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OPINIÃO

Gênero e segurança pública

O gênero não se resume ao sexo com o qual a pessoa nasce, tem ligação com a forma como a pessoa se sente, se enxerga e quais os papeis sociais colocados pela sociedade para o masculino e o feminino.

Mulheres não são naturalmente mais meigas, românticas e frágeis do que os homens, e eles não são mais racionais, insensíveis e corajosos do que as mulheres, entretanto se construiu em nossa sociedade ocidental, patriarcal, burguesa e cristã essa ideologia.

Desde que nascemos nossos corpos são educados para determinados papeis pré-determinados socio-culturalmente, e eles não correspondem a nossa natureza. Uma mulher não nasceu predestina a ser cozinheira, um homem pode gostar tanto de cozinhar quanto uma mulher, o menino é educado a ser aventureiro, insensível e pronto para a vida pública, já a menina é educada para ser dona de casa, sensível e da vida privada.

Numa sociedade patriarcal, onde os homens dominam e criam as leis, regras, ideologias, controlam a sexualidade, a reprodução e as mulheres, há uma relação de desigualdade e domínio de um gênero sobre outro.

Outra questão é que não existe a mulher, mas mulheres, pois a realidade do gênero feminino passa pelas diferenças de idade, classes sociais, sexualidade, etnia, raça etc. A realidade de uma mulher branca e rica não é a mesma de uma mulher pobre, que difere ainda mais de uma mulher favelada e negra.

A mulher transexual passa por situações de LGBTfobia que uma mulher cis as vezes nem imagina, assim como uma mulher lésbica tem obstáculos e sofre violências que uma hétero não sente na pele.

Toda essa complexidade é obnubilada pela falta de compreensão, leitura e por um véu ultraconservador que coloca toda a discussão de gênero como apenas ideológica, imoral e contrária a natureza, religião, aos “bons costumes”.

A falta de sensibilidade e conhecimento acaba entrando pelas portas dos fundos da segurança pública, do judiciário e do Estado, dificultando um melhor atendimento da mulher infratora, da vítima feminina, do acolhimento da mulher transexual, da lésbica, da mulher negra.

Vítimas de estupro muitas vezes são questionados sobre sua moralidade, vestimentas e comportamentos; mulheres trans são vistas como imorais, aberrações e que deveriam ser tratadas como “machos”.

No patriarcalismo as mulheres são tidas como inferiores aos homens, numa sociedade capitalista são mercantilizadas, objetos para sexo, reprodução, trabalho doméstico, prostituição. Se são coisas elas pertencem a alguém, logo podem apanhar, sofrer abusos psicológicos, estupros, agressões e serem mortas.

Em nossa sociedade as mulheres ganham menos do que os homens, as mulheres negras ganham menos do que as brancas e são mais vitimizadas por homicídios/feminicídios.

Sem uma reformulação educacional com estudo de gênero, e uma segurança pública que não se restrinja às prisões não teremos mudanças nesse quadro, que passa por: reformulações dos papeis do masculino e do feminino, de educação, acompanhamento psicológico-de vítimas e autores, de reformulação de políticas públicas, assistência social, monitoramento dos infratores após saída do sistema penitenciário, combate ao racismo e LGBTfobia, mudanças no mundo do trabalho.

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