Ao longo de toda história a mulher exerceu papel de coadjuvante na sociedade, e a mulher negra se encontrava sempre um degrau abaixo em função da escravidão e dos preconceitos decorrentes, mas atualmente a necessidade de se fazer ouvir e inspirar representatividade vem transformando esse cenário.
A candidatura e eleição da vice presidente Kamala Harris, nos Estados Unidos e a possibilidade de ocupar o cargo de presidente futuramente, trouxe consigo diversas repercussões/emoções para as mulheres negras e pertencentes à minorias em todo o mundo, afinal uma mulher negra, de descendência jamaicana e indiana, a frente de uma das maiores potências mundiais e que exerce influência sobre os demais países transpira representatividade, independentemente de seu viés político partidário.
Durante o pronunciamento, suas palavras foram "Embora eu possa ser a primeira mulher neste cargo, não serei a última" e ainda afirmou defender um país de possibilidades. E é disso que precisamos, mais possibilidades, para que mulheres negras ocupem espaços nunca vistos antes e sejam reconhecidas brilhantemente por sua competência, sem sexismo, sem racismo e sem pre-conceitos, dando um basta na ideia de meritocracia e abrindo portas as possibilidades.
No Brasil, as mulheres e negros representam maioria da população, mas no espaço político a predominância é de homens brancos. Esse cenário não espelha a composição social brasileira e suas necessidades, tampouco a representação feminina.
Segundo dados do IPEA no atlas da violência, em média 68% dos homicídios cometidos no Brasil são contra mulheres negras, 8 em cada 13 mulheres mortas por dia são negras. A taxa de homicídios de pessoas negras sofreu um aumento de 11,5% na última década, enquanto a de não negros caiu 12,9% no mesmo período. O que parece estar escancarado é que a carne preta é mesmo a mais barata do mercado, e continuamos morrendo.
Segundo o PNAD contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 20% das mulheres negras têm como ocupação o trabalho doméstico, contra 10% das mulheres brancas,. Nesse sentido mulheres negras têm em média rendimentos mensais equivalentes a pouco mais da metade dos rendimentos de uma mulher branca, o que demonstra uma enorme desvalorização da mão de obra da mulher negra, e o descrédito de suas faculdades e competências para além do trabalho doméstico.
Kamala Harris trouxe consigo, ainda que sem perceber, a esperança de inspirar mudanças em todo mundo. Mostrou que uma mulher preta é tão competente quanto qualquer um, para estar inclusive a frente de uma grande nação.
A construção da identidade da mulher negra é fortemente influenciada pelos estereótipos construídos ao longo do tempo, e exatamente essa visão precária que vulnerabiliza a mulher. Os brancos de hoje não são culpados pela escravidão do povo negro, mas colhem todos os privilégios resultantes dela, e nós negros, carregamos suas cicatrizes. Parafraseando Kamala Harris:
MULHERES NEGRAS, SEJAM AMBICIOSAS EM SEUS SONHOS E OBJETIVOS E LIDEREM COM CONVICÇÃO DOS LUGARES QUE SãO SEUS POR DIREITO.
*Samara Maia de Aquino, aluna do curso de Direito da UniAraguaia. Artigo orientado pela professora Marcela Iossi.