Quem é conhecedor da literatura clássica sabe que o título deste texto foi explicitamente sugado em “A montanha mágica”: um tijolão de mais 800 páginas, de autoria do escritor alemão Thomas Mann. A montanha maligna passa longe do sanatório abordado no livro, o qual é decorrente das observações de Mann durante os meses em que sua mulher ficou internada num sanatório de Davos, na Suíça. Ela tinha tuberculose. Ao contrário do sanatório de Davos, em que os pacientes usufruíam de luxos mais variados, na montanha maligna, a rotina é de fedentina constante. O que é normal por lá.
Toda vez que passo perto da tal montanha maligna, eu me vejo como conteúdo dela. Na verdade, estou me referindo ao aterro sanitário de Goiânia, cuja altura já chega a quase 200 metros. Além de mim, vejo praticamente toda a população de Goiânia presente nela. Igual a mim, que reciclo, inutilmente, meus resíduos, existem milhares de outras pessoas.
Tenho o cuidado em fazer a destinação correta do lixo que gero, colocando nos tambores específicos no andar do meu prédio os materiais recicláveis e os não-recicláveis. Só que essa logística em favor do meio ambiente é quebrada pela administração do meu prédio. Diante disso, todo material que é separado pelos moradores vai embora no caminhão da Comurg, que leva tudo para o aterro sanitário.
E nesse aspecto que reside a malignidade da montanha. Fato resultante do analfabetismo ambiental, que tem gerado o crescimento dela com materiais que não deveriam ter o aterro como destino, mas sim as cooperativas de materiais recicláveis e assim promover uma significante contribuição social e ambiental.
O poder público tem de entrar no circuito, principalmente o Legislativo Municipal, no sentido de criar uma lei que obrigue os prédios a terem dois compartimentos em sua porta: um para recebimento de material reciclável e outro de não-reciclável. Na rua em que moro, assim como no meu prédio, há muitos com um compartimento apenas.
Isso é uma ação de grande urgência para o bem-estar ambiental da cidade. Como também é urgente se promover campanhas educativas de conscientização ambiental com mais intensidade. E havendo necessidade multa, que a canetada fira profundamente o bolso do agressor ambiental.
