa e Extensão – UniAraguaia