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OPINIÃO

As terapias doutrinárias da fé

A felicidade é a maior busca ou objetivo do homem. Pode-se afirmar até mais que isto. A felicidade é o que buscam todos os animais terrestres, humanos e irracionais. A dor pode até ser a única realidade inerente à condição humana. Todavia, ninguém ou qualquer bicho vai sair ou viver dando pancadas na cabeça para sentir os infortúnios de uma enxaqueca. Que me desculpe o que disse o filósofo Arthur Schopenhauer. Dor é dor e felicidade é felicidade e pronto. “Não atentamos na saúde geral do nosso corpo, mas notamos o ponto ligeiro onde o sapato nos molesta; não apreciamos o conjunto próspero dos nossos negócios, e só pensamos numa ninharia insignificante que nos desgosta. — O bem-estar e a felicidade são portanto negativos, só a dor é positiva “- Schopenhauer.

Essas lembranças introdutórias são no sentido de falar de toda sorte de atitudes, meios humanos e tecnológicos e expedientes na finalidade de aliviar, de abrandar ou curar os sofrimentos humanos. São muitas as opções de que dispõe a humanidade no combate às dores, sejam estas do corpo (do soma, somático) ou da alma, da psique ou moral interna.

E por falar em dores da alma, dores do espírito e do emocional, é justamente das terapias religiosas e doutrinárias que versará este texto. Temos então as religiões, as seitas, as doutrinas e filosofias. Como exemplos as religiões católicas, as protestantes, neopentecostais. O Xintoísmo, religião majoritária do Japão; o Budismo, sistema religioso e filosófico fundado por Siddhartha Gautama, o Buda; o espiritismo, doutrina fundada pelo francês Allan Kardec (1804-1869).

Qualquer que seja a dor que a pessoa sinta, ela pessoa, irá buscar os meios assistenciais e terapêuticos que lhe aliviem o sofrimento. A dor, este termo aqui empregado, tem múltiplos significados (palavra polissêmica). Assim, a dor ou sofrimento, o desconforto, a angústia nem sempre situam no corpo físico, mas na psique, no emocional, no sistema moral ou, metaforicamente, na alma do indivíduo. Decorre desse sistema interno e abstrato a complexidade e sensibilidade do sofrer humano.

O padecimento então leva o paciente (o que padece, pax, paixão, páthos, doença) a procurar quem lhe possa (entidade, Deus) trazer algum lenitivo ou cura das causas da aflição. Deixemos de considerar todos os recursos terapêuticos propostos pelas Ciências, pela Medicina, Psicologia, Psiquiatria, Fisioterapia e concentremos nas ajudas e promessas das religiões, doutrinas e filosofias. Este o presente artigo.

De plano e imediato, já se registra que todas essas práticas não têm respaldo ou amparo científico. São classificadas como absolutamente leigas no que fazem. O ponto central e fundamentação desses grupos religiosos e/ou doutrinários é a exploração da fé exacerbada das pessoas, dos fiéis, dos seguidores e adeptos desses sistemas e doutrinas. Os condutores ou cerimonialistas desses “rituais terapêuticos” (chamemos assim) em geral são pessoas de excelente articulação retórica, discursivas, convincentes e impressionistas. Todas as técnicas de persuasão e convencimento são empregadas. Os filósofos sofistas (gregos) teriam uma santa inveja, se vivos fossem hoje.

Muitas são as igrejas evangélicas, pentecostais e neopentecostais que oferecem sessões de cura, de descarrego, exorcismo de demônios e outras limpezas e higiene de maus espíritos e energias negativas, azares, caiporismo e urucubacas que atrapalham a prosperidade e bem-estar da pessoa.

E tudo tem um preço. Ao agraciado é prometido sucesso na vida terrena e até o ingresso no céu, no paraíso. Mas, não tão grátis. Porque o beneficiado deve contribuir com os dízimos, vultosas ofertas e até parte do patrimônio. Uma espécie de escambo, ou permuta. A concessão de perdão dos pecados, com uma paga pela indulgência (à moda do antigo Santo Ofício). E sem recibo. Em geral as igrejas não pagam impostos de renda, são isentas desses tributos pelo Estado, que se diz laico.

Uma outra marca dessas assistências religiosas e doutrinas é a exploração da fragilidade e boa-fé das pessoas. Há como que um terror. Ou ela se torna adepta daqueles conselhos e prédicas religiosas ou ela está sujeita às influências do diabo e ter a vida arruinada ainda mais e até condenada ao inferno. E as pessoas mais frágeis e sugestionáveis acreditam. Se tornam venais com esse adestramento e higiene mental. E o Estado Brasileiro, nosso ordenamento jurídico, as leis, os órgãos jurídicos aceitam de bom grado e conformação. Características e heranças do Brasil.

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