69 anos da Comissão Goiana de Folclore
Diário da Manhã
Publicado em 20 de dezembro de 2017 às 00:29 | Atualizado há 7 anos
Izabel Signoreli – A Comissão Goiana de Folclore (CGF) foi criada em Goiânia, no dia 21 de dezembro de 1948, com a finalidade de identificar, “preservar” e incentivar as manifestações folclóricas do Estado valorizando, assim, a memória e origem dos goianos. Com esse perfil trará de volta valores que aos poucos desaparecem de nossas ruas, cidades, povoados e fazendas. Acreditamos ser profundamente necessário não se distanciar de nossa cultura caipira/raízes, sua música, seus cantadores, seus causos e cantos, pois é aí também que mora a verdadeira alma da cultura brasileira. Sem dúvida alguma o Estado de Goiás merece uma atenção maior com relação à preservação de nossas raízes culturais.
Os precursores à frente da Comissão Goiana de Folclore foram: Colemar Natal e Silva, Cônego José Trindade, e Regina Lacerda. Mais tarde vieram outros continuadores para direção da CGF. Na sequência: Maria Augusta Calado, Álvaro Catelan, Bariani Ortencio, Fátima Paraguassú e Izabel Signoreli na atual gestão com a tarefa de buscar, principalmente, descentralizar o conhecimento do folclore por meio da criação de novas Comissões Municipais de Folclore, que já somam três dezenas de filiadas: Palmeiras de Goiás, Inhumas, Petrolina de Goiás, Silvânia, Santa Cruz de Goiás, Santo Antônio de Goiás, Sanclerlândia, Urutaí, Pires do Rio, Itaguari, Uruaçu, Itaberaí, Alexânia, Matrinchã, Caldazinha, Heitoraí, Cezarina, Damolândia, Pirenópolis, Luziânia, Monte Alegre de Goiás, Formosa, Guapó, Nova Veneza, Santa Bárbara, Itauçu, Aparecida de Goiânia, Bela Vista de Goiás e Senador Canêdo.
A CGF foi criada um ano após a instalação da Comissão Nacional de Folclore, sendo a décima-sexta Comissão Estadual. O Presidente da CNF indicava para presidentes das comissões estaduais os secretários de Educação, como foi o caso do versátil Colemar Natal e Silva ser o primeiro em Goiás.
Bariani Ortencio – Histórico – Como surgiu a Comissão Nacional de Folclore. No mês de agosto de 1945 os Estados Unidos, para que o presidente do Japão assinasse o armistício de paz, lançou duas bombas atômicas, uma em Hiroshima, no dia 06 e a outra em Nagazaki, no dia 09. A terceira seria para Tókio, que resultou o fim da Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945).
A ONU (Organização das Nações Unidas), com isso, sentindo a desumanização entre os povos, criou, com sede em Paris, a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação e a Cultura) com a finalidade de garantir a consolidação da paz por meio da cooperação intelectual entre as nações, de onde se originou a Comissão Nacional do Folclore em 1948. Também, no mesmo ano, a Comissão Goiana de Folclore.
Curiosidade – Crônica publicada no O Popular (Crônicas & Outras histórias) em 12 de janeiro de 2002 – Comissão Goiana de Folclore, sobre a evolução do Folclore em Goiás.
“O Folclore em Goiás passará a contar pontos valiosos desde agora, neste começo de ano. Criamos em parceria com o Patrimônio Histórico e Artístico, pelo seu diretor, professor Aguinaldo Caiado de Castro Coelho, o Conselho Consultivo que renderá bons frutos na área do Folclore, com o levantamento de eventos de todo o Estado. Também, em pareceria com a Câmara Municipal de Goiânia, por iniciativa e responsabilidade do eficiente homem público, o vereador Helinho de Brito, criamos a tão esperada Bolsa de Publicações Folclorista Regina Lacerda, com prêmios a cada ano: Literatura Folclórica, Música Folclórica e Artesanato. Haverá publicação das obras premiadas, além de prêmios em dinheiro.
Pronunciamos no ano passado 22 palestras em colégios e entidades culturais, e atendemos em casa vários grupos de estudantes pesquisando o Folclore. Escrevemos várias crônicas sobre a matéria, sendo as últimas: Fogão caipira, A cachaça e suas virtudes, Os doces da cana, O primeiro Natal do terceiro milênio, O segundo Ano Novo do terceiro milênio e Santos Reis e a Folia. Participamos do 9º Congresso Brasileiro de Folclore em Porto Alegre e da 4ª Semana de Integradas-Folclore eTurismo, em Natal. Saiu pela Kelps-Agepel, a quarta edição do livro Cozinha Goiana, com 1200 receitas em 500 páginas. Também está agendada com a Cegraf (UFG), a segunda edição da Cartilha do Folclore Brasileiro (Prêmio da Academia Brasileira de Letras), pela qual os professores (as) do Ensino Fundamental orientem os alunos na iniciação do Folclore. O Rei Cristão das Cavalhadas de Santa Cruz de Goiás, violeiro, cantador e dançador, Alberto da Paz, está ensaiando com os moradores idosos, mais de 20 danças já quase esquecidas. Faremos as gravações em Santa Cruz, para resgatá-las em parceria com a Agepel.
A Comissão Goiana de Folclore (Unesco-Ibecc) estará à disposição das escolas que desejarem adotar a matéria, principalmente as danças, como a catira e o lundum, preservando, assim, as nossas tradições, pois a escola é o canteiro devidamente adubado onde florescem saudáveis as sementes bem escolhidas e bem plantadas.
O progresso desordenado e avançado acabará extinguindo as tradições e o tempo, inexorável, vai acabando com os idosos. É necessária a participação da criançada, da juventude nas festas populares. Os velhos se acabam, mas as crianças crescem, os jovens se adultam e vão mantendo as tradições.
O moderno não se dá bem com o Folclore, mas a onça terá que conviver com o veado e o lobo com as ovelhas, que é o caso do Turismo e o Folclore. O Turismo exige espetáculos, vistosos, visual alterado desvirtua, mas ajuda a preservar o Folclore, que exige cinco itens para que o fato seja folclórico: Tradição, Anonimato, Oralidade, Popularidade e Coletividade. E poderemos acrescentar mais um item, que é a Funcionalidade, porque “o que não é visto não será lembrado”.
Bem exemplo está dando o povoado das Lages, em Itapuranga, cuja Folia de Reis realizou neste sábado o seu 58º giro, visitando 247 residências rurais, girando com foliões de “mamando a caducando”, tendo por festeiros o jovem casal José e Elaine,filhos dos donos da casa, o fazendeiro Vander Cardoso e Dona Nair, onde compareceram no recolhimento da Folia, mais de 500 pessoas, não somente com o intuito da festa, como comumente se dá, mas no mais completo espírito de religiosidade , acompanhando as cantorias e a Tiração do Terço, todos contritos,respondendo, fervorosamente devotos, em respeito aos Santos Reis.
O ponto alto da Folia é sempre o almoço ou a janta, que essa emendou, começando às horas e indo até a noite. As vibrantes e carinhosas companheiras-cozinheiras despejavam os mantimentos de quartas (latas de 20 litros) nos enormes tachos das fornalhas. Os doces-de-leite, de mamão e de cascas de laranjas foram servidos em 04 latas de quartas. E o grande milagre: tudo muito bem temperado, que cozinhar para uma multidão não é fácil. Muita gente ajudando, mas fugindo da regra que “panela em que muitos mexem ou sai salgada ou sai sem sal”.
Foram sorteados livros meus e do antropólogo Jadir Pessoa, um gravador e várias Vale do Cedro, que comandou a introdução do farturento e requintado banquete sertanejo. Os versos comoventes cantados pelos foliões nos obstáculos (arcos enfeitados de bambu e bananeira), na entrada para chegar à Lapinha, onde fora entregue a sacola de donativos arrecadados, e rezado-cantado o Terço, arrancaram lágrimas, principalmente dos festeiros comovidos e de nós, mais idosos. O fundador desta Folia das Lages é o nonagenário (93) Lindolfo Davi Borges que, impreterivelmente, conduz a Bandeira no último dia da chegada. Esperamos que com a graça do Bom Deus e dos Santos Reis, poderemos festejar, daqui a dois anos, as Bodas de Diamante da Folia de Reis das Lages.” Macktub!
(Izabel Signoreli e Bariani Ortencio, escritores)