A censura mora ao lado
Redação DM
Publicado em 5 de abril de 2018 às 23:16 | Atualizado há 7 anos
Você é daqueles que pensam que censura é coisa somente de regime militar, da ditadura, monarquia ou sei lá de qual outra forma de Governo absolutista, totalitário? Não se engane! A censura mora ao lado. Ela está bem do seu ladinho, dentro de sua casa, em seu trabalho, no clube que você frequenta, nas igrejas, nas entidades filantrópicas e de classe, hospitais, órgãos públicos, no comércio, nas redes sociais, ruas, escolas… No meio acadêmico então, nem se fala! Muitos ditos “intelectuais” querem pôr panca de liberdade sem respeitar pensamentos diversos. Julgam-se donos do conhecimento.
Tem gente por aí pensando que a censura está restrita àquela mordaça que tentam colocar na mídia, que isso é coisa que acontece só no mundo dos jornalistas, cineastas e artistas. Mas não! A censura mora ao lado.
Vivemos num mundo onde nem sempre querem permitir que falemos o que pensamos. Ou pior ainda: querem nos proibir de pensar, querem nos subjugar, nos empurrar para os shoppings centers da massificação. Preste atenção e perceberá que quando você exercita seu direito de questionar, de analisar as coisas sob suas perspectivas, de formar ideias – mesmo que você não ataque ninguém e respeite a opinião alheia, você vai começar a incomodar muita gente. Alguns chegarão a lhe dizer: “Pô cara! Vê se não enche! Não quero saber dessas suas ideias!”.
O mundo tem seus lapsos de evolução envolvidos em longos hiatos de alienação. Quando, num dado momento da história, pessoas tentam romper paradigmas, são apedrejadas, queimadas, crucificadas, enforcadas, fuziladas, apartadas, isoladas pelos poderosos que manipulam seus fantoches que gritam em uníssono: “Ei! Ééé… você mesmo! Quem você pensa que é para ousar pensar? Você não é ninguém! É igual a mim mesmo! Pessoas como nós não devem usar a cachola. Ponha-se no seu lugar e ao invés de ficar inventando moda com esse negócio de matutar, aceite os conceitos, informações e estilos de vida que os soberanos do mundo já nos vendem! O preço?! Sua vida! Você nasce, cresce, trabalha, reproduz, adoece, vai ser descartado, às vezes até por sua própria família, e depois morre. É assim que a banda toca por aqui! Tem sido assim há um tempão! Por que você agora quer ser diferente? Vê se fica na sua e não se meta com a nossa normose!”.
É lógico que toda esta realidade já acontece num automatismo cognitivo de um sistema que leva as pessoas a se sentirem perturbadas diante do que pode ser diferente. E esse processo vai seguindo sutilmente sua ordem de dominação pautada num mundo alucinado que vai convencendo seus escravos de que são livres.
(Samuel Thomaz, escritor, engenheiro civil e voluntário da Assoproh (Associação de Promoção Humana))