Brasil

A atormentada literatura de Kafka

Redação DM

Publicado em 2 de agosto de 2016 às 01:30 | Atualizado há 9 anos

Poucos autores da literatura universal construíram obras tão atormentadas quanto o escritor checo Franz Kafka. Como todo escritor acaba sendo um escritor de si mesmo, com Kafka não foi nem um pouco diferente.

Basta observar a relação tensa e amargurada que teve o autor com o pai, cujo resultado esse grande escritor acabou transpondo para duas de suas principais obras-primas: “O Processo” e “A Metamorfose”.

Nesta, o caixeiro viajante Gregor Sansa acorda metamorfoseado de inseto. Inseto na aparência, mas gente por dentro. Única fonte de renda da família Sansa, passa a ser um estorvo para ela. Enquanto vive, a família fica presa à realidade atormentada dele.  A família só se liberta dessa situação quando ele morre. A morte do inseto sinaliza novo futuro para os Sansas. “A Metamorfose” é um relato angustiado, assim como angustiada é toda literatura de Kafka.

Em outra obra-prima dele, “O Processo”, a angústia muda de nome e situação. O angustiado passa a ser o respeitado funcionário, Josef  K, de um banco acusado por um delito. Este, sem saber do que está sendo acusado, passa a ser tratado com distância e desconfiança pelos colegas.

A angústia do acusado aumenta mais ainda quando ele tenta provar sua inocência e defronta-se com uma enorme burocracia em torno do processo que ele nem ao menos sabe se existia. Juízes sem rosto e rejeições silenciosas contribuíam para tortura do personagem, que chegava a ter sintomas de esquizofrenia.

Em cartas ao pai, o autor exterioriza seus tormentos em torno de seu progenitor. “Carta ao Pai” é uma missiva de cem páginas, na qual o autor põe a nu toda sua mágoa com relação ao pai autoritário que ele chama de “tirano”, “regente”, “rei”, “Deus”.

Todas as obras desse homem checo  das letras são construídas mediante  narrativas objetivas, tendo como pano de fundo a realidade vivida pelo autor em torno da realidade do império austro-húngaro.  Faleceu ele ainda muito jovem, sem saber que seria reconhecido como um dos maiores escritores da literatura mundial. Basta ver o quilate dos que beberam nas águas profundas de Kafka para construir suas obras: Jean Paul Sartre, Albert Camus, Gabriel Garcia Márquez e a brasileira, nascida na Ucrânia, Clarice Lispector.

 

(Salatiel Soares Correia, engenheiro, bacharel em Administração de Empresas, mestre em Planejamento Energético e autor, entre outras obras, de Cheiro de Biblioteca)


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