Opinião

A autofagia do PT e do PMDB (I)

Diário da Manhã

Publicado em 5 de abril de 2016 às 03:29 | Atualizado há 9 anos

O processo político brasileiro evidenciou um fenômeno impressionantemente surpreendente: a conduta autofágica do PMDB e do PT. O primeiro se autodesmoralizou a partir do momento em que, no plano nacional, se viu sem condições eleitorais para disputar a Presidência da República. Seu candidato, na primeira eleição direta após o ciclo de governos chefiados por generais de quatro estrelas, em 1990, obteve tão-somente 3% (três por cento) do eleitorado. Sublinhe-se que se tratava do seu nome mais destacado no cenário nacional: Ulysses Guimarães, o “senhor das diretas”, o condutor da Assembleia Nacional Constituinte, o proclamador da Constituição Cidadã. Na eleição seguinte, 1994, elegeu-se Fernando Henrique Cardoso, o qual, tendo conseguido, de modo inescrupuloso e inconstitucional – houve compra de votos para essa consecução e a entrada em vigor já a beneficiar quem exercia o cargo de presidente da República – o instituto da reelegibilidade, reelegeu-se em 1998.

O PMDB ainda tentou a disputa da eleição presidencial em 2002. Perdeu no primeiro turno. O candidato com o qual o partido poderia competir com alguma chance de vitória era o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto. Mas a agremiação peemedebista, em sua convenção nacional, escolheu o ex-governador do Rio Anthony Garotinho. Foi um fiasco eleitoral. E depois disto o partido não mais teve candidato próprio. Em 2002 aconteceu a primeira eleição de Lula, que se reelegeu em 2006. Em 2010 e 2014 o PMDB fez coligação com o PT e participou da chapa encabeçada por Dilma Rousseff com o candidato a vice-presidente. Esse candidato foi Michel Temer.

Nessas composições com o Partido dos Trabalhadores o PMDB foi ultra prestigiado na área do Poder Legislativo, cabendo-lhe a presidência das duas Casas do Congresso Nacional. Hoje a presidência do Senado é exercida por Renan Calheiros e a da Câmara Federal por Eduardo Cunha. A caracterizar a falta de escrúpulos reinante nos meios parlamentares federais, o senador alagoano, que renunciara ao mandato a fim de não ser cassado em razão de grossa corrupção, eleito novamente por Alagoas, viu-se reconduzido à presidência pela maioria senatorial. Na Câmara dos Deputados a direção da Casa foi dada a Eduardo Cunha, atolado até o pescoço em negócios ilícitos, inclusive depósitos clandestinos em bancos da Suíça.

Nos planos estaduais, a falta de conteúdo ideológico e o deslavado fisiologismo de grande número de parlamentares eleitos sob a legenda do PMDB explicam o definhamento crescente das bancadas peemedebistas. De 1982 a 1998, por exemplo, a bancada desse partido em Goiás representava 2/3 da Assembleia Legislativa. Eram vinte e sete deputados. Com a perda da condição de detentor do governo do Estado em 1998, quatro meses após a eleição o partido já havia perdido doze deputados, que aderiram ao governo do PSDB, a fim de desfrutar das benesses do poder. A fragilização peemedebista se viu em processo crescente. Hoje o partido que fora tão majoritário naqueles 16 anos conta apenas com cinco deputados estaduais. E a representação federal, na qual o PMDB tinha 12 dos 17 deputados, está hoje reduzida a dois representantes.

Para que se tenha ideia do que é o fisiologismo, do que é o oportunismo, do que é a ausência de mínimo conteúdo ideológico, vale relembrar que houve deputados peemedebistas que antes de tomar posse já haviam aderido ao governo, cuja eleição eles tanto haviam combatido. Deputados houve do PMDB que esperaram apenas a diplomação para trair o partido e aqueles que os elegeram.

 

(Eurico Barbosa, escritor, membro da AGL e da Associação Nacional de Escritores, advogado, jornalista e escreve neste jornal às quartas & sextas-feiras – E-mail: [email protected])

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